domingo, fevereiro 24, 2013
LMD, sem título, 2012
A subida da saída do parque de estacionamento até não é muito acentuada, até nada não diga-se. Por mais pesados que nos sintamos depois de ver o que vimos.
Primeira, segunda, terceira pé ao travão, segunda, arranca, olha para o lado esquerdo, terceira, stop.
Marcha atrás.
Máquina fotográfica.
Lá se aproximam eles dois. Olham e voltam a olhar. O ar não é ameaçador mas sim desconfiado.
Posso tirar uma fotografia?
Para quê?
Por que é que queres tirar uma fotografia?
(o sotaque rapidamente deixa entender que não são portugueses, e um deles ainda deve andar a articular as primeiras letras palavras sons)
Olha, sei lá, há tanta coisa que se pode fazer ou talvez tão poucas ou nenhumas… colecionar postais ou moedas ou cromos ou ir correr ou assim ou simplesmente nada fazer… mas também fazer fotografias, mesmo não sabendo, mas onde depois vejo coisas que nunca tinha visto e gostei dali, daquele átrio, do vosso átrio, que é de todos.
Ai é?
Sim.
Mas não podes tirar. Para quê? Por que é que queres tirar uma fotografia?
(Sorri para eles e conjugando a primeira pessoa) Já te disse. E também por teres Jesus ali, assim. Eis.
Deixa lá.
(já encostados ao carro, nós sentados de janelas abertas, mostro-lho a máquina, a desconfiança vai revelando dois homens aí na casa dos vinte, simpáticos e de olhos doces)
Mas por que é queres tirar fotografia?
A sério já te disse (e mostro-lhe algumas das fotos que já tenho na memória da máquina)
OK. Mas, tira-lhe a ele com Jesus.
E a ti também, ponham-se lá.
Não, a mim não. (Diz qualquer coisa ao outro). Mas a ele sim.
Claro.
Vai lá. E fala-lhe na língua deles (parece-me romeno, mas não sei).
Foi.
Tiro a fotografia.
Chamo-os para poderem ver.
Obrigado.
OK (dizem de sorriso no rosto).
Adeus, dizem.
Adeus, mas foi com um até qualquer dia ou um até breve que pensei (adeus, explicaram-me um dia, há alguns anos, não se deve dizer, é feio, é como se fosse até sempre, até nunca mais, até um tempo bem distante, embora seja uma palavra que parece levantar voo)
Por aquelas portas saía a maravilhosa voz/música de Amy Winehouse.
posted by Luís Miguel Dias domingo, fevereiro 24, 2013