A montanha mágica

sábado, setembro 27, 2003

Sentado debaixo do grande terebinto XIX

"- Crês que as tuas lamúrias lhe curarão o jarrete?
- Não – respondeu José -, não creio. Mas agora encontro-me outra vez numa situação embaraçosa. Que hei-de fazer? Não posso deixar aqui o pobre animal com toda a carga de mantimentos que eu queria levar de presente aos meus irmãos, em nome de Jacob. Ainda resta muito, apesar de eu ter comido uma parte e de ter depois desaparecido outra parte. A Hulda há-de morrer aqui, sem socorro, enquanto os animais do campo devoram os tesouros? Estou tão contrariado que me apetece chorar.
- Quem vai outra vez remediar tudo sou eu – replicou o desconhecido. – Eu não te disse que faço também, quando é necessário, o ofício de guarda? Olha, segue o teu caminho! Eu sento-me aqui e ficarei a guardar a mula e os comestíveis, protegendo-os dos pássaros e dos ladrões. Se eu me sinto talhado para semelhantes mistérios, é questão que não se discute agora. Pronto, fico aqui de guarda ao animal até que chegues aonde estão teus irmãos e voltes com eles ou com algum criado buscar os tesouros e ver como está a alimária, se pode curar-se ou se é preciso matá-la.
- Obrigado – disse José -, vamos fazer assim. Vejo que és justo como um homem. Tens os teus lados bons, e dos outros não se fala agora. Apresso-me o mais possível e volto com alguns criados.
- Conto com isso. Não te enganes: contornas a colina, depois voltas ao vale por trás dela, dás quinhentos passos por entre moitas e trevos e lá encontras os teus irmãos, não muito longe de um poço que não tem água. Pensa bem, se não precisas de tirar alguma coisa da carga da mula. Talvez alguma coisa que proteja contra o sol, que já está subindo!
- Tens razão – gritou José -, a adversidade faz-me perder o tino! Isto não deixo eu aqui – disse tirando a Ketonet da bolsa de couro presa às argolas – nem à tua guarda, apesar das tuas boas qualidades. Isto levo eu comigo para Dotan, para lá chegar com grande pompa, já que não me é dado entrar montado na minha Hulda, como queria Jacob. Ponho-o já aqui diante dos teus olhos… assim… assim… e assim! Que tal? Não sou um variegado pássaro de pastores com a minha túnica? Como fica ao filho o véu da Mami?”

Thomas Mann, "O jovem José."

posted by Luís Miguel Dias sábado, setembro 27, 2003

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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