A montanha mágica

quarta-feira, maio 26, 2010

If you ever go to Houston (34)




LMD, Maio, 2010.



1. E.


2. O autor do texto sobre o livro Wolf Hall, de Hilary Mantel, civilização editora, no expresso de sábado passado conseguiu não escrever genial soberbo brilhante. É verdade, sim, li este livro, por estes dias, por Vasco Pulido Valente ter dito o que disse, é verdade, sim, que era o melhor que tinha lido por cá no ano de 2009.

É mesmo muito muito excelente e o autor do péssimo texto do expresso de sábado passado parece não merecer ter livros destes nas mãos para escrever sobre eles, escreva antes sobre a apanha da azeitona na Finlândia, e depois vareje, quase, à sua vontade.

O livro é um assombro.

Vejamos... é difícil escolher... a seguir, ou se calhar em simultãneo, vou juntar este Wolf Hall ao Ilusões Perdidas, ali em cima no twitter, andando:

"- Todas estas coisas --diz ela--, estas coisas que temos agora. O relógio. Aquela arca nova que pedistes a Stephen que vos enviasse da Flandres, aquela com o entalhe dos pássaros e das flores, ouvi-vos, com os meus próprios ouvidos, dizer a Thomas Avery, oh, dizei a Stephen que a quero, não me interessa quanto custa. Todos estes retratos pintados de pessoas que não conhecemos, todos estes, não sei, alaúdes e livros de música, nunca os tivemos, quando eu era menina, nunca me olhava ao espelho, mas agora, olho-me todos os dias. E um pente, destes-me um pente de marfim. Eu nunca tive um pente só meu. Liz costumava fazer-me tranças no cabelo e prendia-mo debaixo do meu toucado, e depois, eu arranjava-lhe o dela, e se não estivéssemos com o aspecto que devíamos estar, alguém rapidamente nos dizia.
Porque é que ficamos tão ligados às severidades do passado? Porque é que nos orgulhamos tanto de nós mesmos, por termos aguentado os nossos pais e as nossas mães, os dias sem lareiras e os dias sem carne, os Invernos frios e as línguas afiadas? Não é que tivéssemos opção. Até liz, uma vez, quando eram jovens, quando o vira, de manhã cedo, a colocar a camisa de Gregory a aquecer diante da lareira, até Liz lhe dissera rispidamente, não o façais, ele vai estar à espera de que o façais todos os dias.
Ele diz:
- Liz... Quero dizer, Johane...
- Havei-lo feito vezes de mais, diz o rosto dela.
- Eu quero ser bom para vós. Dizei-me o que posso dar-vos.
Ele espera que ela grite, como as mulheres fazem, credes que podeis comprar-me, mas ela não o faz, ela fica a ouvir, e ele pensa que ela está extasiada, o rosto dela absorto, os olhos dela cravados nos seus, enquanto ouve a teoria dela acerca daquilo que o dinheiro pode comprar.
- Havia um homem, em Florença, um frade, fra Savonarola, levou toda a gente a pensar que a beleza era pecado."

E que tal na Suécia, também?



3. Fukuyama defendeu e pegou fogo à, sua, ideia de que a História tinha acabado; mais tarde arrependeu-se; e os outros que lhe foram atrás, onde e como é que ficaram? As paredes e o ar livre que ele frequentava diziam-lhe que não havia mais nada para viver/morrer, chegara o fim. Pessoas? Põe Romero a rodar e depois vês.

Há, houve e vão continuar a existir tontos para tudo. Os humanos, também, somos assim.

Por estes dias, é raro ver a quadratura do círculo mas o penúltimo vi, e não podia estar mais de acordo com Pacheco Pereira (António Costa está lá a fazer o quê? Ideólogo?), sobre o que deve ser o futuro dos parlamentos nacionais, Michael Moore, por exemplo, sem câmaras atrás.
Mais fiscalizadores e mais reguladores, do que legisladores.

Olhar por aquilo que devia ser de todos é, desde o século V a.C., em Atenas, um dos trabalhos mais árduos e mais nobres que o seres humanos tiveram e têm pela frente. Bem Comum. Bem de todos. Bem Público. res pública. República. Homem.

