A montanha mágica

sexta-feira, outubro 31, 2003

MOLESKINE


“Kandinsky: origen de la abstracción”


Composition VII

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 31, 2003

LITERATURA


“A arte como arma? – disse-me ele, impregando a palavra «arma» de desprezo e tornando-a ela própria numa arma. – A arte como adoptar a posição certa sobre todas as coisas? A arte como advogada das boas causas? Quem lhe ensinou tudo isto? Quem lhe ensinou que a arte são chavões? Quem lhe ensinou que a arte está ao serviço «do povo»? A arte está ao serviço da arte… caso contrário não existe arte digna de atenção de ninguém. Qual é o motivo para se escrever literatura séria, Mr. Zuckerman? Para desarmar os inimigos do controlo dos preços? O motivo para se escrever literautura séria é escrever literatura séria. Quer rebelar-se contra a sociedade? Pois eu digo-lhe como deve fazer… escrevendo bem. Quer lutar por uma causa perdida? Então não lute pelas classes trabalhadoras. Elas vão acabar bem. Vão consolar-se com belos carros, o trabalhador vencerá… da sua negligência brotará a zurrapa que é o destino cultural deste país filisteu. Em breve teremos neste país algo bem pior do que o governo dos operários e dos camponeses… teremos a cultura dos operários e dos camponeses. Quer lutar por uma causa perdida? Então lute pela palavra. Não a palavra rebuscada, não a palavra inspirada, não a palavra pró-isto e antiaquilo, não a palavra que propagandeia junto dos cidadãos respeitáveis a pessoa maravilhosa, admirável e compassiva que o senhor é, sempre ao lado dos desprivilegiados e oprimidos. Não, lute pela palavra que diz aos poucos homens cultos condenados a viver na América que o senhor está do lado da palavra! Esta sua peça é uma borrada. Um pavor. De meter raiva. Uma borrada tosca, primitiva, simplista e propagandista. Ofusca o mundo com palavras e tresanda ate mais não às suas virtudes. Nada na arte tem um efeito mais sinistro do que o desejo do artista provar que é bom. A terrível tentação do idealismo! Tem de aprender a dominar o seu idealismo e as suas virtudes tanto quanto os seus vícios, aprender a dominar esteticamente tudo aquilo que, em primeiro lugar, o leva a escrever: a sua indignação, a sua política, a sua mágoa, o seu amor! Comece a pregar e a ocupar posições estratégicas, comece a olhar a sua própria perspectiva como superior e está acabado como artista, acabado e ridicularizado. Porque escreve estas proclamações? Porque olha em redor e fica «chocado»? Porque olha em redor e fica «comovido»? As pessoas desistem com demasiada facilidade e fingem sentimentos. Querem sentimentos imediatos, e o «choque», a «comoção» são os mais fáceis. E os mais estípidos. Salvo raras excepções, Mr. Zuckerman, o choque é sempre fingimento. Proclamações. A arte não se presta a proclamações! Queira levar esta adorável cagada para fora do meu gabinete, por favor.”

ROTH, Philip (trad. Ana Maria Chaves), “Casei com um comunista”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, p.p.250 e 251.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 31, 2003

quinta-feira, outubro 30, 2003

zone



1953-54.


Philip Guston


posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 30, 2003

"meditações sobre…" I


“1 – O verdadeiro caminho passa sobre uma corda que não está estendida no espaço, mas quase ao rés do chão. Parece destinada a fazer tropeçar e não a ser percorrida.

2 – Todas as culpas humanas são impaciência, uma ruptura prematura do esforço metódico: fixa-se sobre um suporte aparente o objecto aparente.

3 – Há dois pecados humanos capitais dos quais derivam todos os outros: a impaciência e a preguiça. Por causa da impaciência, foram expulsos do Paraíso. Por causa da preguiça não regressam lá. Talvez não haja mais do que um pecado capital, a impaciência. Por causa da impaciência foram expulsos, por causa da impaciência não regressam lá.

4 – Numerosas são as sombras dos desaparecidos ocupados em lamber as vagas do rio dos mortos, porque começa em nossa casa e tem ainda o gosto salgado dos nossos mares.
Então, com um movimento de desgosto, o rio respira e, tomando um curso contrário, reconduz os mortos à vida. Eles entretanto regozijam-se, entoam cantos de acção de graças e acariciam o indignado.

5 – A partir de um certo ponto deixa de haver regresso. É esse ponto que é necessário atingir.

6 – O instante decisivo da evolução humana dura sempre. Eis por que os movimentos espirituais e revolucionários declaram nulo tudo o que os precede produzido outrora, fazem-no com razão porque ainda nada foi.”


KAFKA, Franz (trad. Alfredo Margarido), Antologia de Páginas Íntimas”, Lisboa, Guimarães Editores, 1997, p.p. 143 e 144.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 30, 2003

quarta-feira, outubro 29, 2003

literatura e cinema



philip roth










nicole kidman



posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 29, 2003

LITERATURA E CINEMA




"Nicole Kidman, femme de méninges
La comédienne australienne est l'héroïne de "la Couleur du mensonge", adaptation très réussie du roman de Philip Roth "la Tache". Comme lors de sa précédente apparition dans "Dogville", elle y incarne une femme de ménage confrontée aux drames du secret et de la mort. Rencontre avec la plus populaire et la plus intellectuelle des actrices hollywoodiennes."

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 29, 2003

MÚSICA

dois amigos falaram-nos sobre este triplo álbum. dois amigos chamaram-lhe um tratado sobre lovesongs. 69 mais precisamente. três amigos estão de acordo. simplesmente brilhante. bravo stephin merritt.

