segunda-feira, outubro 14, 2013
Não sei quantas notas sobre o novo e colossal filme de Kiarostami, Like Someone in Love:
- o brinco que brilha e o brilho do brinco de Akiko com que Kiarostami nos incendeia/desnuda ainda mais, que nos pergunta para onde vamos? E é por isso que depois ele pode dizer que a cena da avó junto da estátua numa rotunda à espera da neta é a cena central do filme. Sobre o tempo, sobre o nosso tempo, sobre o tempo que temos mas que já não temos, sobre a velocidade do tempo, como se fossemos um router sempre online ou onfire, o nosso esgotamento, a nossa vertigem da comunicação, como se estivéssemos sempre em todo o lado, como se fosse possível aguentar tudo sempre, o nosso corpo/paisagem engolido; onde está a nossa paciência para a espera? o tempo muito longo? que tempo vai ser/é o tempo que estamos e vamos viver? Quando nos expomos estamos a negar a própria experiência que estamos a viver, estamos a vivê-la por fora e não por dentro, como se afastássemos de nós a espessura do momento em troca da projeção doq estamos a viver num plasma para onde olham milhares ou centenas de pessoas.
O brinco é como um router é a comunicação permanente é o abdicar do nosso silêncio e de tudo o mais. Procurei um fotograma que mostrasse aquele brinco genial, avé Kiarostami, mas não encontrei. Fiz um printscreen e com o paint sublinhei-o. No filme ele vai-nos piscando conforme a câmara de Kiarostami quer. Quem fez os cartazes e os fotogramas do filme deve ter achado que aquele brinco que brilha era para nos distrair, mas é a vereda para a essência, para o núcleo. O final não podia ser outro. Will see.
Kiarostami: In most of my films, there’s usually one scene, one shot or one sequence that haunts me and I just go and make the film because I want to see this sequence happen. This is what happened with this sequence. Seventeen years ago, when the idea of the film was triggered, the only reason why I wanted to make this film was to make this sequence. I wanted to have one single shot of this girl driving three times around the roundabout, and us seeing the grandmother from a closer and closer distance, and us finally having a clue as to who she is. I wanted to have the shot of the grandmother with lots of obstacles in the middle that hide her (…) This was the crucial sequence of the film. But 17 years ago I had to give up the idea for the film, because there are no roundabouts in Japan! They are all square.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 14, 2013