Vejamos, assim:

- Todos os anos lectivos tens de apresentar o registo criminal?
- Sim.
- E às vezes mais do que um.
- Sim?
- Sim.
- E tem de estar sempre limpo, se não...
- Pois, não te contratam. Sabes quantos contratos pode o Estado fazer...
- Agora, imagina: a actual ministra da educação da república de Portugal foi condenada em tribunal, por desobediência.
- Ela ou a ministra?
- Há diferença?
- Logo...
- Não achas?
- De facto, seja ela ou a ministra...
- Condenada por desobediência.
- O tribunal disse isso.
- E agora?
- Exemplos?
- Não sei, mas na expo 98 vi portugueses à bulha por uma caneta ou por uma t-shirt para dormir ou pintar ou caiar; e dá para ver que os que têm mais possibilidades aqueles que menos querem dar.
- Divagas, é?
- Exemplos?...
- Nunca ouviste dizer que era mesmo assim?
- Sim.
- Achas que condenações dessas aparecem no cadastro?
- E isso interessa?


4. E agora, atenção, atenção, senhoras e senhores, atenção, atenção: Em resposta às palavras de Pacheco Pereira sobre o carácter “avassalador” dos resumos das escutas do processo Face Oculta, o deputado socialista Ricardo Rodrigues considerou a sua intervenção “politicamente reprovável”.

“Fazem a descrição detalhada de um negócio de características anómalas e conduzido politicamente para alterar a linha editorial da TVI”, acusou o deputado do PSD.
O único deputado social-democrata que consultou os resumos das escutas considerou mesmo que estes documentos provam que a PT e a Taguspark foram meros instrumentos para atingir um objectivo tentado em duas etapas por Rui Pedro Soares, ex-administrador da Taguspark e da PT.
Mas, acusa Pacheco, “o negócio era conhecido do primeiro-ministro” e “não apenas de Rui Pedro Soares”. “Se não entrarmos em linha de conta com estas informações, não estamos a fazer nada aqui”, invocou Pacheco Pereira.



5. Juro que não costumo ler as crónicas dele mas... a desta semana é ridícula, jasus! Mas é, ao mesmo tempo, clarificadora, clarinha, no que ao ponto um diz respeito, dos outros já não fui atrás. Nojo puro. N-o-j-o. O caminho é mesmo estreito. O raciocínio é parecido ao de Mário Soares quando diz que é uma vergonha levar um primeiro ministro a uma comissão de inquérito.

Claro que a premissa inversa não lhe ocorre/interessa.

O dr. Soares continua a dar entrevistas por aí, um dia destes passei num sítio, lá estava ele, debaixo dos holofotes de uma câmara qualquer, a ser adulado, e sem ninguém lhe dizer... qualquer coisa. Numa série de entrevistas que deu respondeu, assim, rapidamente à pergunta da jornalista se nunca tinha pensado em doar alguns livros a instituições...
- (fulminante) Eu não.

Imperdoável? Ao que nós chegamos. Como nós somos.


6. A semana passada num dos programas de notícias que dão a uma hora certa já noite no inverno ainda de dia na primavera e no verão sobretudo, uma peça/reportagem sobre a internet: do vício da internet: de alunos de medicina que se viciaram: a falarem e a dizerem que passam aí uma duas três horas diárias na internet: na internet: na internet.

A voz narrativa era assim... parecia vir de um sítio... que o levassem a sério, e ao perigo, pareceu sempre a admoestar: a internet: a internet: a internet. O diabo a sete. Acho que passou, pelo menos, duas vezes em programas dessa natureza.


7. No jornal Público do último domingo, páginas 12 e 13: "46 corpos por reclamar nas câmaras frigoríficas do país

Há vítimas de homicídios, vítimas de suicídios, vítimas de acidentes, vítimas de doenças ou da muita idade --de gente que sofreu de morte natural nas ruas ou em hospitais ou lares-- dentro das câmaras frigoríficas do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML). À espera de quem as reclame. A 21 de Abril deste ano, havia 46 --24 na sede da delegação sul, em Lisboa."