Magnetic Fields




You are a splendid butterfly
It is your wings that make you beautiful
And I could make you fly away
But I could never make you stay
You said you were in love with me
Both of us know that that's impossible
And I could make you rue the day
But I could never make you stay

Not for all the tea in China
Not if I could sing like a bird
Not for all North Carolina
Not for all my little words
Not if I could write for you
The sweetest song you ever heard
It doesn't matter what I'll do
Not for all my little words

Now that you've made me want to die
You tell me that you're unboyfriendable
And I could make you pay and pay
But I could never make you stay

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 29, 2003

POESIA





No próximo dia 30, quinta-feira, pelas 22 horas, na Livraria Eterno Retorno terá lugar um recital de Poesia por António Poppe.

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 29, 2003

terça-feira, outubro 28, 2003

numa banca de jornais, mesmo ali ao lado


1. O filme Veludo Azul de David Lynch, em VHS, por 3, 90 euros.


2. O livro A Curva do Rio, de Vidiadhar Surajprasad Naipaul, por mais 4,25 euros com o Diário de Notícias.



posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 28, 2003

A poesia vai acabar?



As fotografias da capa e separadores são do Mário Filipe Pires

Paginação e concepção: Cristina Fernandes

1ª edição electrónica: Outubro de 2003




posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 28, 2003

do Mestre d`A Casa Encantada (6)


CINEMA E PINTURA III


Vertigo de Alfred Hitchcock, (1958).





"Duas mulheres que são uma só e um homem que numa procura recriar a imagem que tem da “outra”. Diz-se que Hitchcock só filmou histórias de amor. Se dúvidas houvesse, VERTIGO dissipava-as. É só a paixão (que chega à própria necrofilia) que motiva o personagem desta obra-prima de Hitch. O crime, a intriga policial, aqui, não são mais do que o clássico macguffin, de tal modo que o espectador se esquece que o crime fica sem castigo. O saber de Hitchcock iludiu todas as censuras."


The Big Trail (A pista dos gigantes), de Raoul Walsh, (1930).



"Um dos três filmes que em 1930 exploraram um ecrã largo (entre os 70mm e o Cinemascope), experiência que foi interrompida até 1953. Dos três filmes (BILLY THE KID de King Vidor, THE BAT WHISPERS de Roland West e THE BIG TRAIL), o de Walsh é o o que melhor tira proveito das potencialidades do novo meio, aplicando o ecrã largo como sucedâneo das panorâmicas para acompanhar a grande caravana de carroças, em que um grupo de pioneiros procura a Terra Prometida, e a forma como ela se integra na paisagem."


D`Est de Chantal Akerman, (1993).



"Um documentário semi-ficcional sobre as transformações do quotidiano que se verificam então nos países de Leste, da RDA à Rússia. Influenciado pelo estruturalismo e minimalismo, o filme é uma espécie de diário da viagem, de recordações e pessoas, com a realizadora organizando uma espécie de oposições, também sobre as estações e o tempo."


Les Dames du Bois de Bologne de Robert Bresson, (1944).



"Depois de Giraudoux, Bresson escolheu Jean Cocteau como colaborador para esta adaptação de Diderot, LES DAMES DU BOIS DE BOLOGNE, história de vinganças amorosas, encenações maquiavélicas e arrependimentos. Foi o filme que consolidou a reputação de Bresson, valendo-lhe, entre outros, rasgados elogios de André Bazin."


Anemic Cinema de Marcel Duchamp, (1925).



"ANEMIC CINEMA, famosa curta-metragem de Marcel Duchamp, é um “ensaio” filmado e provocante em que o autor põe em causa as próprias regras admitidas e aplicadas pelo cinema."


Les Mystères du Chateau de Dé de Man Ray, (1929).





"LES MYSTÈRES DU CHATEAU DE DÈ é um clássico do cinema de vanguarda e foi inteiramente filmado na mansão modernista que Mallet-Stevens concebeu para os Viscondes de Noailles, ricos mecenas que financiaram LE SANG D`UN POÈTE de Jean Cocteau e L`AGE D`OR de Buñuel."


Vremena Goda de Artavadz Pelechian, (1972).

"VREMENA GODA, de Pelechian, retrata cenas da vida no campo, dos seus trabalhos e festas."


texto in programação da cinemateca, Janeiro de 2002.

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 28, 2003

segunda-feira, outubro 27, 2003

MOLESKINE


Paul Klee - late work


Death and Fire, 1940.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 27, 2003

BLOGOSFERA

De visita ao Saudades de Antero , outro blogue escrito a partir de uma das mais belas cidades deste nosso Portugal, Évora, lemos entre muitos outros assuntos "A história simples".

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 27, 2003

Sentado debaixo do grande terebinto XXII

"- O que eu receava – irrompeu Jacob com uma voz que a dor diminuíra, tornando-a mais aguda e meio abafada – o que eu receava desabou sobre mim, aconteceu o que eu temia. Compreendes isto Eliezer? Podes concebê-lo? Não, não, não se pode conceber que suceda exactamente o que se temia. Se eu não o tivesse temido e isto tivesse inopinadamente caído em cima de mim, eu acreditaria e diria ao meu coração: foste irreflectido, não evitaste o mal porque não o viste a tempo de o evitar. Sabes, na surpresa pode-se acreditar. Mas que aconteça o que se tinha previsto e se desdenhe deixando que aconteça, é um horror com que eu não concordo!
- Nas provações que Deus manda aos homens não há acordos prévios – retorquiu Eliezer.
- Não, por direito, não. Mas pelo sentimento humano que tem também a sua razão e a sua revolta! Para que foi dado ao homem o medo e a precaução, senão para conjurar o mal, para tirar a tempo ao destino os maus pensamentos e os pensar ele próprio? O destino então inquieta-se, também se envergonha e diz de si para si: «São estes ainda os meus pensamentos? Se são pensamentos humanos, não quero mais saber deles.» Mas que será do homem, se a precaução já não lhe serve para nada, se ele teme em vão e teme com razão? Ou como pode um homem viver, se já não pode esperar que as coisas aconteçam diferentemente do que pensa?
- Deus é livre – disse Eliezer."

