segunda-feira, outubro 01, 2012
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Extra! Extra! Extra! Última hora:
1. Estão desfeitas duas dúvidas:
a) Jesus riu-se
e
b) Podemos ver, a-g-o-r-a, sim, v-e-r o que Jesus escreveu no chão.
2. Duas passagens bíblicas, do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. João:
a) Bodas de Caná, Jo 2, 1-11
b) A mulher adúltera, Jo 8, 1-11
3. O primeiro fotograma mostra Jesus a conversar e a rir ou a sorrir para um dos apóstolos ou para um dos convidados ou mesmo para o pai da noiva que, parece, Lhe está a oferecer um copo de vinho e que Ele, naquele momento, recusa. Até parece querer dizer “Não, mais não. Já bebi a minha parte”.
4. O segundo fotograma mostra Jesus, momento raríssimo, a escrever: “escrevia com o dedo em terra”, a começar a endireitar-se e a dizer-lhes[a Escribas e Fariseus] “Aquele que de vosoutros sem pecado está, [seja] o primeiro que pedra contra ela atire.”
E há um deles que aproximando-se vai olhar bem para aquilo que Jesus acabara de escrever. E também, enfurecido, a olhar para Ele, assim meio de lado.
5. O terceiro fotograma: o que escreveu Jesus “com o dedo em terra”. O que escrevia Jesus com o dedo em terra?
Será que aquilo que se vê é uma transcrição das palavras de Jesus que “aquele que de vosoutros…” ? Ali não é na terra mais parece uma tábua marmórea que Jesus faz parecer barro já amassado, pronto.
Griffith, de qualquer das maneiras, é um malandreco genial.
David Wark Griffith “nasce a 22 de Janeiro, em Crestwood, Kentucky. É o quarto filho de Jacob Wark Griffith, Coronel de Cavalaria do exército Sulista na Guerra de Secessão, e de Mary Perkins Oglesby Griffith.”
6. Escreve Tom Gunning “ O espectro de D. W. Griffith, o `pai`mítico do cinema enquanto arte, assombra a história do cinema […] Toda uma gama de técnicas foi identificada como sendo ´descobertas` de Griffith. Quando este mito da invenção deixou de poder ser sustentado, Griffith passou a ser visto como o homem que primeiro conferiu a estas técnicas um significado; ou que primeiro as usou num contexto artístico. Também apareceu uma inversão radical deste mito. Neste contra-mito, Griffith é visto como o traidor de uma ideia mais pura de cinema fundada no trabalho de Meliès e dos Lumière, como o homem que introduziu o elemento fatal da narrativa burguesa, o Adão de cuja queda o cinema ainda não recuperou.”
Tom Gunning: “A forma como o estilo inicial de Griffith resultou de certas exigências oriundas da economia cinematográfica e pelo tratamento de um aspecto do seu estilo: a montagem paralela […] O cinema ainda não tinha desenvolvido um estilo narrativo adequado às tradições burguesas que pretendia emular. A ênfase dos primeiros filmes tinha sido dada à mestria técnica dos efeitos mágicos (como nos filmes de trucagem de Meliès e da Pathé) e à criação de uma geografia unificada de plano para plano nos filmes de perseguição. Aparecia agora a necessidade de uma série de técnicas fílmicas que pudessem articular os elementos narrativos e envolver o público no seu desenrolar […] Através da montagem paralela, sentimos a mão do narrador à medida que ele nos leva de sítio em sítio, tecendo uma nova continuidade da lógica narrativa.
Assim, continua Gunning “a estrutura narrativa dos filmes baseou-se em peças, romances e poemas famosos. Antes de 1908, as fontes preferenciais dos filmes eram sketches do vaudeville e do burlesco, contos de fadas, banda desenhada e canções populares. Modelos que punham ênfase em efeitos espectaculares ou na acção física, em detrimento da motivação psicológica.”
Escreve Jacques Aumont: “Eisenstein, no célebre texto `Dickens, Griffith e Nós`, impôs Griffith como o inventor da montagem cinematográfica e o herdeiro das grandes tradições (literárias e romanescas) narrativas.
E continua: “quando Griffith sugeriu que um plano mostrando Annie Lee à espera do marido fosse seguido de um plano de Enoch ao longe numa ilha deserta, tal pareceu incompreensível: ´como pode contar uma história saltando de um assunto para outro? As pessoas não compreenderão nada!
Bem, diz Griffith, Não é esse o modo de Dickens contar uma história?
Sim, mas isso é Dickens, são romances, o que é totalmente diferente.
Nem tanto. Isto são histórias em imagens: não é assim tão diferente.”
