«Enquanto estivermos inquietos,
podemos estar tranquilos»
Julien Green
Sobre “um destes dias demos de
frente com um S. Paulo que nos chamou a atenção”… é agora, não me lembro de
outro assim num momento tão culminante.
Sem palpites. Claro. Olha quem.
Até parece. É.
“Ai de mim se não evangelizar!”
Por exemplo, não me lembro de
ouvir muita reflexão nos templos ou assim à volta desta “viagem rápida por 1
Cor 7”, antes pelo contrário, sempre a remendar pela malha mais pequena e mais
mesquinha. Adiante, a viagem rápida:
I.
«Cada
um a sua mulher tenha» // «Cada uma o seu próprio marido tenha»
(1 Cor 7,2).
II.
«Para
com a mulher, o marido a divida conjugal cumpra» // «Da mesma forma, a mulher
para com o marido» (1 Cor 7,3).
III. «A mulher sobre o seu próprio corpo não tem poder, mas sim o marido» //«Da
mesma forma, o homem sobre o seu próprio corpo não tem poder, mas sim a mulher»
(1 Cor 7,4).
IV. «Não
vos recuseis um ao outro, a não serd e comum acordo, por tempo limitado, para
vos entregardes à oração, e de novo juntai-vos…» (1 Cor 7, 5).
[…]
VI.
«Se
um irmão uma mulher tem não-cristã, e esta consente em habitar com ele, não a repudie»
// «e se uma mulher tem um marido não-cristão, e este consente em habitar com
ela, não repudie o marido» (1 Cor 7, 12b-13).
VII.
«Na
verdade, é santificado o marido não-cristão pela mulher» // «e é santificada a
mulher não-cristã pelo irmão» (1 Cor 7,14ª).
IX.
«Que
sabes tu, mulher, se salvarás o teu marido?» // «E que sabes tu, marido, se
salvarás a tua mulher?» (1Cor 7,16).
X.
«O
que não é casado, cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o
que se casou, cuida das coisas do mundo, de como agradar à mulher». // «E a
mulher não-casada e a virgem cuida das coisas do Senhor; (…) mas a que se casou
cuida das coisas do mundo, de como agradar ao marido» (1 Cor 7,32b-34).
Estes excertos
são retirados do ensaio “Paulo, modelo de evangelizador” in “Uma palavra é
melhor do que um presente”, de António Couto (actual bispo de Lamego).
E diz, no
seguimento, António Couto: “Os enunciados que acabamos de enunciar são
absolutamente novos para a época, quer em mundo grego quer em mundo judaico,
pois conferem ao homem e à mulher, à esposa e ao marido as mesmas
possibilidades e oportunidades nos diversos domínios referidos […] É ainda
grandemente significativo para o contexto sócio-cultural da época que, para
além da paridade referida dentro da instituição matrimonial, S. Paulo reconheça
ainda à mulher em qualquer outro estado –virgem, viúva, pagã cujo marido se
tornou cristão—o pleno direito de dispor da sua vida, uma vez mais em plena
paridade com a parte masculina.”
Quem ficou como o S. Paulo do
retratista Joaquim Manuel da Rocha fomos nós.
Assim.
De boca aberta.
Olhos esbugalhados.
Mais uma vez, agora pela
raridade.
De antes deste vinham outros motivos:
do “Hino da Primeira Carta aos Coríntios”, do “não há judeu nem grego, não há
escravo nem livre, não há macho e fêmea, pois todos vós um sois em Cristo
Jesus» (Gl 3,26-28)”, do “Fui encontrado por aqueles que não me procuram;
manifestei-me aos que não perguntam por mim” Rm 10,20, do São Paulo de Teixeira
de Pascoaes, de “A teologia política de Paulo” de Jacob Taubes, do “Accattone”
de Pasolini ao “S. Paulo” que acabou por não fazer para nossa não felicidade;
até textos mais violentos, por exemplo aos que o homem-milagre Carl Dreyer
escreveu.
Noutro dia havemos de voltar a
Dreyer, a Pasolini e.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, julho 08, 2013