A montanha mágica

segunda-feira, junho 27, 2011

quando uma nova História de Portugal é editada quem é que se ouve? José Mattoso
a Gulbenkian edita não sei quantos volumes sobre o Património de origem portuguesa no mundo, e quem se convida para ser o seu Director? e quem se ouve? José Mattoso
é reeditado Portugal O Sabor da Terra, e quem se ouve? José Mattoso
edita-se, pela primeira vez uma História da Vida Privada em Portugal, e quem é o seu Director? e quem é que se vai logo ouvir sobre os costumes e assim dos portugueses? José Mattoso
quem se ouve sobre ....?, José Mattoso
e assim sucessivamente, estes foram talvez alguns dos poucos exemplos dos últimos tempos
e outros exemplos com mais tempo mas em diferentes momentos quase sempre referidos, dada a sua importância na e para a historiografia portuguesa mas não só: Identificação de um País, vol. I e II, e aquele que foi uma novidade absoluta Ricos-Homens Infanções e Cavaleiros, quem se refere ou cita? José Mattoso

aliás, em Portugal as pessoas públicas (que lindo) contribuem decisavamente para a manutenção de um espaço público verdadeiramente infantil e interesseiro, fazendo lembrar outras paragens onde uma elite estuda viaja passeia pelo mundo mas depois em casa comportam-se como verdadeiros caciques intolerantes e mostram-se mesmo mantenedores de uma situação que talvez Calimero achasse interessante

José Mattoso diz o que diz, tão importante e de tanta responsabilidade, e tão grave, "O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos."

a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos

e o que se diz, comenta ou escreve? nada, José Mattoso de grilo, rien, nada, silêncio longo a querer mandar, lembrar o esquecimento, processos i-l-í-c-i-t-o-s


respeito a escolha do site da pastoral da cultura em não editar e publicar toda a palestra/comunicação de José Mattoso em Fátima no passado dia 17/6, mas não concordo, por diversos motivos;

por isso aqui fica outra vez, depois de mo terem roubado uma vez, o texto todo





“O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 89 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média Ocidental. A sua origem é, portanto, profundamente cristã. Não apela para a fraternidade de irmãos de sangue mas entre irmãos de crença.

Mas a vida monástica não é, evidentemente, uma solução para a organização da sociedade, mas apenas um sinal, um símbolo que promete transfiguração da fraternidade humana em fraternidade divina.

Todavia, ao contrário do que acontecia na vida monástica e religiosa, e muito menos nas confrarias, seria impensável considerar a fraternidade revolucionária como um ideal que processe a diminuição do indivíduo na comunidade. As regras monásticas criaram práticas tendentes a suprimir a vontade própria e a sacrificá-la ao Bem Comum.

A evolução da cultura ocidental depois da Idade Média, todavia, não foi nesse sentido. Pelo contrário, valorizou cada vez mais a autonomia individual na criação intelectual e artística, no desenvolvimento da personalidade, na responsabilidade pessoal, na iniciativa da acção.

A fraternidade revolucionária é temperada pela liberdade. Concebe a formação e o desenvolvimento da sociedade como resultado da associação harmónica de esforços voluntários individuais.

Aparentemente esta ____ já não espelha de uma maneira tão evidente a origem cristã. Em si mesma, porém, não só não contradiz mas constitui uma forma mais perfeita da realização. Uma vez que Jesus Cristo aceita entre os seus discípulos não só homens mas também mulheres, não só adultos mas também crianças, não só pessoas sãs mas também cegos, estropiados e leprosos, não só judeus vulgares mas também levitas e sacerdotes do templo, não só fariseus e cumpridores da lei também mas também publicanos e soldados romanos, e se entre os seus discípulos havia temperamentos tão diferentes como os de Pedro e de João deve-se concluir: que a imitação de Cristo exige a edificação do Bem Comum, exige a conciliação da edificação do Bem Comum com a realização pessoal.

A realização pessoal implica a liberdade para com todas as leis do mundo. Por isso diz S. Paulo aos Gálatas, que foi para a liberdade que Cristo nos libertou.
Se o ideal monástico medieval não põe em evidência o indivíduo mas a comunidade, é em Jesus Cristo que tem de se procurar a valorização na convivência fraterna, como apoio e estímulo à realização pessoal.

[…]

Contudo, a fraternidade em que falam os liberais pode ter uma inspiração diferente e ao mesmo tempo muito mais precisa. Na mente dos seus ideólogos tinha sem dúvida como modelo oculto a fraternidade maçónica. Para alguns dos seus principais fautores significada a ajuda mútua na prossecução de um modelo de sociedade organizada em função da implantação do progresso universal, como era concebido nesse período.

Este objectivo devia ser alcançado com o concurso e sob a orientação de uma elite esclarecida. A sua eficácia baseava-se na coordenação de esforços de indivíduos escolhidos a dedo, no compromisso da ajuda mútua, tanto para garantir o sucesso pessoal de cada um deles como para suprimir os obstáculos à realização da humanidade por meio do progresso.

Se teoricamente não existe contradição entre fraternidade maçónica e fraternidade cristã, também não se pode negar em muitos casos concretos que o que prevalece é a oposição. Assim acontece nas lojas que continuam o ateísmo e cujos membros se associam para beneficiar da troca de favores pessoais.

O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos.

A sabedoria cristã não acusa a fraternidade maçónica como tal mas também não pode deixar de apontar os riscos, a perda dos critérios morais quando o objectivo é favorecer um grupo secreto e excluir os seus concorrentes.






termino, outra vez, com A História Não Acabou de Claudio Magris, com um excerto da crónica Átomos, «bits» e crimes: "nesta transformação é o próprio homem que se está a transformar, alterando o seu modo de perceber e desejar as coisas, de raciocinar, de ser. O indivíduo jão não se sente um eu compacto e unitário, com uma consciência que instaura valores e juízos de valor, mas antes um agregado ou uma rede de pulsões e reacções, uma flutuante medusa que não se sabe muito bem onde acaba o seu corpo e começa o mundo, qual é a fronteira entre um seu filamento sensível e uma alga que o aflora fazendo-a reagir. Nietzsche tinha previsto esta mutação do homem; talvez --como conta, com surreal fantasia sul-americana somada a uma amarga ironia iluminista, Juan Octavio Prenz, na sua esplêndida Fábula de Inocencio Honesto, el degollado-- também a nossa cabeça esteja a transformar-se noutra. Torna-se cada vez mais difícil -- mas por isso cada vez mais necessário -- estabelecer limites e valores éticos. Como dizia o Padre Brown, o padre polícia de Chesterton, defendendo a universalidade da moral: «Pense em florestas de diamante com folhas de brilhantes. Pense até que a Lua é uma gigantesca safira. Mas em palnícies de opala, sob abismos de pérolas, há-de encontrar um aviso que dirá: ´Não roubar.`»"

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 27, 2011

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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