A montanha mágica

terça-feira, outubro 19, 2010

If you ever go to Houston (43)





LMF, sem título, via telemóvel, 2010



1. Uma das imagens mais fortes que fica depois de se ler Bolaño, para mim, é a da infantilidade do mundo, que não quer aprender, que não quer ligar, que não se quer levar a sério, nas suas mais variadas dimensões. Bolaño acautela bem a natureza humana mas ainda assim é em cima dela que trabalha, e trabalha, e trabalha, e se espanta de tanto não querer saber, ver e ouvir.
Depois é, também, a vida como ele a descreve.

2. Lola, de Brillante Mendoza, nem sei de adjectivos ou... no último fotograma, passam quatro ou cinco carros blindados pretos protegidos e escoltados por vários polícias de motos. Depois de um dilúvio quase constante a procurar não perder o essencial a não deixar apagar a vela, Tarkovski, depois da visão de outra vida depois da chuva parar e da água recuar: ir buscar dois ou três patos e sementes; depois do milagre da vida, do testemunho, aqueles carros pretos, é a vida.

3. Noite e Dia, do sul-coreano Hong Sang-soo, também descega.


4. Uma destas madrugadas bastaram duas ou três folhas/páginas de Vício Intrínseco para Pynchon me deixar de lágrimas nos olhos, é tão bom, tão bom que dói, tão simples e tão genial. Não foi por este momento mas para aqui escolhi:

"- O Donald e o Pateta estão num barco salva-vidas, perdidos no mar ´tás a ver? E é como se se passassem várias semanas. E depois uma pessoa começa a reparar, quando o Donald aparece em grande plano, que ele tem uma barba de três dias, tipo, a crescer-lhe no bico? Dás-te conta do que isto significa?
- Talvez arranje um tempinho para meditar sobre isso, Saunch, mas entretanto vem aí o Bigfoot e está com aquele ar, portanto se pudesses repetir o número, está bem, e...
- Nós sempre tivemos aquela imagem do Pato Donald, e assumimos que é o aspecto que ele tem no dia-a-dia, mas a verdade é que o gajo tem de barbear o bico, todos os dias. Cá para mim é a Margarida. O que quer dizer, ´tás a ver, e que outros miminhos é que a rapariga lhe dá, não é?"



5. Portanto.

6. O fedor fede outra vez fedendo mais ainda.

Na noite de cinco de Outubro de 2010, no jornal das 21h da sic-notícias Mário Crespo conversa com o dr. Mário Soares. O que este homem disse lá é mau de mais para ser verdade, do alto da sua pedantice e da sua vaidade e da sua cegueira só disse baboseiras atrás de baboseiras. Continue-se a ouvi-lo e a prestar-se-lhe muita importância e atenção que a pobreza ainda há-de ser maior. Aliás, como ao seu camarada Almeida Santos, a prova da pobreza e da parolice a que podemos chegar.

Uns dias depois num programa que ainda vergonhosamente anda semanalmente por aí prós e contras a apresentadora fez mais uma daquelas figurinhas típicas da parolice: tece comentários e dá mais vezes voz aos chefes, coisa mai linda, não é, a contribuir para os mitos, que já não o são, antes pelo contrário. Devia ter vergonha na cara, sim, você.

Aqui perto mas mais longe, como é que é possível que a chefe do governo alemão diga que na Alemanha o multiculturalismo falhou... ?? diz-se o quê?

Merkel: "No início dos anos 60, a Alemanha chamou trabalhadores estrangeiros e eles agora vivem aqui. Durante algum tempo, mentimos a nós próprios, pensando ‘eles não ficam e um dia hão-de partir’. A perspectiva de que poderíamos construir uma sociedade multicultural, vivendo lado a lado e gozando da companhia uns dos outros, falhou completamente", disse Angela Merkel num encontro com a juventude partidária da União Democrata-Cristã (CDU), o partido no poder.

Merkel: "Nós sentimo-nos ligados aos valores cristãos. E aqueles que não são capazes de aceitar isto também não têm lugar aqui". (fonte: rr)

Quem é esta gente? Com quem fala? O que vê? O que lê? Quem ouve?

É demasiado mau, mau, muito mau. Apetecia-me dizer agora um palavrão, mas não vou dizer. Seria fácil.

Aqui perto mas também, enfim,... um cidadão italiano matou com um murro uma cidadã europeia, romena; estendeu-lhe um murro, deitou-a ao chão e tentou ir-se embora, sem querer saber dela. Houve quem não o permitiu e depois a polícia parece que o prendeu. Imagens que têm corrido net e também como a gente da tv costuma dizer mundo, aliás dizem imagens da internet como se assim de um lugar longínquo e perigoso cheiinho de lepra.
Seria caso para dizer e declarar: italianos deviam ser todos expulsos de Itália.

