sexta-feira, maio 14, 2010
sector 72
A hora chegava e tinha de ir, quando aprendeu. Para mais tarde de novo o mar a areia o céu as ondas a barraca às riscas azuis a linha a toalha o pipo as estrelas do mar o som da água nos rochedos o som dos tímpanos encostados à areia as tonturas as pessoas os gestos e as vozes de quase desde sempre.
Ir. Quinhentos metros. Talvez menos. Talvez duzentos. Demoravam a fazer. O sal arranhava e riscava a pele.
Esperava entre 10 a 15 minutos, era o intervalo de tempo, um intervalo, conforme os dias, e se calhar as noites.
Separava-o deles um gradeamento e, aí, dois metros? três metros? Quantos? Que espaço?
Deitados, sonolentos, preguiçosos, cansados, presos. As moscas massacravam.
De repente...
Reis da selva. Tão levemente como os moscardos, abriam a boca e aquelas setas luziam, e rugiam. Metro-Goldwyn-Mayer? Não. Quase. As jaulas onde estavam pareciam que se desmontavam e entre eles parece que se decidia o resto dos dias do mundo.
Tantas vezes.
Mais tarde, Novembro de 1992. O número 26 da revista K e uma conversa, onde dizia que um dos seus sonhos era trabalhar no jardim zoológico e de aí dar de comer a leões.
fotografia telemóvel LMD
Foi assim. Até, outra vez, num acto extremo de amor te quereres fundir com as pedras, com a areia, com a terra, com a natureza.
Aquele espaço de dois ou três metros que diziam inacessível, perigoso, mortal até, só depois lhe soube o nome, embora parecido com a rebentação.
Depois descobri outro que dava, e depois ainda outro. É assim, também, a vida.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, maio 14, 2010