domingo, janeiro 08, 2012
Pedro Costa, Manoel de Oliveira + Heródoto
Otanes, o primeiro a falar, entre mais disse: “a mim, parece-me bem que só um homem deixe de ser o senhor absoluto de todos nós, pois isso nem é agradável, nem bom (…) Como é que alguma vez poderia a monarquia ser uma instituição bem organizada, se lhe é permitido fazer o que quiser, sem prestar contas? E penso que porventura até o melhor dos homens, com todo esse poder, ficaria fora dos limites do seu juízo habitual. Gera-se um excesso de orgulho pelos bens de que se dispõe e cresce a inveja, própria da natureza do homem desde que ele existe. Tendo estas duas características, o rei possui todas as más qualidades que pode haver: farta-se de praticar actos insensatos, uns por já ter cometido excessos até à saciedade, outros por inveja. De facto, um homem dado à tirania não devia conhecer a inveja, uma vez que tem todos os bens; mas é precisamente o contrário que grassa nas suas relações com os cidadãos – inveja os melhores enquanto vivem e estão à sua beira, e regozija-se com os piores, sempre pronto a dar ouvidos às calúnias. Uma das suas atitudes é o que há de mais absurdo: se se é comedido na admiração que se lhe manifesta, ele fica zangado por não ser lisonjeado com mais entusiasmo; se se lisonjeia com mais entusiasmo, fica zangado por se julgar adulado.
Por cá, na nossa terrinha. Assim.
posted by Luís Miguel Dias domingo, janeiro 08, 2012