sexta-feira, abril 30, 2010
If you ever go to Houston (32)
Alberto Carneiro, Esta linha que percorre..., 1971
fotografia por LMD, 2010; no âmbito da exposição KHORA
fundação carmona e costa, até 21 de Maio
1. Uma lição, uma abstracção, com nome e datas e chamadas de atenção. Dos jornais portugueses de entre três ou quatro textos bem esgalhados sobre História ou à volta da História dois: uma definição de Rui Tavares e uma lição, que são muitas, na verdade, de Vasco Pulido Valente, uma das melhores que já lhe li, por aquilo que é e devia ser mais considerada a História, calma ciência, calma.
A definição de Rui Tavares: "É como uma nuvem, a História: gigantesca e cheia de delicadeza. Uma coisa grande que parece mudar lentamente; mas distraímo-nos e já está inteiramente diferente. Uma nuvem agora é cinzenta e anuncia tempestade, logo depois é de âmbar e deixa passar raios de sol, um crepúsculo tonaliza-a de ocres, laranjas e rosas como um fresco de Tiepolo." Anda comigo no moleskine.
A lição, que também anda e tenho-a lido, desde então, intitula-se Uma lição a Cavaco, jornal público, sábado 24 de Abril, mas podia ser uma lição a outro qualquer ambicioso e ignorante de passos sempre maior do que a perna no horizonte, a seguir já veremos um exemplo tirado do jornal expresso, mas agora a lição:
A História em estado quase puro e a ignorância também. Bravo. A excelência.
2. Público, Portugal, Domingo, 18 de Abril de 2010, página 9: "A ministra Isabel Alçada considerou ontem que não há motivos para grandes preocupações`no que respeita à redução das deduções fiscais prevista no Plano de Estabilidade e Crescimento, que afectará também as despesas com a educação."
Repito? Sim, repete: "A ministra Isabel Alçada considerou...". Dizer o quê? Percebe-se o erro? Portugal. Dimensões.
Dizem que gostou da solução de uma escola da Costa da Caparica para o modelo de disciplinas semestrais. Ora, por 15 cêntimos diga lá as disciplinas fundamentais que não me chateiem a cabeça que eu não percebo nada disto é só ministra, que bonito, vão passar a semestrais, 1,2,3, diga lá outra vez, História...
"A ministra Isabel Alçada considerou..." se não fosse trágico...
3. De carro, numa manhã solarenga, a passar por placas informativas onde se podia ler quilómetro após quilómetro que a gasolina e o gasóleo, fornecido por 3 empresas diferentes, era ao mesmo preço em quase todo o país. Nenhuma destas empresas baixa o seu preço nem em dois cêntimos para que com aquela escolha do vou ali que mesmo assim são menos dois cêntimos... nada, preços iguais, que há concorrência que há fiscalizadores reguladores desse mercado, tudo está a funcionar. O patético primeiro ministro de Portugal a dizer mais ou menos assim na rádio e na tv, nos jornais, quem não vê, Ruas, não era?, e as pessoas todos os dias a ver que não é assim mas explorem-se, explorem-nas. Veio de onde, este homem? Do meio de nós? Estamos, todos, muito doentes.
4. Na semana em que os presidentes dos clubes de futebol do Benfica e da equipa mais representativa da cidade do Porto foram à televisão dizer babelas e tiveram honras disso, nesse fim de semana no semanário expresso, com a qualidade que se lhe reconhece, uma desgraça, diga-se, podia ler-se que o presidente do clube mais representativo da cidade do Porto teve mais pessoas a vê-lo e ouvi-lo e que deu uma abada ao outro presidente que falava à mesma hora noutro canal, e dizia o expresso, emocionado, que o presidente dos azuis é que era.
Enfim, deste semanário esperar mais porquê?, não se podia esperar que dissesse que o dos azuis é um sujeito acossado, verborreico, que palavra horrível, que dispara contra tudo e contra todos desde que não ande satisfeito, e diz asneiras sem fim, naquele jeito que muitos seres humanos dizem que chega para os levar para o céu, mesmo sabendo que diz o que diz como se fosse um rapazola no meio dos amigos a tentar manter-se líder e a dizer que o meu tio tem mais força do que o teu e ainda tenho um primo que...
