A montanha mágica

terça-feira, setembro 30, 2003

ESCLARECIMENTO 2

Não, caro Pedro Mexia , não, esse foi mais um, sim, mais um ataque ao “Expresso”, que a Coluna Infame, dirigiu a este semanário. Em posts anteriores já a Coluna tinha feitos outros, e todos aqueles que líamos a Coluna, estavam bem cientes de qual era a opinião desta em relação àquele.
Desculpem lá, mas é claro que todos já tínhamos percebido que era mais um ataque ao semanário em questão. Não vale a pena repetir isso à exaustão. Não vale. Não é esse o cerne da questão.

Ora, o que aqui queríamos realçar era a coerência em relação ao motivo de tal “ataque”, o que estava na base, ou seja, o artigo do jornalista que o assinava. E quanto a esse artigo, e só em relação a esse artigo, repetimos uma vez mais, que continha afirmações que não eram verdadeiras, a Coluna desferiu um “provocatório ataque”. Mas ataque porquê? Vocês (nós) só nos estavamos a defender de considerações que não eram verdadeiras. Não eram. A melhor defesa é o ataque? Possivelmente…
Então, “ataca-se” todo o semanário, por não se concordar com o ponto de vista de um jornalista, num determinado assunto? Não suscitaria a mesma indignação, aquele artigo, num outro jornal, num outro órgão de comunicação social? Sem que fosse preciso criticar o todo? Na nossa maneira de ver, sim.

Mas, caro Pedro Mexia, já entendemos o seu ponto de vista, respeitámo-lo o que não quer dizer que concordemos. Numa coisa concordámos: o “Expresso”, tinha todas as condições e mais algumas, para ser muito melhor. A auto-crítica constante (que não sabemos se existe ou não existe no “Expresso”), que o JPP, trouxe para a blogosfera, deveria ser adoptada em muitos outros locais.

Já não entendemos, isso sim, as afirmações que o senhor jornalista Paulo Querido, faz no seu - O Vento lá Fora -. Incredulidade porquê? Por causa da memória? Mas quem é que pensa, aqui na blogosfera, com tantos olhos e potenciais reacções ao momento, que pode afirmar hoje algo e amanhã desmentir o que disse, sem que esteja bem fundamentado? Revisionismos em directo? Parece-nos que a ética de colocar um post e não o retirar nem o alterar, está a vigorar. A mudança de opinião, essa é sempre saudável, mas não posso dizer hoje que é branco e amanhã dizer que é preto, sem pelo menos explicar a razão da mudança.

Balas, senhor Paulo Querido? Balas? “dá o peito às balas da Montanha Mágica” (as aspas são nossas), sem aspas e tudo? Que linguagem tão violenta e ofensiva, para exprimir aquilo que é discordância e vontade de ser esclarecido. Não atacámos ninguém! Discordamos! E como entender a seguinte afirmação, escrita pelo mesmo:

“Foi-me fácil logo na altura perceber que era o Expresso o visado do comunicado. Não falei disso na altura por pudor e pelo respeito que me merece a Redacção para a qual contribuo. Da mesma forma que as cadeias de poder existem nas redacções para proteger os indivíduos-jornalistas, também estes têm o dever de dar a cara pelos seus jornais. Ou pelo menos eu assim considero.”

Quer dizer: o “provocatório ataque” partiu de um artigo para o todo, e aqui o autor que escreveu o artigo diz que percebeu que o “ataque” era ao todo! Sejamos claros: qual foi o motivo do “ataque”? O artigo.
Ou seja, pelo menos neste caso, se o artigo descrevesse com exactidão o assunto em causa (a entrada de JPP na blogosfera), não haveria “ataque”. Eventualmente poderiam haver outros, mas não a partir deste. No reconhecimento do erro, está, muitas vezes, a grandeza do Homem.

E, por favor, não veja “balas”, apenas vontade de perceber, e ficar esclarecido.

Nota: onde o senhor jornalista do “Expresso” viu balas, Pedro Mexia viu uma interpelação cordata.

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 30, 2003

CINEMA


Logo, pelas 23h 50m, na RTP 2, As Mil e Uma Noites (1974), de Pier Paolo Pasolini.

"A verdade total não existe num só sonho, mas em vários."






REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI [por Eugénio de Andrade]

Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na
primeira
página, o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meretíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam de
assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.

Novembro, 75

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 30, 2003

Na montanha VII

"Mas, que era afinal o Humanismo? Era o amor aos homens, nada mais, nada menos, e por isso mesmo era também uma política, uma atitude de revolta contra tudo quanto mancha e desonra a ideia de Homem. Tinham censurado ao pai de Settembrini o apreço exagerado da forma; mas ele cultivara a bela forma ùnicamente por amor à dignidade humana, em esplêndida oposição à Idade Média, que vivia não só encarregue à misantropia e à superstição, mas que também tinha sossobrado numa ignomiosa falta de forma. Acima de tudo defendera a Liberdade do Pensamento e o prazer de viver, sustentando que o Céu pertencia aos pardais. Ah, Prometeu! Fora, para ele, o primeiro humanista e idêntico àquele Satã, ao qual Carducci dedicara o seu hino… Oh, se os primos pudessem ouvir como o velho bolonhês maldizia e zombava da sensibilidade cristã do Romantismo! Dos hinos Sacros de Manzoni! Da poesia de sombras e luares do romanticismo, que ele comparava à «pálida monja celeste Luna!» Per Baccho, que prazer sublime, escutar esse homem! E também deveriam ter ouvido Carducci a interpretar Dante: celebrara-o como cidadão de uma metrópole, que defendia contra a ascese e a negação do mundo a força activa que revoluciona e melhora o mundo. Porque, não era a sombra enfermiça e mística de Beatriz que o poeta honrava sob o nome de «donna gentile e pietosa»; pelo contrário, designava assim a sua esposa que no poema representava o princípio do conhecimento das coisas deste Mundo e da actividade na Vida…
Desta maneira, Hans Castorp tinha aprendido muitas coisas sobre Dante, e da melhor das fontes. Não se fiava irrestritamente nestes seus novos conhecimentos, dada a leviandade de quem lhe servia de intermediário. Mesmo assim, valia a pena saber que Dante fora um cidadão activo e lúcido."

MANN, Thomas, "A Montanha Mágica".

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 30, 2003

DIVULGAÇÃO

De Maria Gabriela Llansol, Na Casa de Julho e Agosto, editado pela Relógio d'Água.

