A montanha mágica

domingo, janeiro 13, 2013

Voltemos a Michel Freitag:

“Uma aldeia, uma só, mas implantada no meio de alguns terraços cultivados no flanco de uma colina, humaniza a paisagem até ao fundo do horizonte; a pobreza e a solidão que as suas pedras abrigam projectam sobre o mundo em redor a presença de um sentido secreto e de uma ordem desejável. Até mesmo uma cabana de açucar que se entrevê semienterrada na neve por trás da cortina cor de cinza dos bordos dá testemunho do mistério que habita toda a presença e toda a obra humana. Até mesmo um poço abandonado à beira da estrada, junto ao qual os camionistas param ainda para beber uma gasosa.”

O capítulo XXXVII do Livro do Génesis conta-nos a história de José o filho mais novo de Jacob. Os irmãos de José aborreciam-se muito com ele por causa das histórias que ele lhes contava, principalmente os sonhos: “Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que vossos molhos [o] rodeavam, e se inclinavam a meu molho.

[…]

Eis que ainda sonhei um sonho; e eis que o sol, e a lua, e onze estrelas se inclinavam perante mim.”

Aqui seu pai como que o repreendeu.

Um dia como os irmãos foram apascentar o rebanho do pai para perto de Siquém sem José, Jacob disse-lhe para ele ir ter com eles e depois lhe trazer notícias.

Os irmãos vendo-o ao longe conspiraram contra ele primeiro falando em matá-lo depois atiraram-o para dentro de um poço vazio e depois venderam-o por vinte moedas de prata a uns mercadores que por ali passavam.

Ruben foi o irmão que o salvou da morte, sugerindo-lhes que o atirassem para dentro do poço.

No entanto decidiram contar ao pai que José tinha morrido, comido por uma besta, quando na verdade tinha sido levado para o Egipto onde foi vendido a um eunuco do Faraó.

O poço estava vazio de água. Mas cheio.

Thomas Mann na tetralogia sobre José escreve:

“Assim se aproximaram do fosso com José, no meio de jocosos «olé» e «olá», pois os irmaõs tinham sido invadidos no trajecto por uma espécie de alegra – a inflexível ousadia de muitos quando fazem obra em comum--, de modo que riam, folgavam e gritavam uns aos outros tolices como esta: «levavam de rastos uma gavela, bem atada, que havia de inclinar-se para o buraco, para a cisterna, para a cova». Mas tudo aquilo era apenas por se sentirem aliviados de não terem de seguir o exemplo de Caim ou dos cabritos, e também para não ouvirem as súplicas e as lamentações de José, que gemia ininterruptamente: - Irmãos! Piedade! Que fazeis? Parai! Ah, ah, que ides fazer de mim?”

Cheio de brechas por onde entrava um pouco de luz. Que.


posted by Luís Miguel Dias domingo, janeiro 13, 2013

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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