quinta-feira, julho 14, 2011
esta semana fiquei
ao ler no Hospedaria Camões um excerto do poema de Manuel de Freitas
MOTET POUR LES TRÉPASSÉS
Este poema seria teu, Inês,
se não fosse de ninguém.
Ao chegarmos de Lisboa,
depois da paragem ritual
no Café Lisbela — onde tudo
se compra e tudo se perde —,
vimos uma cadeira de rodas
à venda, uma motorizada
ao lado, uma igreja vazia
da qual certamente gostariam
Andrei Tarkovsky, Tonino
Guerra ou Ana Teresa Pereira.
A poucos metros dali, o meu pai
morria, tentava penosamente resistir
a uma hemorragia cerebral. Mas
isso, claro, ninguém precisa de saber.
Apenas tu, poema, que vieste de comboio
confirmar dia após dia que o Tejo
está onde sempre esteve: triste, azul, parado.
a Manuel de Freitas parece-me que se pode aplicar as palavras de Jean-Luc Godard em JLG por JLG sobre as imagens: que aquelas que são fortes são as longínquas e justas
vimos uma cadeira de rodas
à venda, uma motorizada
ao lado, uma igreja vazia
da qual certamente gostariam
Andrei Tarkovsky, Tonino
Guerra ou Ana Teresa Pereira.
ou Ana Teresa Pereira
que um dia e única vez cheguei a uma livraria e trouxe todos os livros dela
Manuel de Freitas é justo o suficiente para a colocar ao lado de Tonino e de Tarkovski; já se vai à Madeira por causa de Ana Teresa Pereira e no futuro
também, por mais um Pedro Costa, O nosso homem, a apresentar no curtas de Vila do Conde
Eu era bom pedreiro. Nunca fiz uma parede torta. / O meu patrão nunca se queixou de mim. / Um dia o trabalho acabou, fiquei sem fundo de desemprego. / Sem reforma, sem abono de família. / Procurei trabalho por todo o lado e nao encontrei. / Não levava dinheiro para casa e a Suzete correu comigo.
e muito também, porque no site de Pedro Costa vi lá um link para o dias felizes
tão justo e de tão longe, também
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, julho 14, 2011