sexta-feira, outubro 07, 2011
duas ou três notas sobre o que li nestes dias dos maravilhosos Artistas Unidos
1. Musset - Carl Theodor Dreyer (Hjalmar Söderberg)
Alfred de Musset, Não se brinca com o amor
PERDICAN Somos muitas vezes traídos no amor, muitas vezes magoados e muitas vezes infelizes; mas amamos, e quando chegamos à beira da cova, voltamo-nos para olhar para trás, e pensamos: Sofri muitas vezes, enganei-me algumas vezes, mas amei.
Carl Dreyer, Gertrud
Look at me a little.
Am I beautiful?
No.
But I have loved.
Look at me a little.
Am I young?
No.
But I have loved.
Look at me a little.
Am I alive?
No.
But I have loved.
2. no site dos artistas unidos, sobre HERODIADES de Giovanni Testori:
"Testori, o autor das novelas que deram origem ao Rocco de Visconti"
i)quando há uns tempos atrás li José e seus irmãos de Thomas Mann e pouco depois vi Rocco e os seus irmãos de Visconti e que coincidiu com a edição do belo catálogo Visconti violência e paixão (Porto, 2001) onde tive a oportunidade de ler alguns textos
ii) nesses e noutros textos li quase sempre sobre a proximidade de Visconti a Mann, e não falo do óbvio A Morte em Veneza
p.168 do catálogo citado: "Noutra fase da vida, e noutras entrevistas, citou outros nomes. Em 1971, disse ao Il Mondo: ´Eu próprio pertenço ao tempo de Thomas Mann, de Proust e de Mahler. Nasci em 1906 e o mundo que me cercava --artístico, literário e musical-- era esse mundo."
Mais abaixo na mesma página, e estamos a ler João Bénard da Costa: "De Thomas Mann adaptou para bailado Mario und der Zauberer e para o cinema A Morte em Veneza. Joseph und sein Brüder foi uma das matrizes de Rocco e até ao fim da vida sonhou a daptar A Montanha Mágica."
E na página anterior: "Como, depois de Senso, não lhe pareceu contraditório fundir Verga e Thomas Mann, Dostoiévski e Rocco Scotellaro em Rocco e suoi fratelli, talvez a mais lancinante e desesperada tentativa de conciliar um fresco à glória do proletariado com as referências culturais mais sofisticadas."
Página: 167: "No mesmo ano de 1960 --o ano de Rocco-- Visconti protagonizou o escândalo da sua encenação de L`Arialda de Testori (proibida por obscenidade..."
Na página 156, Lino Micciché: "Dos restantes doze filmes, há que distinguir aqueles que envolvem mais de um texto literário e aqueles que envolvem um único texto. Os primeiros, sempre por ordem cronológica, são: Rocco e os Seus Irmãos (Testori, Dostoiévski, Mann, Miller)..."
Na página 173, Carlos de Ponte Leça: "Em parte sob a influência da estética realista de Do alto da ponte de Arthur Miller, que entretanto encenara com grande êxito, Visconti realiza em 1960 Rocco e os seus irmãos, com base num romance de Giovanni Testori. Conforme afirmou o realizador, trata-se de uma espécie de segundo episódio de A terra treme: uma obra igualmente empenhada na problemática social italiana contemporânea, e também matizada por uma visão tributária do materialismo dialéctico.
Desta vez, através da história de uma família emigrada da Lucânia para Milão, Visconti debruça-se sobre a contraposição entre a sociedade agrária subdesenvolvida do Sul e a sociedade industrial corrompida do Norte, sobre o problema da emigração interna e da exploração da força do trabalho do homem, sobre a destruição do mito da grande cidade."
Na página 197, Manuel Cintra Ferreira: Para Rocco e suoi fratelli, Visconti parte Il ponte della ghisolfa uma recolha de contos de G Testori, mas é de novo Dostoievski que parece marcar o percurso do filme com o personagem Rocco evocando, como já foi apontado, o príncipe Mouschkine, personagem central de O Idiota, com a mesma tendência sublime para o sacrifício. Mas representa também a influência que Gramsci exerceu sobre Visconti. Foi o próprio realizador que esclareceu."
Da página 79, Lino Micciché: "Ao mesmo tempo, o denso entrecruzar de figuras, personagens, histórias, psicologias (e são particularmente cuidadas as de Rocco, Simone, Nadia e a da mãe; mais superciais, e às vezes pouco mais que esquemáticas, as de Vincenzo, Ciro, Ginetta e, obviamente, do pequeno Luca) põe em evidência --mesmo do ponto de vista estrutural-- ambições romanescas, mais atentas à solidez do modelo de Mann (José e os irmãos) que ao ritmo da prosa de Testori sobre os bairros populares de Milão (Il ponte della Ghisolfa)."
3. Em The Cambridge Companion to Thomas Mann, edited by Ritchie Robertson, no ensaio Religion and culture: Joseph and his Brothers, Wolf-Daniel Hartwich escreve, excerto: "While this monumental work was emerging, the Weimer Republic collapsed, the Nazis came to power, and Mann wento to exile and emigrated to the USA, where he struggled to find a political attitude towards Germany (...) Only very recently have schollars sought to treat Mann´s Egypt as a reflection of his own historical experiences. The themes drawn from the history of religion now appear as a response to the political and intelectuall situation that was defined by the growth of Germann fascism."
Quase mesmo a terminar, Anatol Rosenfeld em Thomas Mann, editora perspectiva, 1994, escreve, excerto: Depois de ter abandonado em 1933 a Alemanha, passou cinco anos na Suiça, radicando-se por fim nos Estados Unidos (1938-1952), onde se naturalizou e colaborou intensamente no combate aos fascismo, muito solicitado por círculos exponenciais e estreitamente ligado a Roosevelt, a cujo New Deal ergueu um monumento no último volume de José e seus irmaõs (José, o Provedor)."
4. Donde, os artistas unidos são maravilhosamente lúcidos.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 07, 2011