A montanha mágica

sábado, fevereiro 20, 2010

If you ever go to Houston (25)







1. Disseram que quem viam sair da exposição saía de ar leve até bem disposto quando acabavam de ver algo de terrível, que era/é como se fossemos descobrindo camadas e mais camadas e mais camadas até chegarmos a sentir o rosto a corrigir feições expressões sentimentos.

Das imagens das acções às palavras do Padre António Vieira

"...cada um é da cor do seu coração", "a dignidade não se introduziu no mundo senão para abrigo daqueles que não a largam", "cada um ouve, não conforme os ouvidos, senão conforme tem o coração e inclinação", "nos grandes são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção", "o não ter respeito a alguns é procurar, como a morte, a universal destruição de todos", "a pior coisa que têm os costumes é serem costumes: ainda é pior que serem maus", "para as acções humanas escandalizarem não é necessário que sejam injustas; basta que humana e moralmente possam ser reputadas como tais", "nos males e bens ninguém é privilegiado, sintam todos o mal que toca a todos", "pelo que fizeram se hão-de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos"

ou, das palavras das acções às imagens vamos ficando cada vez mais sem pé nem mãos, lá fora os pavões.

Excerto do início da conversa entre Paulo Pires do Vale e Vasco Araújo no Pavilhão Branco, sábado dia 13 de Fevereiro de 2010.

[Curto excerto do texto de Paulo Vale: "Nos anos 30 do século passado, quando as aguarelas de Debret eram descobertas em Paris, quando Simone Weil trabalhava na fábrica e Hegel era relido por Kojéve na Sorbonne, Hermann Broch e Clement Greenberg, de mundos tão diferentes, interessaram-se e escreveram, no espaço de cinco anos, dois textos fundamentais sobre o kitsch.
Hermann Broch compreendeu que se a arte é um sistema de valores, este sistema pode ser perturbado por algo que vem do exterior, influenciando-o e pervertendo-o. Mas há algo mais perigoso: não o que é exterior ao sistema, mas o que lhe é interno, «o inimigo interior»1. O anti-sistema que todo o sistema é capaz de desenvolver em si. E ainda mais perverso porque parecem ser idênticos, e não se compreende que um é fechado (o anti) e o outro aberto. O sistema kitsch é, assim, um pseudo-sistema, fechado, e tem o germe do mal nele. Pode parecer-se em tudo com o sistema da arte, mas não é. É um sistema plagiário. O sistema aberto da arte é ético, o sistema fechado do kitsch é estético. E é nesta abolição da ética que, para Broch, se enraiza o mal: «O sistema do kitsch exige aos seus partidários: "faz um trabalho belo!" enquanto que o sistema da arte tomou como máxima o mandamento ético: "faz um trabalho bom!". O kitsch é o mal no sistema de valores da arte»2. E um mal que, segundo o autor, não se pode excluir, nem exterminar, e por isso é radical: ele trabalha de dentro, realizando uma autodestruição. A arte está do lado da verdade e do justo, o kitsch da mentira e da imitação da arte.

1. Hermann Broch, «Quelques remarques à propos de l`art tape-à-l`oeil« in Création littéraire et conaissance. Paris: Gallimard, 1985, p.321.
2. Ibidem, p.322.
]

Referiu o artista, mais adiante, que nenhum dos críticos que escreveu sobre este trabalho falou dessa dimensão ética, da estética apenas, não chegando, portanto, aos momentos mais difíceis vírgula terríveis.


2.Terrível é, por outro lado, logo o adjectivo utilizado por quase todos os críticos para falarem/escreverem sobre o Anticristo de Lars von Trier. Há aqui um paralelismo idiota e forçado nas ideias mas, é a vida, ocorreu-me.

É que como se disse ali em baixo, noutro post, o filme de von Trier é, para mim, um acto de amor, por diversas razões e por diversas pistas.

Fico cada vez mais surpreendido, é um direito que me assiste, com o número de gps´s que se vêem por aí nos carros, sim pode ser pela companhia de quem vai dando as notas, seria trágico mas bonito, e também pela falta deles nalguns críticos de vários géneros. Um gps é, também, à sua medida, um curriculum.

Em relação ao Anticristo algumas críticas é que me pareceram por assim dizer... algo apressadas. Mau, mau foi ver uma vez o Hostel1.

Tu dizes: a doença mental dela distorce a sua natureza (o que ela foi enquanto pessoa) que por sua vez distorce a sua percepção do meio.
Que: o doente psicótico ataca como defesa, interpretando a situação como ameaçadora; o psicopata ataca sem ser em defesa, com a intenção de induzir o mal sobre o outro.

Ela, doente (dizes: a doença não é só no processo de luto, já vem de trás, pistas: na tese dela vê-se uma perturbação da linguagem escrita pelo que se subendente uma perturbação ao nível do pensamento; mais tarde, acresce o conhecimento que ela intencionalmente calçou mal o filho, bebé - desconhece-se a intenção do gesto)

sem medicação por opção (na cena da casa de banho von Trier faz um grande plano sobre um frasco de comprimidos e sobre uma jarra com flores, focando e centrando-se depois apenas nos caules das mesmas, dando simultaneamente a entender a entrada num bosque; na água do autoclismo ficam os comprimidos),

e ele, decidem iniciar um processo terapêutico entre os dois, sem outra interferência humana. E vão para o Éden, oposição de Inferno.

Ela foi incapaz de ver a inocência das bruxas, que para ela eram merecedoras da fogueira e por isso também ela as condenou, condenando-se assim a si mesma e à sua natureza.

São vários os actos de amor:
- dela em relação a ele;
- dele em relação a ela;
- dela em relação filho;
- dele em relação filho;
- deles em relação ao filho;
- dele em relação à verdade/justiça/expiação das injustiças;
- do realizador em relação à natureza.


3. Agora, e também noutras dimensões.


posted by Luís Miguel Dias sábado, fevereiro 20, 2010

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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