Voltemos, para terminar, a Tom Gunning: “A montagem de Griffith torna-se uma força visível, que suspende, interrompe, e no entanto entretece, acções dentro das narrativas. O que é apercebido pos trás desse trabalho narrativo é a presença do contador da história. Esta invisível mas perceptível mão atingirá o seu apogeu em INTOLERANCE, o desastre comercial de Griffith.”
7. Os três fotogramas são de INTOLERANCE.
8. Lou Reed dizia que para os Velvet Underground queria a literatura, a narrativa.
Lou Reed: “Dei bastante importância às palavras, o que nunca tinha ouvido fazer antes. Isso parecia muito natural para alguém que, como eu, estudava literatura inglesa. Via todos aqueles songwriters que só escreviam acerca dum domínio de experiências muito restrito. Parecia-me uma coisa muito evidente e muito fácil abordar as canções como um romancista, a ponto de não compreender porque é que ninguém o tinha feito. «Ora bem, peguemos no ´Crime e Castigo`, Dostoiévski, e transformemo-lo numa canção de rock´n´roll». Mas o reverso da medalha é que ninguém queria escutar as minhas canções.” p. 14
9. Por dentro.
10. Dois exemplos portugueses recentes:
a) Aldina Duarte, Contos de Fados: letras a partir de obras de Dostoiévski, Eugene O´Neil, Tenesse Williams, Fernando Pessoa (ia a escrever Pessoa e escrevi Pessoas), Eurípides, Esopo, Herman Hesse, irmãos Grimm, Ricardo Reis, Carson McCullers e a certa altura uma canção que é apresentada como “a partir de uma história real”. Ora… e as outras… não…
b) Os Lacraus / Encaram o Lobo, a partir dos contos de Flannery O`Connor. A canção “Canção para a Flannery O`Connor”. Viram o a? “Para a”.
Letra de Tiago Cavaco:
És a única menina católica a quem serei fiel
O teu rosário, a tua reza, o teu rito, teu reino rural
Encaras o lobo na cama, dás-me dieta de sangue e mel
O sol brilha em todas as cores nas penas dos pavões no quintal
Está tudo na tua voz, está tudo na tua voz
Tens-me pronto no teu ponto
Tens-me a vida na tua vírgula
Flannery
O meu coração treme por cada história de crime ateada pelo teu nome
A vítima geme ao saber que é firme o papel que o mal assume
Mas só a ternura permite a travessura de escrever sobre tortura
Trinta e nove anos a gritar “Glória nas alturas!”
Comprem tudo o que encontrarem de Flannery nas livrarias e em todo o tempo livre metam-se em casa e logo que começar a soar assim para o estranho aguentem. É a vida. Por dentro. Plagiando direi que rezo a Flannery.
11. Quem leu ou se lembra ou viu e se lembra sabe que em “O nome da rosa” o riso é uma questão central que é abordada sob dois pontos de vista: a tradição dos que proíbem o riso (que o riso mata o medo que assim afasta a fé) e aqueles que acham que rir é coisa da natureza humana, logo.
O livro da rosa, desaparecido que mata, é um livro de Aristóteles um segundo livro/volume da “Poética” sobre a comédia e sobre o riso. Discutiu-se sempre muito se Jesus alguma vez tinha-se rido, se se ria, por exemplo no século V S. João Crisóstomo defendeu a tese mais radical: que nunca Jesus se tinha rido.
E Umberto Eco é brilhante na síntese que faz sobre isso mesmo e nas conclusões a que chega, recolhe um conjunto de textos fundamentais desde Aristóteles até à Idade Média sobre a questão do riso e sobre o que é a verdade: verdade: é aquilo que nos leva a evitar a própria verdade.
De Aristóteles, Séneca, Santo Agostinho, Padres do deserto, Regra Beneditina...
Bergson disse que “o nosso riso é sempre o riso de um grupo”.
Lindo.
E, hoje, pouco ou nada se lê ou se ouve sobre o riso de Jesus ou em Jesus. Jasus.
12. O comboio passou de parado a imobilizado. Entroncamento. O relógio marca 02:22. Carruagem 22 do intercidades, lugar 41 janela.
Partimos às 19h30m e só chegaremos ao Porto por volta das oito e trinta minutos da manhã.
13. Um destes dias próximos outro milagre mostrado por Griffith.
14. Em 1947, um ano antes de morrer, Griffith “dá uma última entrevista onde refere os nomes dos que julga serem seus herdeiros: Preston Sturges, Frank Capra, William Wyler e Orson Welles; fala entusiasticamente da última novidade tecnológica (o ecrã largo); evoca nostalgicamente o tempo em que começou a realizar filmes, referindo a perda da inocência do cinema: ´[a falta] da beleza do vento nas árvores, o ténue movimento dos lírios. Esqueceram totalmente… Perdemos a beleza.´”
15. Não.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, outubro 01, 2012
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