"«Daqui, da casa de Julho e Agosto, quem parte para conhecer o mundo e o medo não é o homem (o herói do conto popular, da epopeia e do romance), é a mulher, desdobrada em várias figuras de beguina, e com a qual tu próprio te confundirás, Luís. Agora, é a mulher que conduz o movimento do Texto, chame-se ela Ana ou Hadewijch, Infausta ou Temia, Emily ou simplesmente a Mulher. Ela é princípio activo e transformador, singularizada por uma “pulsão da escrita” (que não a esgota) e por uma capacidade de ver que a colocam fora do jardim francês da geometria dos sexos (...).»

Do Posfácio de João Barrento

Outros títulos editados recentemente, também pela Relógio d'Água:

Henry James: A Volta no Parafuso

Dylan Thomas: Uma Visão do Mar e Outras Histórias

Edith Wharton: Verão

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 30, 2003

segunda-feira, setembro 29, 2003

MOLESKINE


Dream Anatomy



1. The hand of Mrs. Wilhelm Roentgen: the first X-ray image, 1895.
In Otto Glasser, Wilhelm Conrad Röntgen and the early history of the Roentgen rays. London, 1933. National Library of Medicine.
The announcement of Roentgen’s discovery, illustrated with an X-ray photograph of his wife’s hand, was hailed as one of mankind’s greatest technological accomplishments, an invention that would revolutionize every aspect of human existence.

2. Jan van Riemsdyk (fl. 1750-1788), [artist].
An eminent anatomist and obstetrician, Hunter confined himself to a specific topic (late pregnancy) and "subject" (the dissection of a woman who died near the end of term). Illustrations that represent only "what was actually seen," Hunter argued, will carry "the mark of truth" and be "almost as infallible as the object itself."

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 29, 2003

"O BAILADO" 4


VII

"Alegro-me de ser. Ao menos, vi as estrelas, o mar, a serra do Marão, o pôr do sol entre os pinhais, a lua enorme pousada num cerro montanhês, a Primavera e o teu pequeno vulto, meu Anjinho!"

VIII

"Alegro-me de ser, porque amo e sofro; espero e desespero, choro e rio; cantando, elevo-me às estrelas e há silêncios que se abrem em mim, tão profundos como a noite! Entontecido, precipito-me nesse abismo! E ressurjo depois, entre os cantos de Aleluia…
Sim, há horas em que a vida nos esmaga e esfarrapa! Somos como um papel escrito nas mãos insatisfeitas dum poeta, esse animal raivoso. Voamos aos quatro ventos!
Mas aí vem a Primavera e regressamos na sua companhia… Tudo, em nós, é perfume, luz, candura, enlevo, nova infância…"

PASCOAES, Teixeira de, "O Bailado", Lisboa, Assírio & Alvim, 1987.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 29, 2003

BLOGOSFERA

Recebemos um convite para visitar o blogue DESCREDITO . "Por uma Politica com crédito !". Ai o trânsito!


posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 29, 2003

domingo, setembro 28, 2003

MOLESKINE


The Empire That Was Russia [?]

A Chapel on the Site Where the Old City of Belozersk Stood, 1909; Mills in Ialutorovsk Uyezd of Tobol´sk Province, 1912.


Melon Vendor, 1911; A Sart Old Man, 1911.


A Zindan (prison). . ., ca. 1907-1915; On the Karolitskhali River, ca. 1907-1915.

posted by Luís Miguel Dias domingo, setembro 28, 2003

LITERATURA

" – Pai?
- Sim?
- O barco que nos vai levar para Portugal é grande?
- Não sei ao certo. Bastante grande, acho eu.
- Tão grande como uma baleia assassina?
- O quê? Oh, deve ser.
-Tão grande como uma baleia azul?
- Sim, claro, grande como qualquer baleia.
- Maior?
- Sim, muito maior.
- Quanto?
- Deixa lá isso do tamanho. Maior, é tudo o que te posso dizer.

Há uma pausa e a discussão prossegue:

- …Pai.
- Sim?
- Se dois tigres saltassem sobre uma baleia azul, podiam matá-la?
- Ah, mas isso não poderia acontecer, sabes. Se a baleia estivesse no mar os tigres afogar-se-iam logo e se a baleia estivesse…
- Mas supondo que eles saltavam para cima da baleia?
- … Oh, santo Deus. Bem, suponho que os tigres acabariam por matar a baleia, mas levavam muito tempo.
- Quanto tempo levava a um tigre?
- Ainda mais. Agora não respondo a mais perguntas sobre baleias e tigres.
- Pai.
- Oh, o que foi agora, David?
- Se duas serpentes marinhas… (…)

- Pai.
- Sim? (…)
- Se mais nada mudasse por não seres famoso querias ser famoso na mesma?
Pergunta bem formulada, pensei. Ele sabia que a fama era um subproduto de se ter um leitorado. Mas, à parte isso? A fama é um bem sem valor. Por vezes pode granjear um tratamento especial, a quem esteja interessado nisso, se for isso que realmente se quer alcançar. Também nos aufere uma porção muito mais notória de curiosidade hostil. Com isso não me importo… mas eu sou um caso especial. O que tende a destacar-me tende também a habituar-me a ela. Numa palavra: Kingsley.
- Eu não acho – respondi eu.
- Porquê?
- Porque avaria a cabeça.
E ele aceitou isto, com um assentimento."

AMIS, Martin (trad. Telma Costa), "experiência", Lisboa, Editorial Teorema Lda., 2000, p.p.11-14.

posted by Luís Miguel Dias domingo, setembro 28, 2003

sábado, setembro 27, 2003

MOLESKINE



Jean Cocteau, Man Ray, 1922.
© Man Ray Trust / Telimage / Adagp, Paris 2003.

Jean Cocteau, sur le fil du siècle

A VOZ HUMANA


"Está, está lá, está?..........Não, minha senhora, são as linhas cruzadas; por favor, desligue…………………………..Está?.........Tenho prioridade, porque sou assinante………………Oh! ……………Está?..............Desligue a senhora, já lhe disse…………………………Está, menina, está?...........Deixe-me em paz…………..Claro que não sou o Dr. Schmit……………..Zero oito e não zero sete………….Francamente…………..está?...............Há uma chamada para aqui; não sei. (Desliga, sem largar o telefone. Tornam a chamar.)…….Está?..............Que quer a senhora que eu lhe faça?........................Ainda por cima é indelicada……………………O quê? a culpa é minha?!............de maneira nenhuma…………….tenha paciência, de maneira nenhuma…………………………….Está?..................................está lé, menina?............Há uma chamada para aqui, mas não posso atender. Linhas cruzadas, meio mundo a falar."

