A montanha mágica

terça-feira, outubro 21, 2003

Na última revista LER, número 60: excelente entrevista realizada por Carlos Vaz Marques , a Agustina Bessa-Luís. As fotografias, belas, são de Luísa Ferreira. Pode ainda ler-se um artigo sobre blogues, da autoria de Nuno Ramos de Almeida, intitulado: o maravilhoso mundo novo!

Fragmentos da entrevista


"Acho que, mais ou menos, a civilização torna as pessoas todas lunáticas. Não é só ela.

Só que uns disfarçam melhor do que os outros, será isso?

Não é que disfarcem, uns adaptam-se mais do que outros à rotina. Mas todos, mais ou menos, são lunáticos porque a civilização cria aberração. O ser civilizado é uma aberração. É perverso.

Contranatura.

Sem dúvida. Desde que já não é o caçador primitivo a fazer os seus desenhos rupestres. Já é outra coisa que cria, realmente, essa demência própria da civilização.

Daí a velha oposição natura vs. cultura.

Sim, e de resto nós hoje vemos isso. Hoje já se admite que o psiquiatra é um companheiro tão natural como o dentista. Dentro de pouco tempo, vai-se ao psiquiatra como quem vai ao dentista para fazer uma revisão, para fazer um acerto nos desgastes.

Encara isso como uma aberração?

Sim, acho que é. Como uma perversão, evidentemente. A civilização é uma perversão.

(…)

Estamos para aqui a rir, e, há pouco, dizia que a sociedade portuguesa vive numa situação de euforia mais que mal-estar. Uma euforia momentânea ou que é um estado de alma comum e perene?

Perene, não é. Nada é. Mas, de facto, há um entendimento dos povos a respeito do seu procedimento, que não tem nada que ver com aquilo que lhes é incutido. Hoje, é uma resistência a qualquer outra coisa. A uma força, a um poder que procuram exercer sobre as massas. Elas respondem com a euforia. Tornam-se eufóricas. No fundo, sabem que os motivos dessa euforia não são importantes. Mas a euforia é importante.

Para esconjurar?

Sim, para esconjurar.

Vivemos numa espécie de Carnaval permanente?

Não, num estado de esconjuro permanente. Acho que sim.

(…)

Há quem diga que seria uma grande maçada, a imortalidade física.

Eu acho que não.

Pelo menos cansativa.

Não, o Homem não se cansa de viver. E nós vemos que é mais fácil morrer em jovem, que morrer em velho. Há um livro de um escritor francês, de que não me ocorre o nome, em que há um homem distinto, um médico, que chega ao fim da vida e a quem o filho tenta convencer – quando ele já está para morrer, já moribundo – que é natural que a pessoa velha, que viveu muito, morra, que não tem de sentir pena por morre. E o pai diz: “Pois é, por isso mesmo; porque vivi muito e porque sei o que é a viver é que tenho pena, por isso é que me custa muito mais.” Enquanto que vemos a serenidade com que um jovem desafia a morte. Senão não ia para a guerra. Os jovens consideram, de certa maneira, que a vida não tem importância.

Os velhos dão mais importância à vida que os novos?

Acho que sim. Ou, pelo menos, habituram-se, o que é uma forma de lhe dar importância.

De toda a sua vida, qual é o instante, o fragmento, o pontinho de luz que mais vezes lhe ocorre para dizer que viver vale a pena?

Acho que é extraordinária a nossa capacidade – como eu dizia há tempos numa carta que escrevi ao Eugénio de Andrade, que está muito doente – de amar. Eu dizia-lhe: o importante é amar alguma coisa. Ter capacidade de amar alguém ou algo na vida. Ser capaz de pôr nisso todas as forças, toda a capacidade que, no fim de contas, é a capacidade para viver."

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 21, 2003

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