quarta-feira, junho 23, 2010
Taganrog, Anton Tchékhov: 150 anos 150 posts (12/150)
LMD, fotografia de telemóvel do livro citado, Maio, 2010
"Apenas uma vez a família (à excepção do pai, que ficou a tomar conta da loja de Taganrog, coisa que pela primeira vez lhe acontecia) abalou de Taganrog, em excursão pelo campo, de visita ao pai de Pavel, administrador das propriedades do Conde Platov, filho de um dos famosos generais cossacos das guerras napoleónicas. Esta excursão descreveu-a, Miguel, com grande cópia de pormenores, e graças a ela pode ver-se que, aos treze anos (a idade que tinha então), Tchekov era uma criança muito feliz, travessa e cheia de graça.
Tchekov voltou a visitar o avô depois de a família partir para Moscovo, onde fixou residência. Descrevendo uma destas suas visitas, em carta a Suvorine de 29 de Agosto de 1888, escreveu ele: «Quando era rapaz, e estava em casa de meu avô, nas propriedades do Conde Platov, costumava sentar-me, do nascer ao pôr do sol, ao lado da máquina debulhadora a escriturar os quilos e as toneladas de trigo debulhado; os assobios, os silvos e os zumbidos da máquina debulhadora a todo o vapor, o chiar dos eixos dos carros de bois, os movimentos vagarosos dos animais, as nuvens de poeira, as caras cobertas de suor dos trabalhadores --tudo me ficou gravado na memória tão claramente como o Pai-Nosso... A debulhadora a trabalhar parecia viva; tinha uma expressão manhosa e travessa; os homens e os bois, esses, é que pareciam máquinas.
No conto As belezas, publicado nos Novos Tempos, o jornal de Suvorine, em Setembro de 1888, Tchekov refere outras circunstâncias que ocorreram por ocasião da sua estadia em casa do avô. Tchekov e o avô, conta ele nessa história, foram de visita a uma aldeia arménia, onde Tchekov pela primeira vez na sua vida viu uma rapariga de tão impressionante beleza que imediatamente se sentiu apaixonada por ela."
David Magarshack (trad. João Gaspar Simões), Tchekov, Editorial Aster, Lisboa, 1960.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, junho 23, 2010