COCTEAU, Jean (trad. Carlos de Oliveira), "A Voz Humana", Lisboa, Assírio & Alvim, 1999, p.17.


the blood of the poet (1930)




orpheus (1950)



posted by Luís Miguel Dias sábado, setembro 27, 2003

Sentado debaixo do grande terebinto XIX

"- Crês que as tuas lamúrias lhe curarão o jarrete?
- Não – respondeu José -, não creio. Mas agora encontro-me outra vez numa situação embaraçosa. Que hei-de fazer? Não posso deixar aqui o pobre animal com toda a carga de mantimentos que eu queria levar de presente aos meus irmãos, em nome de Jacob. Ainda resta muito, apesar de eu ter comido uma parte e de ter depois desaparecido outra parte. A Hulda há-de morrer aqui, sem socorro, enquanto os animais do campo devoram os tesouros? Estou tão contrariado que me apetece chorar.
- Quem vai outra vez remediar tudo sou eu – replicou o desconhecido. – Eu não te disse que faço também, quando é necessário, o ofício de guarda? Olha, segue o teu caminho! Eu sento-me aqui e ficarei a guardar a mula e os comestíveis, protegendo-os dos pássaros e dos ladrões. Se eu me sinto talhado para semelhantes mistérios, é questão que não se discute agora. Pronto, fico aqui de guarda ao animal até que chegues aonde estão teus irmãos e voltes com eles ou com algum criado buscar os tesouros e ver como está a alimária, se pode curar-se ou se é preciso matá-la.
- Obrigado – disse José -, vamos fazer assim. Vejo que és justo como um homem. Tens os teus lados bons, e dos outros não se fala agora. Apresso-me o mais possível e volto com alguns criados.
- Conto com isso. Não te enganes: contornas a colina, depois voltas ao vale por trás dela, dás quinhentos passos por entre moitas e trevos e lá encontras os teus irmãos, não muito longe de um poço que não tem água. Pensa bem, se não precisas de tirar alguma coisa da carga da mula. Talvez alguma coisa que proteja contra o sol, que já está subindo!
- Tens razão – gritou José -, a adversidade faz-me perder o tino! Isto não deixo eu aqui – disse tirando a Ketonet da bolsa de couro presa às argolas – nem à tua guarda, apesar das tuas boas qualidades. Isto levo eu comigo para Dotan, para lá chegar com grande pompa, já que não me é dado entrar montado na minha Hulda, como queria Jacob. Ponho-o já aqui diante dos teus olhos… assim… assim… e assim! Que tal? Não sou um variegado pássaro de pastores com a minha túnica? Como fica ao filho o véu da Mami?”

Thomas Mann, "O jovem José."

posted by Luís Miguel Dias sábado, setembro 27, 2003

sexta-feira, setembro 26, 2003

ESCLARECIMENTO

Duas questões a esclarecer:

1) subscrevemos, aqui, em Abril (salvo erro) uma declaração de indignação, redigida por alguns blogues, contra um artigo publicado no semanário Expresso, da autoria de Paulo Querido , onde este manifestava e afirmava a sua incredulidade pelo facto da blogosfera portuguesa, não ter dado as boas-vindas ao Abrupto e de não se ter apercebido imediatamente da enorme mais valia que JPP significava.
Ora, acontece, que estes factos não eram verdadeiros. Bastava ler alguns blogues. Foi por isso que subscrevemos a tal declaração, porque achávamos e achámos que deveria ser reposta a verdade. Só isso.

2) nunca a subscrevemos, vendo na declaração um “provocatório ataque a um seu artigo (ataque esse que a Coluna Infame também subscreveu)”. Nunca. Provocatório porquê? O senhor jornalista Paulo Querido, não estava em causa, apenas o artigo que escrevera, pois em nossa opinião, houve uma grande parte de blogues que se congratulou com a entrada do Abrupto, e manifestou-o, bastava ler, contrariando assim as suas palavras (que respeitámos e admirámos, quer o seu trabalho no semanário quer no seu blogue).

Foi, por isso, atónitos e desiludidos que ficámos ao ler as palavras que Pedro Mexia escreveu no seu Dicionário do Diabo (primeiro post do dia 25.9.2003). Quem foram os redactores da resposta? A Coluna Infame, parece-nos, foi mais do que subscritora.
Dificilmente subscreveremos outras declarações (também quem se importa, dirão). Repetimos: não foi na nossa maneira de ver, um “provocatório ataque”, mas sim direito a defesa e com muitos argumentos. Não, não procuramos querelas, apenas coerência.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, setembro 26, 2003

FOTOGRAFIA


Las Américas de Cristina García Rodero


posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, setembro 26, 2003

POESIA


Como havíamos prometido, aqui fica o segundo presente que recebemos. Embora seja para partilhar com todos os nossos leitores, vamos dedicá-lo em especial à Janela Indiscreta .


ABBAS KIAROSTAMI UN LUPO IN AGGUATO (Um Lobo ao Ataque). POESIE. EINAUDI TASCABILI 2003.


Una linea rossa sul bianco della neve,
Una preda ferita
Che zoppica


[Traço vermelho sobre o branco da neve,
preda ferida
que coxea]

Un puledro bianco
è nato
da una cavala nera
alle prime luci dell’alba


[Um potro branco
nasceu
de uma égua negra
ao alvorecer]

Il vento porterà con sè
i fiori di ciliegio
sino al biancore delle nubi


[O vento levará consigo
flores de cerejeira
até à alvura das nuvens]

Ogni onda alta
tre onde basse,
ogni tre onde basse
un’onda alta


[Por cada onda alta
tres ondas baixas,
por cada tres ondas baixas
uma onda alta]

Ho accompagnato
la luna
sino al cuore di una nuvola scura,
ho bevuto del vino e ho preso sonno


[Acompanhei
a lua
ao coração de uma nuvem escura,
bebi vinho e adormeci]

Quando tornai al mio paese natale
la casa paterna
non c’era piú e neppure la voce di mia madre


[Quando regressei à terra natal
a casa paterna
já não existia nem a voz de minha mãe]

Il cielo
mi appartiene,
la terra
mi appartiene

come sono ricco!


[O céu
pertence-me,
a terra
pertence-me

como sou rico!]

