quinta-feira, abril 29, 2010
"Quando Tchekov chegou aos cinco anos e estava pronto para a rigorosa disciplina do pai, tinha mais dois irmãos e uma irmã: Ivan, o único «sóbrio» e não inspirado membro da família, que viria a ser professor, nascera em 1861; Maria, que viria a ser também professora e artista, nascera em 1863; e por fim, Miguel, futuro funcionário civil, jornalista, escritor e contista infantil, além de biógrafo de Tchekov, nascera em 1865. A família estava completa.
Nada talvez revele tanto a loucura quixotesca de Pavel como a resolução que tomou de enviar os seus três filhos mais velhos para a escola grega de S. Constantino. No fim do mês de Agosto de 1888, Tchekov queixa-se a Suvorine de ter crescido, estudado e principiado a escrever «num meio no qual o dinheiro desempenhava largo papel enfadonho». Nunca conseguiu, efectivamente, libertar-se da influência daquele meio da sua juventude, e toda a sua vida perseguiria, com tão pouco êxito como o próprio pai, a miragem da riqueza súbita, comprando bilhetes da lotaria do Estado, tentando a sorte à roleta, e até, já no fim da vida, vendendo as suas obras por importâncias que na época se lhe afiguravam chorudas, mas que dentro de pouco verificaria não passarem de um sonho vão."
David Magarshack (trad. João Gaspar Simões), Tchekov, Editorial Aster, Lisboa, 1960.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, abril 29, 2010