quarta-feira, janeiro 04, 2012
Pedro Costa, Manoel de Oliveira + por exemplo, Manuel António Pina
ao abrir a porta de casa calquei sem querer e sem contar umas folhas que lá tinham metido, quem?
a dado passo do monólogo, Manuel António Pina
"mas do que nós estamos precisados não é de bons poetas, é de boas pessoas. Acho que a bondade está acima da poesia (...) Na realidade eu não me levo muito a sério. Há um poema do Carl Sandburg sobre uma vaca que deu um coice num candeeiro, o candeeiro caiu e incendiou Chicago. E ele acaba assim: «Para quê tudo isto, para quê tudo isto?» (...) A ironia é uma coisa muito triste (...) Tudo tende para o esquecimento, é essa a nossa condição. Às vezes fico muito triste quando vejo alguns artistas a trabalharem para a posteridade. A posteridade quer lá saber. Os velhos tipógrafos diziam-me sempre: «Não se preocupe com isso, amanhã é para embrulhar peixe.» O problema é que tudo é, no dia seguinte, para embrulhar peixe (...) A grande dignidade do jornalismo --e da própria natureza humana-- é tentar fazer o jornal o melhor possível sabendo que no dia seguinte ele vai embrulhar peixe. O mínimo que nos é exigível é o máximo que somos capazes de fazer. Nas coisas simples do dia a dia. Ser da maior bondade possível no quotidiano. A bondade é a maior de todas as qualidades. Inclui a beleza, a justiça e a verdade. Ser o mais bondoso possível sabendo que isso é inútil. O Luiz Pacheco dizia que daqui a cem anos ninguém se lembra: qual daqui a cem anos, amanhã já ninguém se lembra. Nem isso importa. Tudo tem o mesmo destino."
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, janeiro 04, 2012