Un mendicante
è sveglio sulla riva di un ruscello
un assetato
è sveglio sopra un tesoro


[Um mendicante
acordou sobre a margem de um regato
um sedento
acordou sobre um tesouro]

Tradução de Mário Rui de Oliveira.
«UN LUPO IN AGGUATO» (Um Lobo ao Ataque), ed. Einaudi Tascabili e a tradução do texto persa é da responsabilidade de Ricardo Zipoli.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, setembro 26, 2003

quinta-feira, setembro 25, 2003

BLOGOSFERA

Na primeira visita, e logo ao primeiro post dos intrusos "Inadptado, inaudito, incerto, inane, intruso.", ficámos a pensar... que excelente blogue acabara de nascer... e, decidimos, no momento, que iríamos ler a sua centelha dia-a-dia, todos os dias.

Pensar é precisamente abraçar aquela impureza que o mundo repudia. Na 1 Carta aos Coríntios (4,13), Paulo de Tarso escreve: «somos considerados o esterco (perikathármata) do mundo». Não sei de melhor definição. - JTM

Muito bem-vindos.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 25, 2003

POESIA


Recebemos dois presentes. Um vamos partilhá-lo hoje, o outro... fica para amanhã. Obrigado Mário Rui.




MARGUERITE YOURCENAR


LES TRENTE - TROIS NOMS DE DIEU

[Os Trinta e três nomes de Deus]

Essai d'un journal sans date et sans pronom personne

[Tentativa de um diário sem datas e pronomes pessoais]


1. Mer au matin

[ Mar pela manhã ]

2. Bruit de la
source dans
les rochers
sur les parois de pierre


[ Murmúrio da
nascente nas
rochas
sobre os muros de pedra ]

3. Vent de mer
la nuit,
dans une île


[ Vento de mar
a noite,
sobre uma ilha ]

4. Abeille

[ Abelha ]

5. Vol triangulaire
des cygnes


[ Voo triangular
dos cisnes ]

6. Agneau nouveau-né
beau bélier
brebis


[ Cordeiro recém-nascido
formoso ariete
ovelha ]

7. Le doux muffle
de la vache
le muffle sauvage
du taureau


[ O terno focinho
da vaca
o focinho selvagem
do touro ]

8. Le muffle
patient du
bœuf


[ O focinho
paciente do
boi ]

9. Le feu rouge
dans l’âtre


[ O rubro fogo
na lareira ]

10. Le chameau
boiteaux
qui traversa la
grande ville encombrée
allant vers sa mort


[ O camelo
coxo
que atravessa a
grande cidade atravancada
a caminho da morte ]

11. L’herbe
L ‘odeur de l’herbe


[ A erva
O odor da erva ]

12. ‘ ‘’’’’’

13. La bonne terre
Le sable
et la cendre


[ A boa terra
A areia
e a cinza ]

14. Le héron qui a
attendu toute la
nuit, à demi gelé,
et qui trouve
à apaiser sa
faim à l’aurore


[ A garça real que
esperou toda a
noite, quase gelada,
e pela aurora encontra
com que aplacar sua
fome ]

15. Le petit poisson
qui agonise
dans le gosier du
héron


[ O pequeno peixe
que agoniza
nas goelas da
garça real ]

16. La main,
qui entre en
contact
avec les choses


[ A mão,
que entra em
contacto
com as coisas ]

17. La peau —
toute la surface
du corps


[ A pele —
toda a superfície
do corpo ]

18. Le regard
et ce qu’il regarde


[ O olhar
e o que ele vê ]

19. Les neuf portes
de la
perception


[ As nove portas
da
percepção ]

20. Le torse
humain


[ O torso
humano ]

21. Le son d’une
viole ou d’une
flûte indigène


[ O som de uma
viola ou de uma
flauta indígena ]


22. Une gorgée
de boisson
froide ou
chaude


[ Um trago
de bebida
fresca ou
cálida ]

23. Le pain

[ O pão ]

24. Les fleurs
qui sortent
de terre au
printemps


[ As flores
que despontam
da terra
na primavera ]

25. Sommeil
dans un lit


[ Sono
em um leito ]

26. Un aveugle
qui chante
et un enfant
infirme


[ Um cego
que canta
e uma criança
enferma ]

27. Cheval qui
court
en liberté


[ Cavalo que
corre
em liberdade ]

28. La femme —
aux — chiens


[ A mulher —
os — cães ]

29. Les chameaux
qui s’abreuvent
avec leurs petits
dans l’oued
difficile.


[ Os camelos
que se banham
com seus filhotes
no difícil oued ]

30. Soleil levant
sur un lac
encore à demi
gelé


[ Sol nascente
sobre um lago
ainda meio
gelado ]

31. L’éclair
silencieux
La foudre
bruyante


[ O relâmpago
silencioso
O trovão
fragoso ]

32. Le silence
entre deux amis


[ O silêncio
entre dois amigos ]

33. La voix qui vient
de l’est,
entre par l’oreille
droite
et enseigne un chant


[ A voz que vem
de levante,
entra pelo ouvido
direito
e ensina um canto ]

22 mars 1982

[22 de março 1982]

Tradução de Mário Rui de Oliveira.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 25, 2003

MOLESKINE


Exhibition "Mark Rothko: A Centennial Celebration"


Mark Rothko in his West 53rd Street studio, c. 1953, photograph by Henry Elkan, courtesy Archives of American Art, Smithsonian Institution, Rudi Blesh Papers ;Mark Rothko, Untitled,1948, Collection of Kate Rothko Prizel.

"In their manifesto in the New York TimesRothko and Gottlieb had written: "We favor the simple expression of the complex thought. We are for the large shape because it has the impact of the unequivocal. We wish to reassert the picture plane. We are for flat forms because they destroy illusion and reveal truth." By 1947 Rothko had virtually eliminated all elements of surrealism or mythic imagery from his works, and nonobjective compositions of indeterminate shapes emerged."

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 25, 2003

quarta-feira, setembro 24, 2003

Na televisão, neste início de outono...



Da penumbra do esquecimento, para três horas de televisão (RTP 1) dedicadas a José Cardoso Pires.
O filme "O Delfim", de Fernando Lopes e depois uma excelente conversa entre Clara Ferreira Alves e José Cardoso Pires, realizada durante o Outono e Inverno de 1997. A sessão tem início às 21h e 40m.