Thomas Mann, “O jovem José”.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 27, 2003

domingo, outubro 26, 2003

Vargas Llosa em Portugal

E o Público falou e o Dn falou e a rádio falou e a televisão falou e outros falarão ainda e alguém se precipitou e houve catadupa.
Fomos nós.
O seu a seu dono. Parabéns pelas reportagens.
Tem razão Nelson de Matos.

posted by Luís Miguel Dias domingo, outubro 26, 2003

para os intrusos



"Scénariste de Fellini, Antonioni, Rosi, Tarkovski, Angelopoulos, cette légende du cinéma italien, féru de poésie, voit son livre pour enfants, situé en Russie, adapté en un joli dessin animé.

Quatre-vingt-trois ans, quatre-vingt-treize films : Tonino Guerra, scénariste illustre mais "poète avant tout", n'a pas chômé au long de son existence haute en couleur. Il a signé trois films pour Federico Fellini, près d'une dizaine pour Michelangelo Antonioni et Theo Angelopoulos.

Et Tonino Guerra d'éclater de rire. "Antonioni a dû trouver une autre fin, plus joyeuse d'ailleurs." Laquelle ? Il faudra attendre, pour le savoir, la sortie d'Eros, en 2004 sans doute."



posted by Luís Miguel Dias domingo, outubro 26, 2003

HOMENAGEM



"«E agora, José?
[…] você marcha, José!
José, para onde?»

Carlos Drummond de Andrade


Ainda hoje estou a ouvir aquele «é». Espantoso como bruscamente o meu eu se transformou ali noutro alguém, noutro personagem menos imediato e menos concreto.
Nesta introdução à perda de identidade que um transtorno do cérebro tinha acabado de desencadear, o que me parece desde logo implacável e irreversível é a precisão com que em tão rápido espaço de tempo fui desapossado das minhas relações com o mundo e comigo próprio. Como se acabasse de dar início a um processo de despersonalização, eu tinha-me transferido para um sujeito na terceira pessoa (Ele, ou o meu nome, é) que ainda por cima se tornava mais alheio e mais abstracto pela imprecisão parece que..Além disso, a circunstância de ter respondido à Edite com o apelido e não com o meu primeiro nome, o mais cúmplice entre marido e mulher e o único que nos era natural, é outro indício do distanciamento provocado pelo golpe de azar que me destituíra de memória e de passado.
Ele, o Outro. O outro de mim. Em menos de nada, já a Edite falava ao telefone com os médicos sobre esse alguém impessoal que eu estava a começar a ser. Ouvia-a do meio do hall em grande serenidade. Sabia, tenho essa ideia, que alguma coisa se estava a passar comigo, uma coisa oculta, activa, mas nessa altura já principiava a ouvir e a sentir só de passagem, sem registar. (Mesmo assim tinha algum conhecimento da ansiedade que me rodeava: Isto não vai ser nada, creio ter dito à Sylvie quando a descobri no corredor, atenta aos telefonemas da Edite.)
Lembro-me de que essa manhã foi invadida por um aguaceiro desalmado, ouvia-se uma chuva grossa e pesada lá fora mas deve ter sido passageira porque quando acabou a Edite ainda estava ao telefone. A partir de então tudo o que sei é que me pus ao espelho da casa de banho a barbear-me com a passividade de quem está a barbear um ausente - e foi ali.
Sim, foi ali. Tanto quanto é possível localizar-se uma fracção mais que secreta de vida, foi naquele lugar e naquele instante que eu, frente a frente com a minha imagem no espelho mas já desligado dela, me transferi para um Outro sem nome e sem memória e por consequência incapaz da menor relação passado-presente, de imagem-objecto, do eu com outro alguém ou do real com a visão que o abstracto contém. Ele. O mesmo que a mulher (Edite, chama-se ela mas nada garante que esse homem ainda lhe conheça o nome, que não a considere apenas um facto, uma presença) exacto, esse mesmo Ele, o tal que a Edite irá encontrar, não tarda muito, a pentear-se com uma escova de dentes antes de partirem de urgência para o Hospital de Santa Maria e o mesmo que, dias depois, uma enfermeira surpreenderá em igual operação ao espelho do lavatório do quarto.
Dias depois, quando?
Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é passado morto. Perde-se a vida anterior. E a interior, bem entendido, porque sem referências do passado morrem os afectos e os laços sentimentais, E a noção do tempo que relaciona as imagens do passado e que lhes dá a luz e o tom que as datam e as tornam significantes, também isso. Verdade, também isso se perde porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não só possa ser medido como sentido. Assim, ao ver o meu Outro eu a pentear-se com uma escova de dentes num quarto de hospital (conforme me contaram depois) pergunto-me quantas vezes lhe aconteceu aquilo e logo de instante vejo uma enfermeira a aparecer-lhe por trás e a trocar-lhe a escova pelo pente, sem um comentário, sem uma palavra sequer, pura e simplesmente na prática de quem executa uma rotina. E ele a obedecer-lhe sem a menor resistência, ele como que a cumprir a parte que lhe compete nessa rotina. Sempre este jogo?, pergunto.
Talvez. É possível que a aceitação apática do erro se devesse à sua incapacidade mnemónica de relacionar - e portanto de questionar. Possível. Para ele, agora ou ontem tudo era outrora, mundo alheio ou como tal. E desinteresse. O constante e desinteressado desinteresse do homem desabitado de pessoas e de lugares, de tempo e de sentimentos.
Apatia, nesse caso? Nesta fase do processo admito que não se tratasse propriamente de apatia, os médicos é que poderão dizer. Que eu saiba, ele ao princípio sabia-se doente. Ou teria uma percepção limiar da impossibilidade de se conjugar com os outros, uma impossibilidade com a qual convivia numa aceitação natural. Recordo-me até de que ao observar uma coisa que lhe chamasse a atenção a punha instintivamente de parte porque tinha como certo que um segundo depois a iria esquecer.
Ouvir e perceber enquanto ouvia mas apagar prontamente, era o traçado em que ele se movia. Ouvir e apagar logo-logo. Apagar. E ver, ver também contava. Ver pessoas (figuras) através dum vidro mudo e perdê-las acto contínuo. Tudo sem angústia, como quem preenchesse o tempo numa serenidade terminal. Como quem, na desertificação que o invadia, fosse avançando para a morte cerebral num cenário de contornos indiferentes.
Nas Poesias de Drummond de Andrade que tenho acolá na estante, José marchava. Mas para onde, José?"

