quinta-feira, dezembro 13, 2012
Esta já é terceira ou quarta entrada com citações tiradas de um jornal de arquitectura + a de hoje que é retirada de um livro de entrevistas de Hans Ulrich Obrist a várias pessoas dos mais diversos campos do conhecimento e a ou artistas. E parece que eles ao falarem de arquitectura estão sempre a falar de nós, da nossa visão do mundo, das nossas dores de amadurecimento, dos nossos ajustamentos, das nossas brechas, das nossas ruínas, do nosso lado mais luminoso ou do nosso lado mais escuro. No fundo, da nossa espessura.
Numa das entrevistas o arquitecto também da Casa da Música do Porto, Rem Koolhaas, diz o seguinte:
“Em vez de visitar vilas mediterrânicas ou aldeias de pescadores na Grécia para ´aprender` (como então se fazia, finais da década de 60), decidi simplesmente olhar para o Muro de Berlim enquanto arquitectura, documentá-lo e interpretá-lo, ver qual era de facto o poder da arquitectura. Foi uma das primeiras vezes em que, na verdade, saí e fiz trabalho de campo. Eu realmente não sabia nada sobre Berlim e o Muro, e fiquei absolutamente impressionado com muito do que descobri. Por exemplo, eu dificilmente poderia imaginar a maneira como Berlim Ocidental estava aprisionada pelo Muro. Nunca havia pensado sobre essa condição, e no paradoxo de que, mesmo cercada, Berlim Ocidental era tida como uma cidade ´livre`, ao passo que a região bem mais extensa além do Muro não era considerada do mesmo modo. Minha segunda surpresa foi descobrir que o Muro não era uma matéria única, mas um sistema que consistia parcialmente de lugares com coisas destruídas, como partes de edifícios ainda de pé e absorvidas ou incorporadas ao Muro, e muros adicionais –alguns realmente sólidos e modernos, outros mais efémeros--, o que, no conjunto, contribuía para formar uma enorme área. Isso foi uma das coisas mais intrigantes: tratava-se de um muro que assumia sempre uma condição diferente.
[…]
Até hoje fico estarrecido com o fato de que a primeira coisa que desapareceu após a queda do Muro foram todos os vestígios da sua existência. Acho insano que uma parte tão fundamental da memória tenha sido apagada, não por empreendimentos comerciais ou imobiliários, mas simplesmente em nome de pura ideologia –uma verdadeira tragédia.”
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, dezembro 13, 2012