A montanha mágica

sexta-feira, abril 15, 2011


LMD, sem título, 2011



1. Dizia Obama, e muito bem, ainda em campanha, que lá para os lados de Washington os homens e as mulheres estavam com o olhar viciado e o raciocínio toldado, como Roma outrora e assim. Que era era preciso que alguém de fora lhes dissesse isso na cara. Mas as pessoas já não sabem nem estão preparadas para isso. Levam a mal. Ficam incomodadas. Certo. Parece que se riem quando falam da e de palavra.

2. Em Portugal quase não se encontra alguém nas páginas da net e dos jornais e das revistas que não precise de se isolar e de se desmamar dos vícios e da toldação que por viverem perto e dentro do sistema político, quer como político, quer como assessores, quer como cronistas, quer como jornalistas, quer como comentadores, que parecem já não ver o essencial, apenas a sua dama ou o seu clube ou o seu vão de escada a sua agremiação a sua loja. E é assim que vamos vendo. E vivendo. Para não incomodar. E empertigados quando uma câmara de tv se lhes aparece pela frente.

É da velhice mais rasteira ler e ouvir comentadores e assessores aí até à geração hoje nos quarenta anos (e de outros ainda mais velhos pode ser pior, procure-se a entrevista do presidente do PS à antena 1, há cerca de 15 dias, não tenho palavras para descever tal falta de vergonha). Parecem já ter 120. Podia dar exemplos, tenho-os ali noutra folha, mas não vale a pena, iam achar que enfim. Não.

Mas no geral sim, é isso que se observa. E está quase tudo viciado. Por exemplo, sobre maturidade e bem comum: ouvindo num destes dias já mais madrugada esparramado no sofá numa mesa redonda na tv António Barreto defendia que se devia conhecer a fundo o estado das contas públicas, apurar o mais possível a verdade, e outro participante, que não me lembro agora do nome, mas acho que é o director do Diário Económico, que dizia que não, que era pior para nós, que tentar chegar mais perto da verdade só ia piorar.
O que daqui me interessa é a maturidade destes dois homens, um mais velho que o outro, um pode ser filho do outro, mas o que me interessa mesmo é: será que António Barreto defenderia o que defende hoje se tivesse a idade do director do Diário Económico? E o director do referido jornal, quando tiver mais trinta anos em cima, como poderá olhar para questões idênticas?

Parece que um ou outro funcionário político europeu mandou para cá uma das grandes larachas leia-se verdades, parece que perguntou aqui se quem por cá governa não se preocupa com o seu povo? Então os mercados atentos a tudo, a todas as palavras e...

Hello?

3. Outro exemplo da maior vergonha foi o que se passou e passa, habitalmente, desde há muitos anos, no futebol português, que só chamo para aqui porque passa em transmissões televisivas em directo para milhões de pessoas visionarem. E o que se passa, então? Um sistema, sim, de tal forma que nós como país só podemos ser como somos e só temos o que merecemos. Está quase tudo ali. O campeonato de futebol ganho pelo clube representativo da cidade do Porto é uma vergonha tão grande como o primeiro ministro da república de Portugal.

O que é esquisito é ver comentadores e outros entendidos a comentarem futebol de uma forma e política de outra, achando que há diferenças na dignidade, e no bom nome.

Uma vergonha sem nome.

4. Ainda só ouvi/li duas ou três pessoas, o que é uma multidão, dizerem que é preciso chegar a uma reunião da UE seja ela qual for e dizer/explicar o que é e foi o Portugal mais recente, e explicar bem. Talvez desde as invasões francesas, no início do século XIX. Mas para isso é preciso credibilidade e inteligência, coisa que parece disponível apenas para a luta partidária e para chincana.

5. Os actuais dirigentes políticos e desportivos, por serem os mais mediáticos, fazem cada um deles acusações uns aos outros -leia-se do PS e do FCP- só para os seus adversários não as fazerem a eles próprios. É tão claro. Dizem aos outros aquilo que eles próprios têm alguma noção do que são. E é trágico, muito.

6. Caro professor _____ ______, saiba que aquilo que me ensinou sobre Portugal não ser um país de brandos costumes, e que já por mais do que uma vez aqui o reproduzi, já corre por aí, em algumas bocas, apoderando-se como se de reflexões próprias lhes coubessem, e que uns dias antes escreviam nas suas poltronas/tribunas e na tv também veja lá, que sim, sim, Portugal país de brandos costumes... ai se não fôssemos um país de brandos costumes.... É com muito gosto que o informo disso. Um abraço. Ponto.

7. Em Portugal, pelo menos, parece que se obedece cegamente às ordens de alguém misterioso. E aceita-se isso, essa falta de liberdade, que faz de nós mais reptéis do que seres humanos.

8. Em Espanha há uma família real, o ordenado mínimo é o que é, o das classes médias é o que é, a distribuição da riqueza desde 1975 é o que é, e o primeiro ministro espanhol acaba de dizer que não se recandidata. Perguntas antigas, desde 1975 quantos primeiros ministro espanhóis conhecemos?

E portugueses? E o primeiro ministro da república portuguesa o que anda e vai continuar a fazer? É uma diferença abismal, é a diferença entre nós e aqui os nossos vizinhos, aqui está ela escancarada, tão simples.

Cá é mais, e o que é que eu ganho com isso? desporto nacional, como se sabe.

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, abril 15, 2011

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