"O largo. (Aqui me apareceu pela primeira vez o Engenheiro, anunciado por dois cães.) O largo:
Visto da aldeia onde me encontro, é um terreiro nu, todo valas e pó. Grande de mais para a aldeia - é de facto, grande de mais. É inútil, dir-se-á. Pois, também isso. Inútil, sem sentido, porque raramente alguém o procura apesar de estar onde está, à beira da estrada e em pleno coração da comunidade. Tal como um prado de cardos, mostra-se agressivo, só domável ao tempo; e se não pica repele, servindo-se das covas, dos regos das chuvas ou da poeirada dos estios. Um largo, aquilo a que verdadeiramente se chama largo, terra batida, tem de ser calcado por alguma coisa, pés humanos, trânsito, o que for, ao passo que este aqui, salvo nas horas da missa, é percorrido unicamente pelo espectro do enorme paredão de granito que se levanta nas traseiras da sacristia. Diariamente, ano após ano, século após século, essa muralha, mal o sol se firma, envia a sua sombra para o terreiro, arrastando uma outra, a da Igreja. Leva-a envolvida, viaja com ela pelo deserto de buracos e de pó, cobre o chão, arrefece-o, e ao meio dia recolhe-se, expulsa pelo sol a pino. Mas a a tarde é dela. À tarde a sombra recomeça a invasão, crescendo à medida que a luz enfraquece. (...)

«Mulher inabitável...» Gosto, é frase altiva, a prumo - de título para alegoria:

A MULHER INABITÁVEL

Na brancura de uma folha de papel (que é indiscutivelmente um território de sedução, um corpo a explorar), no centro e bem ao alto, planta-se a frase. Ela apenas, o título, como um diadema de dezassete letras. Só depois é que virá a homenagem (com ou sem dedicatória: «Maria das Mercês, 1938-1966»), inteiramente preenchida por uma romãzeira em flor que há no quintal da Pensão. E será um desenho meticuloso todo feito de articulações, por meio de folhas recortadas, cada qual com o seu pensamento.
A romãzeira está brava, assaltada por legiões de formigas. Apesar disso, cabe-lhe a homenagem, porque, nesta época do ano e nesta desolada terra, é a única exclamação da Natureza. Árvore bravia, de sombra rendilhada, que já foi sumo e que hoje fica na flor: à volta não vejo senão pedras e formigas, restos de comida e cães à espera dos donos. E no meio, ela. Ela, enchendo a página, como um herbário escolar, com a folhagem tatuada de injúrias (do Velho), caprichos de interrogações nas flores, pontinhos a formigar. É um cântico de vermelho exposto ao sol outonal, esta árvore, e sustenta nos braços cor de cobre toda uma abóboda de chagas em alegria. Tem, para finalizar, a inestimável utilidade da beleza - coisa importantíssima."

José Cardoso Pires, "O Delfim".


Do argumentista do filme.



"A leitura de um cinéfilo"


Elisabete França


Instrumentista. Obediente à batuta do realizador-chefe-de-orquestra
O professor e analista político surpreende na função de argumentista d'"O Delfim", a servir obra e projecto alheios com humildade.

Um dos aspectos a que as pessoas se rendem no filme feito d'O Delfim é a excelência do argumento, mas o Vasco Pulido Valente não é exactamente um argumentista de cinema...

Em tempos escrevi o argumento para uma série de 12 episódios, a realizar pelo Fernando Lopes na RTP, que, no entanto, nunca foi filmada. Também escrevi a versão para TV do Aqui d'El Rei, do António Pedro de Vasconcelos, que depois não ficou satisfeito e arranjou outro argumentista.

Agora com o trabalho à vista, o "outsider", que, para mais, já escreveu contra a qualidade de argumentos no cinema português, está inseguro ou satisfeito com os resultados?

Eu estou muito satisfeito com o trabalho e nunca me senti inseguro. Tenho uma grande afinidade intelectual com o Fernando Lopes e o meu critério nunca passou por saber se o filme teria sucesso ou não teria sucesso, mas, sim, se eu conseguia ou não conseguia responder às exigências dele. Um realizador de cinema é como um chefe de orquestra, que coordena os trombones, os clarinetes, os violoncelos, etc., exactamente como o realizador de cinema tem de controlar muita gente, actores, director de fotografia e de som e também o argumentista, para fazer com isso um todo harmónico. De modo que o papel do argumentista é seguir as indicações do chefe de orquestra, o melhor que pode.

Como é que depois, a sós, o argumentista trabalhou nesse sentido o romance de José Cardoso Pires?

Foi um trabalho de transpor a escrita para linguagem fílmica, com o máximo de fidelidade possível ao livro e de acordo com a visão do realizador.

Foi fácil coincidirem?

Sou amigo do Fernando Lopes, que é uma pessoa inteligente, e é fácil trabalhar com um amigo.

Aquilo que encontrou e recriou na transposição foram fantasmas de um país-lagoa estagnado, imagens de um tempo histórico ou tudo isso um pouco mas ainda reconhecível hoje, aqui?

O encontro foi com uma obra de arte universal. Não li O Delfim como um tratado de história sobre os anos 60, embora as marcas da História lá estejam, como estão nas obras do Balzac e de tantos outros.

Tratando-se de transpor para linguagem fílmica, a leitura-escrita ia-se fazendo em função de imagens? Com alguns referentes cinematográficos particulares?

Era também a leitura de um cinéfilo e com certeza que, quando estava a escrever, os milhares e milhares e milhares de filmes que vi me influenciaram. Mas influenciou-me, sobretudo, a vontade do Fernando Lopes. Tentei perceber, ao mesmo tempo, como podia transpor o romance para uma linguagem fílmica e o que é que o Fernando Lopes queria fazer, qual era o filme que ele tinha na cabeça.

O resultado decorre de uma comunicação regular...

Diária, diária, diária. A tal ponto que há certas coisas no filme que nem ele nem eu sabemos quem as pensou primeiro.

Fala-se que se preparam para voltar a trabalhar em conjunto. Há alguma coisa concreta em marcha?

É possível, é possível. Mais do que possível, é natural.


Do realizador do filme



O homem que filmou "O Delfim"

Eurico de Barros

Muitos realizadores, incluindo o espanhol Carlos Saura, tentaram adaptar ao cinema "O Delfim", de José Cardoso Pires, mas foi Fernando Lopes quem, finalmente, o conseguiu.

Os seus filmes são quase todos adaptações de livros. Prefere filmar livros que lhe agradem particularmente, ou tem a ver com o facto de em Portugal não haver tradição de argumentistas que escrevam originais?

