quarta-feira, outubro 06, 2010
"Por exemplo, uma vez estava saindo de noite da casa da Cláudia, a minha companheira que também é poetisa, que mora no Flamengo, e quando abri a porta para atravessar o jardim em frente do prédio fui ´agredido` pelo aroma de um jasmineiro. Apanhei as flores e aspirei profundamente. E senti que o cheiro que era suave, assim aspirado parecia selvagem. Peguei no carro, fui embora, mas tive vontade de escrever. No dia seguinte, estava diante de uma folha em branco, mas as palavras não cheiram a jasmim, nem é possível traduzir em palavras a linguagem do jasmineiro. Então, o que é o poema? Não é uma revelação da realidade, porque não a pode exprimir.
Então?
O poema é na verdade uma invenção da realidade. Acho que a Literatura não revela, inventa a realidade. Porque o que não está dito, não existe. Quando vou escrever sobre o jasmineiro, o poema é uma probabilidade infinita. Reduzo-a quando escrevo a primeira palavra e vou inventando uma estrutura, entre o acaso e a necessidade."
de uma entrevista a Ferreira Gullar, Jornal de Letras 1043.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, outubro 06, 2010