A montanha mágica

sexta-feira, outubro 31, 2003

LITERATURA


“A arte como arma? – disse-me ele, impregando a palavra «arma» de desprezo e tornando-a ela própria numa arma. – A arte como adoptar a posição certa sobre todas as coisas? A arte como advogada das boas causas? Quem lhe ensinou tudo isto? Quem lhe ensinou que a arte são chavões? Quem lhe ensinou que a arte está ao serviço «do povo»? A arte está ao serviço da arte… caso contrário não existe arte digna de atenção de ninguém. Qual é o motivo para se escrever literatura séria, Mr. Zuckerman? Para desarmar os inimigos do controlo dos preços? O motivo para se escrever literautura séria é escrever literatura séria. Quer rebelar-se contra a sociedade? Pois eu digo-lhe como deve fazer… escrevendo bem. Quer lutar por uma causa perdida? Então não lute pelas classes trabalhadoras. Elas vão acabar bem. Vão consolar-se com belos carros, o trabalhador vencerá… da sua negligência brotará a zurrapa que é o destino cultural deste país filisteu. Em breve teremos neste país algo bem pior do que o governo dos operários e dos camponeses… teremos a cultura dos operários e dos camponeses. Quer lutar por uma causa perdida? Então lute pela palavra. Não a palavra rebuscada, não a palavra inspirada, não a palavra pró-isto e antiaquilo, não a palavra que propagandeia junto dos cidadãos respeitáveis a pessoa maravilhosa, admirável e compassiva que o senhor é, sempre ao lado dos desprivilegiados e oprimidos. Não, lute pela palavra que diz aos poucos homens cultos condenados a viver na América que o senhor está do lado da palavra! Esta sua peça é uma borrada. Um pavor. De meter raiva. Uma borrada tosca, primitiva, simplista e propagandista. Ofusca o mundo com palavras e tresanda ate mais não às suas virtudes. Nada na arte tem um efeito mais sinistro do que o desejo do artista provar que é bom. A terrível tentação do idealismo! Tem de aprender a dominar o seu idealismo e as suas virtudes tanto quanto os seus vícios, aprender a dominar esteticamente tudo aquilo que, em primeiro lugar, o leva a escrever: a sua indignação, a sua política, a sua mágoa, o seu amor! Comece a pregar e a ocupar posições estratégicas, comece a olhar a sua própria perspectiva como superior e está acabado como artista, acabado e ridicularizado. Porque escreve estas proclamações? Porque olha em redor e fica «chocado»? Porque olha em redor e fica «comovido»? As pessoas desistem com demasiada facilidade e fingem sentimentos. Querem sentimentos imediatos, e o «choque», a «comoção» são os mais fáceis. E os mais estípidos. Salvo raras excepções, Mr. Zuckerman, o choque é sempre fingimento. Proclamações. A arte não se presta a proclamações! Queira levar esta adorável cagada para fora do meu gabinete, por favor.”

ROTH, Philip (trad. Ana Maria Chaves), “Casei com um comunista”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, p.p.250 e 251.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 31, 2003

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