quarta-feira, maio 01, 2013
Aos trinta e um minutos e tal do segundo episódio de “Hannibal” exibido na tv fez a passda segunda-feira oito dias uma personagem sentada numa cama de um hospital lê para outra que está em estado de coma e uma outra que está a dormitar num sofá aos pés da cama acorda com a leitura.
O livro é uma antologia dos contos de Flannery O`Connor.
O conto que está a ser lido é “Um bom homem é difícil de encontrar”.
“Romper com o equilíbrio de todas as coisas e não poder fazer mais do que segui-lo ou fazer alguma maldade” diz Flannery “é a pedra angular que sustenta os meus contos”.
Nas palavras da autora “Um bom homem é difícil de encontrar é uma espécie de duelo entre a avó e as suas crenças superficiais e também um duelo entre o Inadaptado e a sua implicação com a ação mais profunda de Cristo, que o desequilibrou.”
Os contos de Flannery abordam sempre a nossa participação na vida divina, isto é, sobre a ação da graça que é, diz ela, “a única coisa capaz de provocar uma mudança de personalidade”.
Diz também: “parece-me que todos os bons contos tratam sobre a conversão, sobre a transformação de uma personagem. A ação da graça transforma a personagem. A graça não se pode experimentar em si mesma: por exemplo, quando vais comungar recebes a graça mas não sentes nada, se sentires algo não é a graça mas sim uma emoção produzida por ela. Portanto, num conto unicamente aquilo que podes fazer com a graça é mostrar que a personagem se está a transformar. Todos os meus contos tratam da ação da graça sobre uma personagem que não está disposta a aceitá-la.”
A personagem de Hannibal está em coma porque o pai, um serial killer, a tentou matar desferindo-lhe uma navalhada ou na carótida e/ou na jugular esvaindo-se em esguichos de sangue.
Em “Um bom homem é difícil de encontrar” diz a autora “o Inadaptado é tocado pela graça que provém da velha quando ela o reconhece como um filho seu, da mesma maneira que ela é tocada pela graça proveniente dele e do seu sofrimento.”
Em Portugal estão publicados os contos e as duas novelas.
Flannery O`Connor esteve uma vez em Portugal, numa viagem que fez à Europa em maio de 1958:
“O voo entre Roma e Lisboa foi nas Linhas Aéreas Argentinas. Não fomos a Fátima porque era um dia inteiro de viagem e R. estava bastante constipada. Os santuários da Virgem não parecem aumentar a minha devoção por elas e fiquei satisfeita por não ter ido. Sairam às oito da manhã e regressaram por volta das oito da tarde, todos esgotados excepto as irmãs B. que declararam sentirem-se muito melhor no fim da peregrinação do que no princípio.
Estou segura que poderia viver em Portugal por vinte e cinco centavos por dia.”
Flannery forever.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, maio 01, 2013