Mas... abre-se um qualquer jornal português e dá para tecer um ciclo de escritos escrevinhados que assustam, tal é a nossa condição, tal as nossas visões, tal os nossos vícios e as nossas capelinhas.
O Mundo havia de poder ser muito diferente havia... Foquêmo-nos também em Sarkozy:

Entrevista a Christophe Honoré e Louis Garrel em Lisboa, nos extras do dvd Canções de Amor (a partir do minuto quinze, mais ou menos):

"Christophe Honoré: Na época do "As Canções de Amor" iam decorrer as presidenciais. Isso dava à cidade uma atmosfera extremamente paticular. Até porque filmámos no 10º bairro, onde era a sede do Sarkozy, etc. Havia qualquer coisa que era...Não se tratava de um documentário. Havia... Mas havia a noção de estarmos a filmar algo que passados três meses já não existiria.

Louis Garrel: "Também em certas cenas na rua à noite. Havia a ideia que o Sarkozy, como era ele que mandava na polícia, havia a ideia que a polícia, que é republicana, como instituição. É algo que nasceu da revolução e mantêm os ideais republicanos, protege as pessoas, ainda que nem todos os polícias sejam republicanos. Mas havia a ideia que o Sarkozy podia ser eleito presidente e viria mandar na polícia e todos os polícias nos rodeariam. Era algo paranóico! Quando filmávamos na rua com esta atitude, já sofríamos um bocado. Era algo que assombrava...

Christophe Honoré: Não assombrava apenas no primeiro dia de filmagens. Claro, era um filme sem autorização, nem nada. Filmávamos na rua de uma forma algo selvagem. Lembras-te do primeiro dia? (virado para Garrel)

jornalista: Tiveram problemas com a polícia?

Christophe Honoré: Sim, uma hora após começarmos. Acho que não comentámos isto nem com o Paulo, a polícia chegou e disse que não podíamos filmar ali. Negociámos algum tempo, foi quase uma hora. E depois conseguimos filmar. Foi um filme feito naquele bairro quase na clandestinidade. E depois de uma forma... Penso que não revela um sinal sociológico. Mas penso, de qualquer forma, que estes dois filmes... É um pouco o filme posterior, que ainda vou filmar em Janeiro, também anda à volta desta ideia de uma certa juventude ameaçada. E já em Janeiro, tínhamos a noção, mas agora sabemos muito mais. É a primeira vez que em França, podíanos falar no caso do De Gaulle mas mesmo assim é diferente. Em França, o inimigo declarado do poder é a juventude. Se analisar todas as medidas... as medidas prioritárias que o Sarkozy apresenta são destinadas aos adultos, aos trabalhadores, aos reformados... Não há medidas prioritárias, digamos, destinadas à juventude, pelo contrário. Ao falar da juventude, o tema é delinquência a prisão de menores mais cedo. Há uma ideia muito estranha e sinto muito isso em França. Hoje, pessoas como o Sarkozy, bem posicionadas e respeitadas, pela maioria ele foi eleito, logo é uma maioria. Para ele, o inimigo é a juventude, ele sabe bem disso. E é a juventude que o fará cair.

Louis Garrel: Há uma frase de Dominique Voynet, ela é ecologista.

jornalista: Eu conheço-a.

Louis Garrel: Ela disse ao Sarkozy: "Como pode falar dos jovens se nunca foi jovem?"

Christophe Honoré: É verdade.

Louis Garrel: É.

Christophe Honoré: Ele foi o mais jovem deputado de França...

Louis Garrel: Aos vinte anos vestiu um fato meteu-se num escritório, a preparar a sua carreira e assim há algo que lhe escapa. [Alex Ross: diferença entre compositores alemães e franceses: das ruas, franceses, para um loft, fechados, alemães.] A todo o momento, vê-se que não sabe falar aos jovens. Um dia fez uma espécie de discurso para os jovens. Era completamente absurdo. Falava de revolução, de se poder chegar lá, como os tipos de extrema esquerda, têm uma espécie de ideal: "NóChristophe Honorés também vamos lá chegar, nem que seja à força!" Tem uma ideia tão americana do sucesso. Acho que não lhe entra na cabeça que aos 20 anos a frieza do mundo, pode ser um problema para a juventude actual, a frieza do mundo, como chegar ou não chegar. É só chegar ou não chegar, mas não é só uma questão de tempo.

Christophe Honoré: Sim, há condições humanas, filosofias. E nisso, "As Canções de Amor", tem muito sentimento. E de novo, não acho que se ja um sinal sociológico. Filmei um certo estado dos jovens sobretudo um lado sentimental..."



7. O fotograma de Hill Street série que acompanho madrugadas dentro, diz que é FOX retro, diz mas é uma asneira descomunal, é assim, é mas é a vida, é urgente que regresse ao horário nobre por essa Europa e mundo fora, onde cada vez mais é preciso ter cuidado lá fora. A série é uma obra prima, e aquelas personagens uma galeria/mosaico excecional.
É urgente.


posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 19, 2010

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