PIRES, José Cardoso, “De Profundis Valsa Lenta, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997, p.p.23-26.

posted by Luís Miguel Dias domingo, outubro 26, 2003

sábado, outubro 25, 2003

ÁFRICA


Edo, Benin, Nigeria, Testa di Regina Madre; Dan, Costa d’Avorio, Maschera.

"Da quasi un secolo la civiltà occidentale ci ha abituati a guardare all’art nègre come a quell' arte ‘primitiva’ da cui i grandi artisti delle avanguardie del Novecento hanno tratto una straordinaria fonte di ispirazione.
Eppure il concetto stesso di arte ‘primitiva’ che sottende a un prima e un dopo non appartiene alla cultura africana. In Africa il migliore dei mondi possibile è già esistito, caratterizzato dalla perfetta coesione e armonia di tutte le componenti del cielo e della terra di cui l’uomo è uno degli elementi."



posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 25, 2003

ENTREVISTA



A entrevista completa a Lars von Trier pode ser lida aqui.

–"¿Por qué la venganza, un tema ademas muy poco danés?

–Sí, es un tema completamente nuevo para mí, y quizá por ello me interesaba. En la obra de Kurt Weil Los tres peniques, hay una canción, Pirate Jenny, con mucha intensidad que habla de la venganza, y ése fue el punto de partida del filme. Siempre me he sentido seducido por las terribles palabras de venganza de la canción [y tararea]: “me preguntaron cuántas cabezas caerían y el silencio envolvió el puerto cuando dije: todas...”. Todo comenzó cuando iba con el actor principal de Los Idiotas en un coche escuchando esa canción interpretada por Sebastian, un cantante pop danés [el cineasta adora la música pop], y le aseguré que podría hacer un filme sobre la venganza. Una construcción terrible que mostrase las consecuencias últimas. Y contrariamente a Dinamarca, en América la venganza es un tema muy presente. Finalmente, creo que lo que me ha inspirado es el injusto sistema judicial norteamericano, contra el que ya hablé en Bailar en la oscuridad.

–Venganza que lleva a cabo una mujer.

–Creo que la venganza femenina es más divertida de tratar que la masculina. Es extraño, pero creo que las mujeres interpretan y expresan mejor esa parte. La venganza en un hombre se convierte en crueldad y brutalidad. En una mujer, es sutileza, sangre fría."

posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 25, 2003

BLOGOSFERA

O Mephisto , é mordaz e não vai deixar ninguém em paz.
também não é suposto deixar, pois não?

posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 25, 2003

PRÉMIO

A Relógio D'Água informa que:

"Prémio Pen Club de Tradução, para Folhas de Erva.

O prémio de tradução do Pen Club, referente a 2002, acaba de ser atribuído a Maria de Lourdes Guimarães, pela obra Folhas de Erva, de Walt Whitman, editada pela Relógio D'Água.

O júri foi formado por Casimiro de Brito (Pen Club), Anabela Rita (Associação Portuguesa de Tradutores) e Ana Hatherly. O prémio, concedido por unanimidade, será entregue, sábado, dia 25 de Outubro, pelas 17h no Forum Picoas, em Lisboa."

posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 25, 2003

sexta-feira, outubro 24, 2003

BLOGOSFERA

será preciso pedir aos senhores intrusos , para não se despedirem assim tão repentinamente, tão rapidamente? e as repercussões? e as reverberações?
se sim, nós pedimos. não, não se vão já embora que o Outono ainda agora começou e adivinha-se um inverno muito frio, em Portugal, França e Itália. logo agora que estavamos habituados à braseira... nesta camila.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 24, 2003

ESCULTURA


una visión histórica a través de los tres periodos definidos de la obra escultórica del consagrado pintor Henri Mattisse (1869-1954).


Le Tiaré, 1930;Madeleine II, 1903.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 24, 2003

Por volta das 21horas escrevemos esta pequena indignação:

Está em Portugal? e …

Imaginemos, por momentos, que Mario Vargas Llosa tinha sido, este ano, laureado com o prémio nobel da literatura. E vinha a Portugal, e vinha apresentar o seu mais recente livro, e vinha para ficar quatro ou cinco dias e logo adivinhávamos a catadupa de convites e capas de jornais e revistas.

Mas Vargas Llosa não foi o laureado e veio a Portugal e não choveram capas de revistas e veio apresentar o seu mais recente livro e não houve catadupa. E Vargas Llosa veio por quatro ou cinco dias e ainda vai estar durante o fim de semana no Porto e vai para Washington a seguir.