Eu tenho a fama de ser um cineasta de livros. Fiz a Abelha na Chuva, fiz o Mário Zambujal, o Tabucchi... tudo livros muito diferentes. Por acaso, neste momento estou a escrever um argumento original com o Vasco Pulido Valente. Mas gosto muito de trabalhar sobre livros. Os livros têm uma estrutura, têm personagens - particularmente O Delfim, que apresenta uma grande estrutura romanesca e personagens muito fortes. Por exemplo, em Uma Abelha na Chuva, o que me interessou mais provavelmente nem sequer foi a Abelha-livro, que toda a gente diz ser muito cinematográfico. O que me interessou foi a micropaisagem, a poesia do Carlos de Oliveira. No caso do José Cardoso Pires, o que me interessou muito, e obviamente, foi a época em que ele escreveu o livro, foi a personagem do Tomás Palma Bravo e foi fazer "subir" a personagem da Maria das Mercês, que no livro é excessivamente diluída, e fazer dela uma mulher com desejos e opressões de desejos. Os livros são sempre um bom suporte para fazer filmes.

Fale-me do seu interesse pela época em que decorre "O Delfim", uma época que você viveu e conhece bem.

No Delfim há também os fantasmas. São fantasmas de uma época histórica, pelos quais eu tenho alguma grande ternura. Não tenho uma leitura horrível daqueles fantasmas, bem pelo contrário. Acho que eles fazem parte da nossa vida e, como diria o Vicente Jorge Silva, eu quis deixar de lado a "tralha" ideológica que poderia ser lida na história, e que não me interessa.

"O Delfim" não é um filme abertamente "ideológico". É claro que o Fernando Lopes, o Vasco Pulido Valente e o Cardoso Pires mostram algumas das coisas desagradáveis daquela época, mas por outro lado, e pelo menos no filme, nota-se, tal como já disse, como que uma ternura melancólica por aqueles tempos e pelo estilo de vida daqueles que criticam.

É um pouco como o Bernardo Bertolucci: Prima Della Revoluzione. Ou seja, Talleyrand: "Quem não viveu os tempos antes da revolução não conheceu a doçura de viver." De certo modo, é isto.

Também há, segundo creio, uma ligação afectiva sua ao livro, que tem a ver com a sua amizade com o escritor. Porquê adaptar este livro e não outro de José Cardoso Pires?

Este é muito específico porque foi um livro que viveu comigo durante muitos anos. Desde que o Zé o escreveu - e eu vi-o a discutir o manuscrito com o Carlos de Oliveira, por exemplo -, e como diz o George Steiner, "há uns livros que entram dentro de nós e que nos arrumam ou desarrumam a casa", a nossa casa interior. E O Delfim sempre me desarrumou a casa interior. Não foi por acaso que durante tantos anos eu quis fazer o filme e só finalmente o consegui agora. E não fui só eu: o Fonseca e Costa quis, o Carlos Saura, muita gente o quis fazer. Não era fácil. Só depois de ter trabalhado com o Vasco - que eu acho que fez um trabalho notável de adaptação, do ponto de vista de inteligência, de "leitura da voz" do Cardoso Pires, como ele diz - é que foi possível chegar ao fim. Acho que quando se pega num livro, a voz dele tem que nos cair cá dentro. E depois temos que trabalhar sobre ela. E é preciso deixar de parte a tal tralha que os livros também têm.

Chegou a falar com José Cardoso Pires sobre a adaptação do livro ao cinema?

Sim, tivemos uma longa conversa de horas, que foi aliás gravada - e eu não sei onde pára a gravação. Eu dei-lhe para ler um poema do Auden, quando assinei o contrato para fazer a adaptação. E disse-lhe, "Zé, tenho aqui um poema do Auden que se chama Detective Story para leres". No fundo, este poema é sobre a ideia da felicidade e da infelicidade. E o Zé, que conhecia bem o Auden mas não o poema, diz-me: "Eu acho extraordinário que tu pegues por aqui." Ou seja, há uma história policial no Delfim, há várias versões do que acontece, é um bocadinho Rashomon, e depois, lá no fundo, o que está lá é isto: porque é que somos infelizes, porque não somos felizes? Foi por isso que eu quis fazer o filme.

O trabalho de argumento foi mais de Vasco Pulido Valente, ou foi partilhado pelos três, ele, você e a Maria João Seixas?

Não, o grande trabalho foi do Vasco, e é notável. Uma síntese extraordinária do livro - ele conhece muito bem a obra do Zé Cardoso Pires -, da voz do autor. Ele consegue apanhar o osso do livro, o essencial. Na escrita do Zé Cardoso Pires, o que existe é o substantivo. E o que eu tentei fazer foi que o filme correspondesse a esse osso, que fosse tão competentemente certo como o que ele fazia na escrita. E isso faz falta no cinema português. Essa competência falha muitas vezes no nosso cinema. É preciso tê-la e eu não tenho vergonha de a ter. Um filme não é só um produto de autor, é também um espectáculo. Tem de dar sentimentos, grandes sentimentos, e é preciso que todos que nele estão envolvidos trabalhem nessa ordem.

E neste caso, não lhe faltou nada. Teve a equipa que quis, os actores que quis, Eduardo Serra na fotografia...

O Delfim teve um trabalho de produção extraordinário. O Paulo Branco apostou a sério no filme. É preciso ter um bom produtor. E um bom produtor não é só aquele que monta financeiramente um filme. É aquele que acredita no filme. E ele acreditou. Eu disse-lhe, quero esta e esta equipa. Quero ter o Eduardo Serra, o Jacques Witta, o Gérard Rousseau, o Philipe Morel e quero ter o Vasco. Só assim é que se podem fazer filmes. Como diria o Malraux: Par ailleurs, le cinéma est aussi une industrie. E eu não tenho vergonha disso. Os filmes são parte de uma indústria e isso tem que ser assumido no cinema português. É mal assumido, em geral. É preciso ter boa fotografia, grandes actores, etc, porque senão, não faz sentido. Com os subsídos e as co-produções que temos há muito dinheiro envolvido, e há que dar resposta a isso. Os filmes têm que corresponder ao dinheiro que têm investido. Uma das coisas mais extraordinárias do cinema americano é que eles percebem isso. E é assim que fazem os filmes que fazem.

entrevistas in www.instituto-camoes.pt

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, setembro 24, 2003

terça-feira, setembro 23, 2003

Do Mestre d`A Casa Encantada (2)


CINEMA E PINTURA I


OS MEUS LÁBIOS QUEIMAM de Roy Baker, (1952).



