terça-feira, junho 15, 2010
Olá, de novo.
O entrevistador fica engasgado com a resposta a felicidade ou isso serve para quê?,
e
depois
no tijolo de jaspe de Bolaño
"A encarregada chamava-se Yolanda Palacio e era uma mulher com cerca de trinta anos, de pele clara e cabelo castanho, formal, embora se vislumbrasse por trás da sua formalidade o desejo de ser feliz, o desejo de festa permanente. Mas o que é a festa permanente?, interrogou-se Sérgio González. Talvez o que diferencia alguns de nós, que vivemos na tristeza quotidiana. Vontade de viver, vontade de ir à luta, como dizia o seu pai, mas ir à luta contra o quê, o inevitável? Lutar contra quem? E para conseguir o quê? Mais tempo, uma certeza, o vislumbre de algo essencial? Como se houvesse algo essencial nesta merda de país, pensou, como se o houvesse nesta merda de planeta chupador da sua própria verga."
e
"que aquela cólera ou aquela raiva devia ter-se instalado antes e não ser impelida, não sei se é esta a palavra, não ser propiciada por uma amizade particular, embora essa amizade particular sem dúvida excedesse o próprio conceito de amizade particular, mas sim por muitas outras coisas que eu vira desde que tiha uso da razão, mas nada disso, nada disso, nada disso, é assim a merda desta vida, disse para mim a chorar e a ranger os dentes",
em diversos momentos, atónito, espantado, esgazeado, desvairado, pela nossa falta de lucidez, 2666. A crónica de Veríssimo no actual do jornal espesso, expresso, digo, da semana passada, é hoje.
No jornal público dois ou três momentos na reportagem sobre a exposição Caravaggio em Roma (público 2 de 8 de Junho) e também dois ou três embora vá destacar apenas um de uma das reportagens de Alexandra Lucas Coelho na África do Sul, intimamente ligados, ora.
Caravaggio, na peça dá-se voz a um conselheiro cultural português em Roma --atenção: conselheiro cultural da Embaixada Portuguesa junto do Palácio Quirinal, repetição?-- no filme As invasões bárbaras um dos amigos de Remy que se vem despedir dele é um adido assim também em Roma, diz na roda de amigos que o seu cargo/função/tacho está muito bem escondido no ministério dos negócios estrangeiros e que por isso não corre o perigo de ser recambiado para Toronto, por aqui fecham-se escolas mas continua tudo bem, diz o sr. conselheiro, atenção, atenção: gravitas, "Paulo Cunha e Silva refere-se também ao recurso que tanto Caravaggio como o pintor britânico [Bacon] do século XX fazem a modelos da marginalidade social para "essa promoção da carne". "Este convívio com a marginalidade que os dois praticavam à saciedade levou-os a transformar o vulgar num novo ser, numa nova entidade", acrescenta o conselheiro cultural e ex-presidente do Instituto das Artes". Repito? Sim: "Este convívio com a marginalidade que os dois praticavam à saciedade levou-os a transformar o vulgar num novo ser, numa nova entidade".
Meu deus, jasus.
Logo ali diz, a certa altura, na página 11 do púbico 2 do dia 5 de Junho, África do Sul: "na cabina de vídeo, Megan Pillay faz uma pausa. É um adolescente negro de perfil tão achatado como se lhe tivessem esmagado a cara. Uma cara de gangster com 18anos, com um gorro enterrado até aos olhos. E depois começa a falar, e fala de poemas.
- Escrevo poemas para fazer as pessoas sentirem-se melhor, mas às vezes gostava de eu próprio seguir o meu conselho."
Num destes dias vi um belo filme, chama-se Noite e Dia.
Dostoiévski a dado passo, "Olhe, por que não nos tratamos todos como se tratam entre si os irmãos? Por que é que as pessoas, por melhores que sejam, parecem esconder sempre alguma coisa dos outros? Por que não se pode dizer no momento, frontalmente, o que nos vai no coração, quando temos a certeza de que não o diremos em vão? Cada qual assume o ar de ser mais severo do que realmente é, como se tivesse medo de ultrajar os seus sentimentos ao exprimi-los cedo de mais..."
Sim, de jaspe.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, junho 15, 2010