E o Público falou e o Dn pouco falou (quiçá o Dna na grande entrevista) e, quem sabe, a Clara falará… mais uma vez. E na rtp, não merecia uma grande entrevista?

“O escritor peruano - cujo nome figurou entre os mais apontados como candidatos sérios ao Prémio Nobel da Literatura deste ano - não descarta a possibilidade de a literatura "se converter nalguma coisa de marginal, relegada cada vez mais como actividade minoritária, e desenvolvida em catacumbas". Se assim acontecer, "haverá um grande empobrecimento da Humanidade", preveniu. "E será por nossa causa, porque a literatura deve fazer parte da vida das famílias e dos programas de ensino a todos os níveis".”

Mesmo aceitando a sua função de entretenimento, avisou que a literatura não pode ser só divertimento. "Se o fosse, seria ultrapassada por outras formas mais eficazes. Não pode competir com a televisão e o cinema", disse. "A riqueza não são as imagens. São ideias materializadas em palavras que se dizem nos livros".

O livro de literatura, prosseguiu o escritor, é imprescindível para ensinar a falar as pessoas. "O vocabulário, os matizes, as subtilezas dão-os a boa literatura, que é aquela que mantém um alto nível de criatividade, daquilo que é diferente, do que não temos e com que sonhamos". Uma das superioridades da literatura, concluiu, é a "vocação crítica, que os audiovisuais não têm ou têm domesticada".”

in público

Agora, por volta das 0h13m, estamos deliciados. Muitos parabéns rtp e muitos parabéns Judite de Sousa. Obrigado.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 24, 2003

“O Homem Português” 3


O Português: o povo e as «élites»

“Desde Alcácer Quibir faltam o que na tropa se chama quadros – faltam élites. A massa é a mesma: do Vouga para cima, uma gente que conserva quase todas as qualidades de fidelidade, de resignação, de sobriedade; do Vouga para baixo, os mesmos homens, mais ou menos pintados de branco. É a linha divisória, onde tudo muda – costumes, tradições, festas. Extraordinário pequeno povo, com o qual foi possível fazer-se história admirável! Passou fome, dizimaram-no as pestes. A anos estéreis sucediam-se anos estéreis. Trabalhos forçados. E do passado não nos chega uma queixa. «A distinção notada pelos estrangeiros – diz Teófilo Braga -, entre a população portuguesa do Norte e do Sul, explica-se pelo facto de sobre esse fundo ibérico se cruzar no Norte o elemento árido, ao passo que no Sul estacionou o elemento semita.» - O antagonismo entre Lisboa e Porto explica-se também por uma questão de raça. Ao passo que o semita, no Sul, queimava gente aos molhares, nunca foi possível fazer no Porto um auto-de-fé. Dava a minha vida para fazer a história deste povo e para demonstrar a importância do trabalho dessas massas obscuras colaborando na evolução das formas sociais, que às vezes me aparecem em todo a sua nudez. Pobre desgraçado país, que sem dinheiro e com uma população diminuta, depois de correr mundo, colonizou o Brasil, coloniza a África e faz todos os dias esforços inconscientes e extraordinários para encontrar um caminho. Foi sempre o que é hoje, capaz de todos os sacrifícios, com tanto que haja quem o dirija e se sinta enquadrado. Galegos e mouros, berberes e pretos, tudo marcha, desde que apareça quem marche á sua frente. No Brasil, o seu trabalho é extraordinário: - ainda hoje a gente fica surpresa com o português do Rio Grande, cheio de nobreza, a que Garibaldi se refere nas Memórias. E na América? Não é um americano, Jack London, quem afirma que o português (o açoriano) vale mais e melhor que o americano, a quem conquista, passa a passo, o solo da Califórnia?

Porque não dá resultado o esforço de Pombal? Porque é o nosso soldado péssimo ou óptimo, conforme os chefes? Não se bate e desorganiza tudo – mas vem Beresford e os oficiais ingleses e passa logo a ser, segundo Napoleão, dos melhores soldados do mundo. Portugal é uma pátria porque, para ter uma pátria, o essencial é merecê-la, e nós temo-la merecido, mais e melhor, do que muitos dos grandes países desse mundo.

O que é preciso é criar quanto antes novas élites. Diga-se tudo: as nossas últimas convulsões são uma luta inconsciente de sangue que procura um ideal e não o encontra. A maior tragédia passa-se na obscuridade e no silêncio, entre fantasmas que se querem impor, para viverem outra vez… Para os vencer e dominar, caminhando, não para o ideal antigo mas, ao menos, para a mercearia bem ordenada, de que falava Junqueiro, é necessário criar rapidamente novas élites. Não élites que nos subjuguem – mas élites que nos conduzam para a beleza e para a justiça…”

Raul Brandão

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 24, 2003

quinta-feira, outubro 23, 2003

FOTOGRAFIA


Associated Press; A distinctive skyline silhouette at twilight, created by Frank Gehry.

in www.nytimes.com

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 23, 2003

dois dias, três fulgurações


primeira: “i see a darkness”. lábios e voz, vindos do interior americano, de vinho do porto, derramados, gravados, em páginas de ouro: may it always be / a king at night.
no regresso a casa... ease down the road.

segunda: depois de uma passagem furtiva, onde apenas nos pareceu, a espera nas escadarias de acesso, confirmou-nos. era mesmo ela. bela! não, ainda não a vimos na tela com a filha pela mão, junto ao pártenon. foi mesmo nas escadarias do coliseu.

terceira: de onde vem aquela voz? aquele despojamento? naqueles momentos, onde fixa o olhar? entretanto... esperamos pela lua. pode ser? pode vir antes das 4.48? entretanto, a chuva fustigava a cúpula do coliseu. sometimes it hurts.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 23, 2003