Termina assim, página 13: "Um último detalhe. O sul sobressai em matéria de corpos de pessoas, mas o Norte concentra quase todos os fetos por reclamar: 15 em 16. Há fetos encontrados dentro do corpo da mãe morta, fetos encontrados em lixeiras ou em matas. Já depois desta contagem, uma mulher abandonou um feto de seis meses num pinhal, em Santa Comba Dão --encontraram-no alguns vizinhos já em parte desmembrado, em parte comido por alguns cães."

Muitas das mulheres mortas n`A parte dos crimes, 2666, Bolaño: lixeiras, ninguém reclama os cadáveres, o nome nunca se soube, nunca chegou a ser identificada, vala comum de Santa Teresa.


8. Momento bolañiano 2: "..voltei a olhar para a televisão, onde um tipo contava que tinha em seu poder, dizia-o com estas palavras, em seu poder, como se estivesse a relatar uma história medieval, ou uma história política, o recorde de expulsões dos Estados Unidos. Sabem quantas vezes tinha entrado ilegalmente nos Estados Unidos? Trezentos e quarenta e cinco vezes ele tinha sido detido e deportado para o México. E tudo num período de quatro anos (...) Então o apresentador, que era mau, fez-lhe uma pergunta estúpida e a seguir uma pergunta boa. A estúpida foi perguntar-lhe se ele pensava inscrever o seu recorde no Guinness. O homem nem sequer sabia do que é que ele estava a falar, nunca na sua vida ouvira falar do Guinness. A boa foi perguntar-lhe se ele ia continuar a tentar. Tentar o quê?, perguntou o homem. Tentar passar para o outro lado, esclareceu o apresentador. O home disse que, se Deus quisesse e lhe desse saúde, em nenhum momento se tinha apagado da sua cabeça a ideia de viver nos Estados Unidos. Não estás cansado?, perguntou o apresentador. Não tens vontade de voltar para a tua terra ou procurar um trabalho aqui em Tijuana? O tipo sorriu como que envergonhado e disse que, quando se lhe metia uma ideia na cabeça, não havia nada a fazer."

Contaram-me na primeira pessoa: num dos programas das tardes da Júlia ou assim da semana passada parece que foram convidados dois homens que sabiam fazer mezinhas. Falaram de hemorroidal, que podia ser tratado e erradicado, d-e-f-i-n-i-t-i-v-a-m-e-n-t-e, se a pessoa bebesse cinco litros, um garrafão, de uma mezinha qualquer, mas que a partir dali nunca mais podia voltar a usar papel higiénico.

Depois parece que Júlia Pinheiro e os/as suas convivas puxaram pelos homens (este puxaram é uma história boa, muito boa, boa quer dizer... com graça, alguma, mas agora não) e perguntaram-lhe se não tinham uma mezinha para provocar erecção em homens. Eles parece que não perceberam o termo/conceito, olharam um para o outro, foi mesmo assim que me contaram, e nada, e então Júlia, supõe-se, já quase a desfalecer de risos e de pudores diz-lhe que assim quando uma mulher e um homem estão juntos e se aproximam e...
Então perceberam e o mais velho disse que nem pensar, não, que uma vez fez uma mezinha dessas para um amigo e que depois a mulher do mesmo lhe deu uma coça (sic).

Um dos homens tinha oitenta e tal anos, o outro 75.


9. Às vezes o acerto no zapping como em algumas fotografias de Bresson, naquele espaço de luz; mas ao contrário, ou não.
Ainda antes, um destes dias passando pelo canal um lá estava Herman José, e na sua companhia a ministra da cultura e Carlos Queiroz. Dizia o anfitrião a este que é verdade tinham estado os dois no dragão a ouvir o presidente daquele clube a vociferar e a prometer a Pedroto o título de futebol 2009/2010, custasse o que custasse; tantos aplausos. Entretanto as escutas ao mesmo presidente ainda na net.

O seleccionador de futebol lá estava a ouvir, sorridente; parecia contente; realizado. Recrutado para o lado que não se engana e que sabe, depois de dez anos de Scolari.

Sai a lista de convocados e as pessoas apercebem-se que, enfim, enfim. Dias depois Mourinho chama-lhe um nome feio, qualquer, diz que nem com Ronaldo a 1000%.


10. Torre de Dona Chama, é longe de onde e de ou do quê?


11. Pois.


posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, maio 26, 2010

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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