"Este é o filme em que pela primeira vez, Marilyn Monroe é cabeça de cartaz. Nesta adaptação de um conto de Charlotte Armstrong, especialista do thriller psicológico, Marilyn é uma jovem neurótica saída de uma clínica psiquiátrica e que julga ver em Widmark, que se encontra no mesmo hotel, o noivo perdido na guerra, e sofre um colapso que a empurra para uma situação dramática."


LOS OLVIDADOS de Luís Buñuel, (1950).



"Luís Buñuel definiu LOS OLVIDADOS como “um filme de luta social”, mas, para além da denúncia da sordidez ee da miséria da vida nos bairros de lata de Cidade do México, reproduz igualmente todo o imaginário onírico e erótico do realizador, sublinhando as suas origens surrealistas (as fabulosas sequências do sonho de Jaibo, o leite nas penas de Meche). O filme, intenso e cruel, fez sensação no festival de Cannes e relançou a carreira de Buñuel (aos 50 anos). Trata-se de uma das suas obras primas absolutas."


O FANTASMA DA ÓPERA de Rupert Julian, (1925).



"Adaptado do romance de Gaston Leroux, THE PHANTOM OF THE OPERA é o filme que consagrou o actor Lon Chaney na espantosa criação do infeliz compositor desfigurado num incêndio e que se refugia nas catacumbas de Paris sob a Ópera, de onde vai a carriera de uma cantora por quem se apaixona. O delírio da paixão encontra correspondência nos estranhos cenários onde vive o “fantasma”, cujo rosto impressionante (uma das imagens mais famosas do cinema) foi conseguido com uma maquilhagem muito simples e a força expressiva do actor."


LA PIEUVRE de Jean Painlevé, (1928).


La Pieuvre / The Octopus

"Primeiro filme de Jean Painlevé (1902-1989), filho do matemático e político Paul Painlevé, e que se especializou do documentário político científico, em particular em filmes sobre a fauna submarina de que LA PIEUVRE é um sugestivo exemplo, e também das suas técnicas. A sua obra é marcada pelo experimentalismo e ple afantasia que a incluiu dentro da vanguada artística e os surrealistas apreciaram muito alguns dos seus trabalhos."


LES MAITRES FOUS de Jean Rouch (1954).



"LES MAITRES FOUS é um documentário sobre uma cerimónia religiosa constituída por rituais de possessão colectiva da seita dos Haukas, a que se entregam emigrantes nigerianos nos arredores de Acra. “Jean Rouch, sem trucagens, com uma neutralidade expressiva próxima de Buñuel de LAS HURDES, oferece-nos um documento sociológico que envia para qualquer Biblioteca Cor de Rosa os filmes de horros mais terrificantes” (Claude Beylie, Cahiers du Cinema)."

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 23, 2003

segunda-feira, setembro 22, 2003

FARÖ


Room for St. John of the Cross



"Video/sound installation. [1983]
The Museum of Contemporary Art, Los Angeles; The El Paso Natural Gas Company Fund for California Art
Through a window in a black cubicle in a black room, a small color monitor on wooden table is visible. The monitor displays a color image of a tranquil snow covered mountain. A voice quietly reciting the poems of the Spanish mystic St. John of the Cross can barely be heard from within. Outside, a large image projected on the wall shows black-and-white images of snow covered mountains in constant wild, chaotic movement. A loud roaring sound fills the space like a storm. St. John's poems often describe love, ecstasy, flying, and passage through the dark night. They were written while he was held prisoner in a tiny windowless and cell and tortured by the Inquisition for nine months in the year 1577."

www.billviola.com

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 22, 2003

POESIA


NOITE ESCURA- São João da Cruz

Em uma Noite escura,
com ânsias em amores inflamada,
ó ditosa ventura!,
saí sem ser notada.
estando minha casa sossegada.

A ocultas, e segura,
pela secreta escada, disfarçada,
ó ditosa ventura!,
a ocultas, embuçada,
estando minha casa sossegada.

Em uma Noite ditosa,
tão em segredo que ninguém me via,
nem eu nenhuma cousa,
sem outra luz e guia
senão aquela que em meu seio ardia.
Só ela me guiava,
mais certa do que a luz do meio-dia,
adonde me esperava
quem eu mui bem sabia,
em parte onde ninguém aparecia.

Ó Noite que guiaste!,
ó Noite amável mais do que a alvorada!,
ó Noite que juntaste
Amado com amada,
amada nesse Amado transformada!

No meu peito florido,
que inteiro para ele se guardava,
quedou adormecido
do prazer que eu lhe dava,
e a brisa no alto cedro suspirava.

Da torre a brisa amena,
quando eu a seus cabelos revolvia,
com fina mão serena
a meu colo feria,
e todos meus sentidos suspendia.

Quedei-me e me olvidei,
e o rosto reclinei sobre o do Amado:
tudo cessou, me dei,
deixando meu cuidado
por entre as açucenas olvidado.

(tradução de Jorge de Sena)

PENSAMENTOS DE SÃO JOÃO DA CRUZ

"Extraídos do livro “O Amor não cansa nem se cansa”, seleção de textos feita por Frei Patrício Scidiani, ocd, Editora Paulus, 2a. ed. "

Dizem assim:

Para chegares a saborear tudo,

não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo,

não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo,

não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo,

não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas,

hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes,

hás de ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis,

hás de ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és,

hás de ir por onde não és.



Modo de não impedir o tudo:

Quando reparas em alguma coisa,

deixas de arrojar-te ao tudo.

Porque para vir de todo ao tudo,

hás de negar-te de todo em tudo.

E quando vieres a tudo ter,

hás de tê-lo sem nada querer.