"O Espelho"


Aproveitando a boleia da Cristina , e dedicado ao Kleist , aqui ficam estas deliciosas palavras de Tarkovski sobre Kleist:

“No teatro, como Kleist certa vez observou, com muita profundidade, representar é como esculpir na neve. O ator, porém, tem a felicidade de comunicar-se com seu público em momentos de inspiração. Não há nada mais sublime do que essa harmonia entre ator e público, quando eles criam arte juntos. O desempenho só existe na medida em que o ator ali está como criador, quando ele esta ´presente, quando está física e espiritualmente vivo. Sem atores, não existe teatro.
Ao contrário do ator de cinema, cada ator de teatro precisa construir seu próprio papel interiormente, do começo ao fim, sob orientação do realizador. Ele deve desenhar uma espécie de gráfico dos seus sentimentos, subordinado á concepção integral da peça. No cinema, não se admite essa elaboração introspetiva do personagem; não cabe ao ator tomar decisões sobre a ênfase, o tom e a modulação da sua interpretação, pois ele não conhece todos os componentes que farão parte da composição do filme. Sua tarefa é viver! – e confiar no diretor.”

“Esculpir o Tempo”, Tarkovski.

Nas palavras da tribo , que foram ver O Espelho, pode ler-se:

“Ontem eu e a ramos fomos ver "O Espelho", em russo, "Zerkalo"

e a terra respondeu-nos ao ouvido: frágil como um pássaro acabado de nascer, uma criança de cabelo rapado.
mp”

Quanto ao António , belo texto, e para além do segredo, diz, acerca de Tarkovski que, “O melhor do seu cinema não é dito. E muito menos visto. É o que perseguem, o que se persegue…”

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 23, 2003

Maurice Pialat - peintures


Huile sur toile - 1942-1947

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, outubro 23, 2003

quarta-feira, outubro 22, 2003

FOTOGRAFIA


Le pape accueille 31 nouveaux cardinaux

in www.liberation.fr

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 22, 2003

LITERATURA


“Homens que podiam falar de beisebol e de boxe enquanto falavam de livros. E que falavam de livros como se algo estivesse em jogo num livro. Não abriam um livro para o adorarem, para se sentirem elevados por ele ou para se envolverem nele a ponto de esquecerem o mundo em redor. Não, tratavam um constante combate com o livro.
- Porque … - disse eu – não é costume pensar na nossa alma como uma prostituta.”

ROTH, Philip (trad. Ana Maria Chaves), “Casei com um Comunista”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001.

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 22, 2003

"O Espelho", de Andrei Tarkovski, na Janela Indiscreta III


Leonardo da Vinci, Ginevra de' Benci, c. 1474.

“Vejamos, agora, o retrato feito por Leonardo da Jovem com um Ramo de Zimbro, que usei em O Espelho, na cena do breve encontro do pai com os filhos, quando ele vem para casa em licença.
Há nas imagens de Leonardo duas coisas fascinantes. Uma delas é a extraordinária capacidade do artista examinar o objeto de fora, do exterior, com um olhar que paira por cima do mundo – uma característica de artistas como Bach ou Tolstoi. A outra consiste no fato de o quadro nos atingir simultaneamente de duas maneiras opostas. É impossível exprimir a impressão final que o quadro produz em nós. Nem mesmo é possível dizer com certeza se gostamos ou não da mulher, se ela é simpática ou desagradável. Ela é ao mesmo atraente e repugnante. Há nela algo de indizivelmente belo e ao mesmo tempo repulsivo, satânico; satânico, porém, não no sentido romântico e sedutor do termo – trata-se, pelo contrário, de algo para além do bem e do mal, de fascínio com um signo negativo. O retrato tem um elemento de degeneração – e de beleza. Em O Espelho, precisávamos dele pra introduzir um elemento atemporal nos momentos que se sucedem uns aos outros diante dos nossos olhos e, ao mesmo tempo, para confrontar o retrato e a heroína, enfatizando nela e na atriz, Margarita Terekhova, a mesma capacidade de ser simultaneamente encantadora e repugnante…
Se tentarmos analisar o retrato de Leonardo, decompondo os seus elementos, a tentativa não funcionará. Ou, de qualquer modo, não explicará nada, pois o efeito emocional exercido sobre nós pela mulher retratada é poderoso exatamente por ser impossível descobrir nela qualquer coisa que possamos privilegiar de modo definido, é impossível extrair qualquer detalhe do contexto geral, destacar quaquer impressão momentânea em detrimento de outra e fazê-la nossa, ou chegar a um equilíbrio quanto à maneira de olhar a imagem que nos é apresentada. E assim, abre-se diante de nós a possibilidade de uma interação com o infinito, uma vez que a grande função da imagem artística é ser uma espécie de detector do infinito… em direção ao qual nossa razão e nossos sentimentos elevam-se num ímpeto alegre e arrebatador.
Este sentimento é despertado pela integridade da imagem: ela nos atinge precisamente pelo fato de ser impossível decompô-la. Considerada isoladamente, cada uma de suas partes estará morta – ou, pelo contrário, o elemento mais íntimo talvez revele as mesmas características da obra completa e acabada. (…)
Muitas são as coisas que podemos ver no retrato, e, ao tentarmos apreender-lhe a essência, vagaremos por labirintos sem fim, sem jamais encontrarmos a saída. Encontraremos grande prazer na constatação de que não podemos exauri-lo ou esgotá-lo. Uma verdadeira imagem artística oferece ao espectador uma experiência simultânea dos sentimentos mais complexos, contraditórios e, por vezes, mutuamente exclusivos.”

Tarkovski, “Esculpir o Tempo”.

