quarta-feira, abril 27, 2011
Dos maravilhosos volumes do Dicionário de História de Portugal deixei aqui, no Verão passado, o Complexo Histórico-Geográfico, de Vitorino Magalhães Godinho.
Hoje, a partir também de apontamentos que tirei nas aulas de História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, aqui fica um breve resumo; o Complexo Histórico-Geográfico está disponível ali no canto superior direito, no Scribd.
do Dicionário de História de Portugal, Iniciativas Editoriais, 1963
O Complexo Histórico-Geográfico é, desde logo, uma perspectiva teórica e de oposição à historiografia tradicional, comungando antes da École des Annales dos fundadores Lucien Fevbre e Marc Bloch, de Braudel, e que dá relevo aos sectores/vectores económico e social.
Encontra no binómio espaço-tempo da expansão portuguesa três noções essenciais:
- estrutura: unidade resultante da união de subconjuntos que se articulam entre si;
- sistema: corpo doutrinário que dá coerência à estrutura;
- regime: ordenamento jurídico que rege a estrutura.
Com base nestas noções, dizemos que as estruturas económicas e sociais se inserem no espaço-tempo gerando os diversos complexos histório-geográficos.
Vitorino Magalhães Godinho põe em causa, por exemplo, a teoria de Lúcio de Azevedo onde se defende que a primeira dinastia portuguesa é uma monarquia agrária; e bem dentro da Escola dos Annales contrapõe uma nova teoria defendendo que não são as individualidades que actuavam mas sim o todo social: os grupos, a relação entre os diferentes sectores de actividade, as regiões, as localidades; sendo este conjunto que vai apreender o factor social global.
É um complexo estrutural multifacetado projectado no espaço e no tempo e o primeiro de todos é o que se verifica até 1415, data da conquista de Ceuta.
Godinho considera que a base económica até ao século XIII é a agricultura, não obstante haver alguns vectores, não tão importantes, mas que também entravam na própria estrutura económica, como por exemplo o comércio, que até ao século XIII era virado para as rotas do norte, uma vez que as do sul eram ocupadas pelos muçulmanos; Mediterrâneo apenas por via terrestre, sendo Portugal o último porto/mercado do ocidente.
Apesar das diferenças religiosas, os portugueses efectuavam/tinham muitos contactos com o reino de Granada, e a prova parece estar no uso do morabitino até Afonso III, moeda de ouro, de origem almorávida.
A primeira grande mudança que se dá é a viragem comercial para o Atlântico, o sal para o norte da Europa e para os prussianos, e também a aliança teutónica; o peixe para as praças mediterrânicas mais os cereais são o motivo das primeiras rotas regulares mediterrânicas, fundamentalmente para a Sicília, Catalunha e Norte de África.
Até 1415 a nossa balança de pagamentos manteve-se positiva, apesar de vendermos menos do que o que comprávamos, uma vez que os portugueses detinham isso sim uma intensa actividade transportadora e eram pagos por isso: transportavam sedas para o norte de África vindas de Sevilha, e as frotas para a Terra Santa eram quase sempre portuguesas.
E depois os motivos/razões para ir a Ceuta e.
Do ano passado, Os Problemas de Portugal, os Problemas da Europa, mais sabedoria.
Muito obrigado.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, abril 27, 2011