Porque se queres ter alguma coisa em tudo,

não tens puramente em Deus teu tesouro.


in geocities.yahoo.com.br

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 22, 2003

Na montanha VI

"Segundo os pontos de vista de Settembrini, havia dois princípios que disputavam a posse do mundo: a Força e o Direito, a Tirania e a Liberdade, a Superstição e a Ciência, o princípio da conservação e o do movimento: o Progresso. Podia chamar-se a um o princípio asiático e ao outro o europeu, visto ser a Europa a terra da rebelião, da crítica e da actividade transformadora, ao passo que o continente oriental encarnava a imobilidade, o repouso. Não existia a menor dúvida quanto à questão de saber qual das forças terminaria por triunfar; só poderia ser a da Luz, a do aperfeiçoamento guiado pela Razão. Pois a Humanidade arrastava incessantemente novos povos pelo seu caminho brilhante, ganhava cada vez mais terreno na própria Europa e estava a ponto de penetrar na Ásia. No entanto, faltava ainda muito para que a sua vitória fosse completa, e grandes, magnânimos esforços eram exigidos dos homens de boa vontade, dos que haviam recebido a luz, até que raiasse o dia em que desmoronassem as monarquias e as religiões, até naqueles países que, na verdade, nunca tinham vivido o seu século XVIII nem seu ano de 1789. – Mas esse dia há-de chegar, dizia Settembrini, esboçando um fino sorriso sob a curva do bigode. Se não chegar pelos pés das pombas, chegará sobre as asas das águias. Nascerá com a aurora da confraternização geral dos povos sob o signo da Razão, da Ciência e do Direito. Trará a santa alinaça da democracia dos cidadãos, em esplêndido contraste com aquela três vezes infame aliança dos príncipes e dos gabinetes, cujo inimigo mortal, o inimigo pessoal foi o avô Giuseppe, numa palavra, a República Universal. Mas, para alcançar esse objectivo final era, antes de mais nada, necessário ferir o princípio asiático, o princípio do servilismo e da inércia, no centro e no nervo vital da sua resistência, que era Viena. Tratava-se de vencer, de aniquilar a Áustria, primeiro para tirar a desforra das suas façanhas do passado, e depois para preparar o caminho, o reino da justiça e da felicidade sobre a Terra."

Thomas Mann, "A Montanha Mágica".

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 22, 2003

domingo, setembro 21, 2003

hagiografia



SANTA CATALINA (entre 1505 y 1510)

La historia de Catalina, santa de origen oriental que murió en el siglo IV en Alejandría, fue popularizada en Occidente por la "Leyenda Dorada", una célebre recopilación de vidas de santos escrita en latín en el siglo XIII por el dominico genovés Santiago de la Vorágine.
Catalina nació en el seno de una familia ilustre, ya que, según la tradición, era de sangre real. Ya desde niña se había entregado al estudio de las artes y las ciencias, adquiriendo con el tiempo extensos y profundos conocimientos en estas materias.


posted by Luís Miguel Dias domingo, setembro 21, 2003

CINEMA


Para quando em português? DREYER BOX (4 - disc box set)





"Following the release of Carl Th. Dreyer’s The Passion of Joan of Arc, The Criterion Collection renews its commitment to this major director with a Special Edition box set of his sound films, Day of Wrath, Ordet, and Gertrud. Each is an intense exploration of the clash between individual desire and social expectations, with Dreyer’s famously perfectionist attention to detail shining throughout. With brand new digital transfers supervised by Gertrud director of photography Henning Bendtsen, the Criterion Collection is proud to present these Dreyer masterpieces on DVD for the first time. The fourth disc in the set presents the masterful 1995 documentary on Dreyer by Danish filmmaker Torben Skødt Jensen, Carl Th. Dreyer—My Métier. Extensive interviews with collaborators and actors provide fresh insight into the life and work of one of cinema’s great masters."

posted by Luís Miguel Dias domingo, setembro 21, 2003

sábado, setembro 20, 2003

FOTOGRAFIA


A partir de 27 de Setembro, o Centro Português de Fotografia, inaugurará na Cadeia da Relação do Porto, quatro novas exposições. A saber:

Mar Alto de Jean Gaumy





"Há uma imagem fotográfica que nos evoca a abertura das águas do Jordão no filme de Cecil B. De Mille. Um milésimo de segundo para tirar esta imagem, para captar o efeito, o arrepio. E é assim que atravessamos esta reportagem que não o é, sendo-o.
Não se trata de pedirmos recurso explicativo ao documentalismo subjectivo, estas imagens não cabem no que se quer entender. Sentem-se pela beleza inesperada, pela força da combinação de indícios, pela certeza de que é tudo novo, pela incómoda sensação de que estamos a olhar para uma história do mar que ninguém nos contou."


Porta do Paraíso, Manikarnika Ghat de Júlio de Matos



"A morte, neste Ocidente que tanto a teme, já foi considerada como o fundamento radical da humanidade consciente.
É a certeza da morte que faz erguer os edifícios da cultura do homem, no envolvimento da religião e do mito e nos seus efeitos que podem ser ciências ou filosofia. Foi a certeza da morte que fez traçar na terra as constelações do céu, viradas a Jerusalém ou a Meca, mas foi também a certeza da morte que nos fez substituir os deuses pelos objectos do homem.

Em tempo de contaminação de ideias e temores alheios, Júlio de Matos confrontou-se, no Ganges, com uma das mais tradicionais Portas do Paraíso – o cais de partida para outra vida, o lugar maior da cremação dos justos, na Índia."


Notícias do Mundo: A Selecção de John Pilger


RICE is the staple diet. But it is more than food to the Vietnamese – it is their purpose for existing. A symbiosis exists between the society's religious beliefs (its moral values) and its task of growing rice. To a Vietnamese, each meal has some of the significance that eating Communion bread has for a Catholic.
Philip Jones Griffiths no Vietnam [imagem que não deve fazer parte da exposição]

"O século XX foi o tempo das grandes reportagens fotográficas. Porque as reportagens crescem e dignificam-se com a guerra e o século XX também foi pródigo em guerras e violência.
E a guerra fez dos jornalistas, que se aproximavam das batalhas e dos objectivos militares mais do que era aconselhável, para guardar momentos que fariam história, heróis mais perduráveis do que o smomentos e os efeitos dos outros heróis que fotografavam. E assim se construíram mitos como Robert Capa ou W. Eugene Smith. Um mito requer pagamento de promessas e, tal como Larry Burrows, morto no Vietnam ou Gilles Caron no Camboja, Robert Capa pagou com a vida a notoriedade. Desde então a guerra continuou a ser o campo de batalha e de morte de muitos outros jornalistas."


Viagem aos Mares Boreais de Eduardo Lopes

"Entre 1951 e Janeiro de 1955 Eduardo Lopes, como praticante de piloto, (no “David Melgueiro”) e depois como imediato do “Gazela 1” e no “Bissaya Barreto” acompanhou a pesca bacalhoeira nos bancos da Terra Nova e na Gronelândia.
A exposição “Viagem aos Mares Boreais” é uma selecção de 80 imagens de entre centenas que então efectuou, e que até hoje permaneceram inéditas."
[não conseguimos qualquer imagem]

in cpf. convite.

posted by Luís Miguel Dias sábado, setembro 20, 2003

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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