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 22, 2003

terça-feira, outubro 21, 2003

Na última revista LER, número 60: excelente entrevista realizada por Carlos Vaz Marques , a Agustina Bessa-Luís. As fotografias, belas, são de Luísa Ferreira. Pode ainda ler-se um artigo sobre blogues, da autoria de Nuno Ramos de Almeida, intitulado: o maravilhoso mundo novo!

Fragmentos da entrevista


"Acho que, mais ou menos, a civilização torna as pessoas todas lunáticas. Não é só ela.

Só que uns disfarçam melhor do que os outros, será isso?

Não é que disfarcem, uns adaptam-se mais do que outros à rotina. Mas todos, mais ou menos, são lunáticos porque a civilização cria aberração. O ser civilizado é uma aberração. É perverso.

Contranatura.

Sem dúvida. Desde que já não é o caçador primitivo a fazer os seus desenhos rupestres. Já é outra coisa que cria, realmente, essa demência própria da civilização.

Daí a velha oposição natura vs. cultura.

Sim, e de resto nós hoje vemos isso. Hoje já se admite que o psiquiatra é um companheiro tão natural como o dentista. Dentro de pouco tempo, vai-se ao psiquiatra como quem vai ao dentista para fazer uma revisão, para fazer um acerto nos desgastes.

Encara isso como uma aberração?

Sim, acho que é. Como uma perversão, evidentemente. A civilização é uma perversão.

(…)

Estamos para aqui a rir, e, há pouco, dizia que a sociedade portuguesa vive numa situação de euforia mais que mal-estar. Uma euforia momentânea ou que é um estado de alma comum e perene?

Perene, não é. Nada é. Mas, de facto, há um entendimento dos povos a respeito do seu procedimento, que não tem nada que ver com aquilo que lhes é incutido. Hoje, é uma resistência a qualquer outra coisa. A uma força, a um poder que procuram exercer sobre as massas. Elas respondem com a euforia. Tornam-se eufóricas. No fundo, sabem que os motivos dessa euforia não são importantes. Mas a euforia é importante.

Para esconjurar?

Sim, para esconjurar.

Vivemos numa espécie de Carnaval permanente?

Não, num estado de esconjuro permanente. Acho que sim.

(…)

Há quem diga que seria uma grande maçada, a imortalidade física.

Eu acho que não.

Pelo menos cansativa.

Não, o Homem não se cansa de viver. E nós vemos que é mais fácil morrer em jovem, que morrer em velho. Há um livro de um escritor francês, de que não me ocorre o nome, em que há um homem distinto, um médico, que chega ao fim da vida e a quem o filho tenta convencer – quando ele já está para morrer, já moribundo – que é natural que a pessoa velha, que viveu muito, morra, que não tem de sentir pena por morre. E o pai diz: “Pois é, por isso mesmo; porque vivi muito e porque sei o que é a viver é que tenho pena, por isso é que me custa muito mais.” Enquanto que vemos a serenidade com que um jovem desafia a morte. Senão não ia para a guerra. Os jovens consideram, de certa maneira, que a vida não tem importância.

Os velhos dão mais importância à vida que os novos?

Acho que sim. Ou, pelo menos, habituram-se, o que é uma forma de lhe dar importância.

De toda a sua vida, qual é o instante, o fragmento, o pontinho de luz que mais vezes lhe ocorre para dizer que viver vale a pena?

Acho que é extraordinária a nossa capacidade – como eu dizia há tempos numa carta que escrevi ao Eugénio de Andrade, que está muito doente – de amar. Eu dizia-lhe: o importante é amar alguma coisa. Ter capacidade de amar alguém ou algo na vida. Ser capaz de pôr nisso todas as forças, toda a capacidade que, no fim de contas, é a capacidade para viver."

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 21, 2003

FOTOGRAFIA


Tom Hunter, in The New York Times Magazine

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 21, 2003

segunda-feira, outubro 20, 2003

MOLESKINE


Monet: The Seine and the Sea - Vétheuil and Normandy, 1878-1883


Claude Monet: 'The Artist`s Garden at Vétheuil', 1860; 'Promenade on the Cliff at Pourville', 1879.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 20, 2003

"O BAILADO" 6

X

“A frase nova, cheia de alma, ecoa como um vagido. Por isso, muita gente a não percebe. A criatura vulgar só entende a palavra que atingiu a maioridade, o uso pleno da razão, - quer dizer, a palavra morta.”

XI

“O primeiro vagido e o último suspiro são os dois crepúsculos da Palavra que se fundem como dois metais, e ei-los o bronze eterno do Silêncio. O Silêncio e a Sombra, duas Pessoas divinas. É preciso temê-las e adorá-las, de joelhos, sobre a terra, na solidão infinita da noite. Toda a minha vida rezei a Sombra e o Silêncio. Ó sombra, ó Virgem Mãe caída aos pés da Cruz, - a terrível estátua do Silêncio.”

Teixeira de Pascoaes, “O Bailado”.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 20, 2003

domingo, outubro 19, 2003

O Espelho”, de Andrei Tarkovski, na Janela Indiscreta II



“A imaginação é menos rica que a vida. E, hoje em dia, sinto com intensidade cada vez maior que idéias e estados de espírito não devem ser determinados antecipadamente. É preciso saber abandonar-se à atmosfera da ecna e lidar com o set com a mente aberta. Já houve época em que eu não conseguia começar a filmar antes de ter elaborado um projecto completo do episódio; agora, porém, vejo tal procedimento como uma coisa abstrata, que cerceia a imaginação. Talvez fosse o caso de parar de pensar nisso por algum tempo.
Lembremo-nos de Proust: [“No caminho de Swann, pp. 155-157, Editora Globo, tradução de Mário Quintana”]

