quinta-feira, novembro 22, 2012
"Tento sempre fazer esculturas que sejam como a presença de um felino na sombra,do qual só apercebemos o brilho fugaz dos seus olhos"Rui Chafes
Para mim, uma definição do conceito de Cultura, a que prefiro, está num dos livros de Fiodor Dostoiévski: "Todos somos responsáveis por tudo perante todos e eu mais do que todos os outros."
No passado sábado de tarde pude e fui ao CCB assistir, no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival, ao "Simpósio Internacional: Arte vs Cultura e Indústrias Culturais".
Interessava-me muito ouvir três dos oradores: Rui Chafes, Maria Filomena Molder e Alfred Brendel (que acabou por não poder estar presente).
Captei através da máquina fotográfica algumas intervenções e alguns dos momentos, poderão visioná-los em canal:youtube/amontanhamagica .
E no vídeo seis, depois das maravilhosas, exigentes, entusiasmantes e rigorosas intervenções de Rui Chafes e de Maria Filomena Molder aberta a discussão João Barrento vai colocar a questão "devemos fazer isto, devemos fazer aquilo na situação atual, em relação à arte na sua relação com a chamada indústrias da cultura. A questão que eu coloco é quem fa-la ir, quem é este nós? Que voz, com mais ou menos autoridade, de que lugar sentido fala essa voz? Quem é esse nós? (...) Que caminho e que voz é essa?
Alberto Ruiz de Samaniego, filósofo e professor disse: "voz, uma comunidade não existente mas uma chamada... uma promessa de comunidade em que cada um de nós tem de tratar/tentar responder a essa pergunta.
Maria Filomena Molder: "Fazer com que nos obriguemos nós próprios a responder, com essas respostas minúsculas, até pode ser abster-se de, abster-se dos lugares comuns, ou por exemplo soar fora de moda, como... ou reacionário como disse o Bruno, abster-se... Valery num texto que Benjamin cita num livro de passagens diz que talvez tenhamos que inventar novos mosteiros, não no sentido de dizer não à vida, não, mas é no sentido abster-se, não comer tanto, não deitar tanta comida fora, respeitar a comida, respeitar a alimentação..." É melhor ouvir.
Rui Chafes, "Quem é essa voz? Eu acho que essa voz somos nós todos, todos. Todos porquê? Porque so existimos num contexto de comunidade. Eu nunca pensei na vida, nem por um minuto, em fazer arte para mim, eu não faço arte para mim, faço arte para os outros. Essa ideia de fazer arte para mim próprio e guardar na gaveta não faz qualquer sentido, é uma abstração e não tem sentido, ninguém faz arte para si, essa a ideia psicanalítica salvífica da confissão, do querido diário, isso não existe, não é arte. Arte é para os outros e tal maneira é para os outros que somos todos responsáveis, mas somos responsáveis no sentido comunitário de cada um na sua área, somos respon´saveis como o médico é responsável, como o físico ou químico é responsável, como o engenheiro é responsável..." É melhor ouvir.Os trabalhos e os títulos das obras de Rui Chafes mostram-nos isso mesmo: a ideia do todos, todos somos responsáveis, todos formamos uma comunidade, a ideia em matéria, o espírito: alguns títulos, por exemplo: "A minha voz na tua", "Vê como tremo", "Já não te oiço, já não te vejo", "Fala comigo", "I am your yesterday (and you are my tomorrow), "What frightens you so much?", "Sou como tu", "Eu sou os outros", "Onde estou?"Embora a intervenção de Maria Filomena Molder tenha sido maravilhosa, rigorosa e entusiasmante um aspecto houve menos brilhante quando se falou da presença de artistas mais radicais em espaços mais convencionais (vídeos oito e nove): quando se referiu a Pedro Costa e ao "Onde Jaz o Teu Sorriso?" É que a questão de que parte acho que não é princípio nenhum, é algo que já la está e que é assim e não pode ser de outro modo. Fez e filmou e trabalhou com os Straub porque sim. É mesmo assim. Não é questão. Pela qualidade da obra deles, pelos seus princípios, pelo seu lugar na história do cinema.
No final, o novo livro de Rui Chafes: ENTRE O CÉU E A TERRA.
De lá: "Dizia [Jesus Cristo] coisas belas, respondia com perguntas, ensinou que a finalidade de uma oração não é obter uma resposta: o seu desejo não era aliviar o sofrimento das pessoas ou reconstruir a sociedade, ele apenas tentou ensinar que não existe nenhuma diferença entre a nossa vida e a vida dos outros, que a história de cada indivíduo é a história do mundo, que todos somos um milagre que faz parte de um todo, que a nossa vida é o reflexo da extrema amplidão da nossa alma, que as coisas em si têm pouca importância e que apenas o espírito sobrevive. [...] Vejo-o como uma vela à chuva, que nunca se apaga."
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, novembro 22, 2012