terça-feira, outubro 25, 2011
é mais do mesmo, do que somos, do que mostramos e, se calhar, mais importante: do que não mostramos mas que se vê, que se torna muito visível
aqui há umas semanas, mais ou menos um mês, creio, foi posto à venda o quarto e último volume da História da Vida Privada em Portugal, direcção de José Mattoso
nesse volume há a reprodução de uma fotografia de Agnés Varda (duas vezes) Maria do Alívio, Póvoa de Varzim ,1953, bela fotografia
ora, na semana seguinte o caderno actual do expresso reproduziu essa mesma fotografia sem dizer de onde vinha, assim de chofre, assumindo o “Nem me falta na vida honesto estudo, / Com longa experiência misturado” como epígrafe semanal; isto também somos nós, a miséria miserabilista que é o semanário expresso no seu todo e que é um excelente medidor e mantenedor da mediocridade instalada, que sobreviverá por longos anos, é a vidinha, o que é que eu ganho com isso?
um destes dias, quinze, creio, Vasco Pulido Valente deu como exemplo a Inglaterra para dizer há países onde não há décimo terceiro mês nem subsídio de férias, naquele sítio, onde dizia isto, parei, voltei atrás, parei, voltei atrás
inglaterra
os in-gue-le-ses
Vasco Pulido Valente comparou portugal com inglaterra, comparou os trabalhadores ingleses com os trabalhadores portgueses, comparou a classe média portuguesa com a inglesa
inexplicável, inexplicavelmente
volto a uma conversa do verão acabado de findar: conversavamos sobre na frança e em portugal, que lá em frança não se pagava subsídio de natal nem subsídio de férias, que aqui por que é que ainda se pagava? perguntei quanto é ganhava: 1200 euros, trabalhadora textil ou semelhante, ao fim de 35 anos de trabalho. 1200 euros? quanto é que acha que hanha x? Não sei, respondeu. O salário mínimo, 480 euros. Ao fim de 40anos de trabalho.
Silêncio. Voltando disse: nos anos 80, do século XX, François Miterrand tornou constitucional que as nossas empresas teriam que distribuir mensalmente uma percentagem dos lucros obtidos. Isso fez com que nós trabalássemos mais, nos sentíssemos mais responsáveis e mais bem remunerados, mais justamente remunerados.
pois, aqui não há esa distribuição e por isso parece-me mais do que justo que haja o subsídio de férias e o décimo terceiro mês. E o que mais me deixa a pensar, agora, que fiquei a saber isso que Miterrand fez, é que portugal país sempre com a boca cheia de frança fez orelhas moucas, no café de la paix se calhar falava-se disso a chamar comunistas filhos da puta a quem conseguiu tanta justiça junta
voltando a Vasco Pulido Valente, dizer outra vez que não percebo a sua comparação e duvido que em portugal... bom... dos que nos têm governado e dos que nos governam têm todos nenhuma vergonha na cara, se pensassem assim um minuto no país que são... um minuto só.... assim de norte a sul... que pensassem... que parassem... foda-se... olhem lá para fora.... o que vêem? de onde é que vocês sairam? de onde vêm? um minuto só...
passados uns dias Vasco Pulido Valente intitulou outro artigo de Realejo, sobre os políticos que nos governam "que os poderíamos com vantagem substituir por um realejo" mas de quem me lembrei de imediato foi de João César Monteiro, que, ao realejo, no Vai e Vem, nos conta uma linda história
depois uma nota sobre o que escreveu José Pacheco Pereira sobre a ideia de “criminalizar” os políticos responsáveis pela situação e desaguar na falta de cultura democrática.
creio que quando se diz que o mundo mudou no dia 11 de setembro de 2001, esta foi uma das mudanças fundamentais: toda a gente, mais tarde ou mais cedo, cada vez mais em cima dos acontecimentos, tem acesso a muita informação, veiculada pela net, tvs etc etc o que vai aumentar a exigência e escrutínio.
aliás, acho que o tempo que estamos a viver já não existe, estamos na transição de algo que não conhecemos ainda, as estuturas de um novo mundo estão a ser cimentadas já; claro que existe, há fome, há doenças, há miséria, há pessoas a ter de viver com um euro por dia...
à criminalização dos políticos só se chega por tal fartar e de vaidade pornográfica também por esse mundo fora; e parece-me que só será aplicável naquilo que será facilmente explicado por negligência grave e persistente; alguém que se rodeie dos melhores assessores e técnicos e conselheiros (qual é o presidente que não os pode ter? e o primeiro ministro que não os pode ter? e de vários quadrantes que não os seus; sim, sim, Maquiavel) não conseguirá cometer erros da monstruosidade actual. O que esteve o Banco de Portugal a fazer nos últimos anos? e a Presidência da República? Existiu? Serviu para o quê? É preciso parar, refletir. Portugal é o quê?
também tento perceber a argumentação de Pacheco Pereira enquanto cidadão e enquanto político, mas discordo dela e não acho que neste momento se possa apelidar mais de democrata do que, há que sair da esfera, da dimensão, pôr-se em causa
é que, quando é que algumas pessoas vão deixar de achar que aquilo que nós estamos a ver não é aquilo que nós estamos a ver? como no futebol, por exemplo, que é para milhões e milhões de pessoas e mesmo assim dizem a todos esse milhões e milhões que o que estão a ver não é o que estão a ver, caso do chelsea-barcelona de há três anos atrás e em quase todos os jogos da liga portuguesa. O que se passará quando ninguém está a ver? ninguém, agora? nestes e nos anos futuros?
é preciso responder? com e sem ponto de interrogação
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 25, 2011