“Tão afastadas se encontravam as torres e tão pouco me parecia aproximar-nos delas, que fiquei atônito quando paramos, instantes depois, diante da igreja de Martinville. Ignorava o motivo do prazer que tivera ao avistá-las no horizonte, e a obrigação de procurar desvendá-lo me parecia muito penosa; tinha vontade de guardar de reserva na cabeça aquelas linhas que se moviam ao sol e não mais pensar nelas por enquanto. …
“Sem confessar-me que aquilo que estava oculto atrás das torres de Martinville devia ser algo assim como uma bela frase, pois que aparecera sob a forma de palavras que me causavam prazer, pedi lápis e papel ao doutor e, para aliviar a consciência e obedecer ao meu entusiasmo, compus, apesar dos solavancos do carro, o pequeno trecho seguinte. …
“Jamais tornei a pensar em tal página, mas naquele instante, ao terminar de escrevê-la, na ponta do assento onde o cocheiro do doutor costumava colocar um cesto com as aves que comprara no mercado de Martinville, achei-me tão feliz, sentia que ela me havia desembaraçado tão perfeitamente daquelas torres e do que ocultavam atrás de si, que, como se fosse eu próprio uma galinha e acabasse de pôr um ovo, pus-me a cantar a plenos pulmões.”

Passei por emoções exatamente iguais quando terminei de filmar O Espelho. Recordações da infância que por tantos anos não me haviam deixado em paz, de repente desapareceram como que por encanto, e finalmente deixei de sonhar com a casa em que vivera tantos anos atrás. (…)

O Espelho é também a história da velha casa onde o narrador passou a sua infância, da fazenda onde ele nasceu e onde viveram seu pai e sua mãe. Esta casa, que com o passar dos anos se transformara em ruínas, foi reconstruída, “ressuscitada” a aprtir de fotografias da época e dos alicerces que ainda sobreviviam. Assim, acabou ficando exatamente como fôra quarenta anos antes. Quando mais tarde levamos até lá minha mãe, que passara a infância naquele lugar e naquela casa, sua reacão superou todas as minhas expectativas. O que ela experimentou foi uma volta ao seu passado, e isso me deu a certeza de que estávamos no caminho certo. A casa despertou nela os sentimentos que o filme pretendia expressar…”

in Esculpir o Tempo, Tarkovski.

posted by Luís Miguel Dias domingo, outubro 19, 2003

sábado, outubro 18, 2003

do Mestre d`A Casa Encantada (5)


CINEMA E PINTURA II


Veludo Azul de David Lynch, (1986)



"Sob a atmosfera idílica de uma comunidade rural esconde-se o crime, o vício e a paranóia, num filme que subverte os estereótipos do “filme negro”. David Lynch leva-nos numa viagem iniciática por um mundo sinistro, a partir da estranha descoberta de uma orelha humana num jardim. Viagem através da luz, viagem através da sombra."


Marnie de Alfred Hitchcock, (1964)



"Pensado para o possível regresso de Grace Kelly ao cinema, MARNIE é o último filme de Hitchcock com a sua última “loira do gelo”, Tippi Hedren, que o deixou, como se sabe, “em fogo”. Marnie é uma ladra compulsiva, uma cleptomaníaca, em consequência de graves traumas de infância, que planeia roubar o patrão, mas, descoberta, é por este submetida a uma psicanálise “acelerada”. Para lá das “inverosimilhanças”, o que aqui importa é a forma como Hitch encena a história, e nela projecta e gere os seus fantasmas e obsessões. Um dos seus maiores (e mais mal amados) filmes. E o filme em que uma imagem pintada (um barco no fundo de uma rua) subverte qualquer hipótese de happy end ou de libertação."


A Lenda dos Beijos Perdidos (Brigadoon), de Vincente Minnelli, (1954).



"A quintessência do musical, no que é um deslumbrante conto fantástico sobre uma aldeia escocesa que “vive” um dia em cada século e é descoberta por dois caçadores. Um deles, Gene Kelly, encontra ali o maor da sua vida, o que irá permitir um “milagre”. BRIGADOON contém um dos mais belos bailados a dois do cinema: Gene Kelly e Cyd Charisse em Heather on the Hill. Foi a partir de BRIGADOON que a crítica descobriu Minnelli como pintor.


Lancelot du Lago de Robert Bresson, (1974)





"Robert Bresson aproxima-se da mitologia da Idade Média com um olhar dspojado e austero, quase roçando a abstracção, muito longe do som e fúria que caracterizam as incursões de Hollywood no mesmo tema dos Cavaleiros da Távola Redondae dos amores adúlteros de Lancelot do Lago e Guinevere, mulher do Rei Artur. A aventura que interessa a Bresson é a “interior”. O filme que está para o cinema como as Batalhas de Ucello estão para a pintura."


O Deserto Vermelho de Michelangelo Antonioni, (1964)



"O primeiro filme a cores de Antonioni marca também a sua passagem dos dramas sociais subjectivos para a representação do mundo através dos olhos da protagonista, psicologicamente perturbada. Mónica Vitti interpreta Giuliana, a mulher do director de uma fábrica e mãe de um rapaz, que tenta suicidar-se após um quase fatal acidente automobilístico."


Vento Selvagem de Cecil B. DeMille, (1942)





"Talvez o mais “rubensiano” dos filmes de Cecil B. DeMille que é também uma das mais belas aventuras marítimas jamais filmadas, tendo por base as façanhas dos caçadores de salvados que provocam naufrágios na costa atlântica dos EUA. O filme ganhou o Óscar para os efeitos especiais aplicados na cena da tempestade e no combate de Wayne e Milland com o polvo gigante."


in programção da cinemateca, Dezembro de 2001.

posted by Luís Miguel Dias sábado, outubro 18, 2003

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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