Acossado a dizer que não pediu para ir à televisão eles é que me convidaram e faltou dizer venho aqui fazer-vos um favor. Agustina escreveu.
Num ano em que quase toda a gente ouviu escutas do presidente deste clube de futebol mais representativo da cidade do Porto é preciso mais do que muita lata para sei lá... as pessoas vão tolerando e batendo palmas, gesto tão ancestral. A figurinha triste de alguns sócios e de alguns adeptos da equipa de futebol mais representativa da cidade do Porto nas tvs e nos jornais e assim. Saberão o que é ter vergonha na cara?
Mas do semanário expresso não se pode esperar... ia a dizer nada, mas vou dizer quase nada. Aquilo é o quê?
5. Sobre o mesmo assunto, o jornal Público parece mais um circo, aliás, os jornalistas deste jornal responsáveis pelo futebol batem aos pontos, e de longe, os do inimigo público, estão a par dos da sport tv. É uma gargalhada só, contínua.
6. Um exemplo, voltando ao expresso, um dos seus cronistas começa assim uma das crónicas: "Numa época gloriosa e já longínqua, eu tive a sorte de trabalhar com um regimento florido de diplomatas polacas. Uma delas, a doutora Wolanska, até era assessora do recém-falecido Lech Kaczynski. Durante esses longos meses, aprendi a respeitar a Polónia e a Europa de Leste." Repito ou... fica só assim? repetição: "aprendi a respeitar a Polónia e a Europa de Leste."
Quem é esta gente? De onde vem? Para onde vai?
Apelido Raposo. E está certo, para onde vai?
7. As palavras de José Mourinho
tuvo un encontronazo con Xavi en el túnel de vestuarios. El portugués dice que fue un simple intercambio de palabras. "Yo con Xavi nunca tendré problemas porque le adoro y le conozco desde hace 15 años. Pero, después del encuentro, cuando le estaba esperando para saludarle, me ha empezado a hablar del árbitro ["muy bien el colegiado portugués, ¡qué escándalo!", le dijo] y le he contestado: '¿No estarás hablando del árbitro del Barcelona-Chelsea del año pasado?", contó. Y añadió: "No hay problema. Un intercambio de palabras y ahí se acaba".
no fim do jogo.
Peguemos no caso de Benquerença, ridículo enquanto árbitro, e somemos-lhe Víctor Constâncio, José Sócrates, Pedro Santa Lopes, Durão Barroso .... e assim. Mais, muitas das pessoas que conhecemos e fomos conhecendo, nas nossas terras, pessoalmente e sem o ser, ao longo da nossa vida e podemos ver que quase todos... como é que é possível, como em surdina num qualquer café.
Balzac explica tão minuciosamente... como a passagem da aldeia para a cidade, da perda de vergonha e da chegada ao cosmopolitismo, a cidadão do mundo.
Bush, Berlusconi, Sarkozy, Cameron, Massimo Busacca no último mundial sempre a meter dó e a ser ele um dos escolhidos para grandes momentos, decisivos. Como se fosse uma corrente demolidora, como uma inevitabilidade.
Mourinho respondeu como tinha de responder.
8. Do filho pródigo
Era uma prova crucial, ciclistas importantes tinham-se inscrito e vinham participar, para ganhar. Falava-se nisso.
Eles ainda eram de pequena dimensão, e de meia dúzia deles, havia que escolher um para os representar.
A escolha recaiu em alguém que ainda não sabia andar sem as rodinhas extra da bicicleta.
A partir desse dia narciso teria vergonha de si próprio; as rodinhas continuam lá.
9. Houve dias em que li as crónicas, aquando do público; sei que tem um programa na sic, segunda-feira, creio, sei o nome e lamento que o tenha adoptado, lamento muito muito muito; só esta semana vi uns minutos, já de madrugada, na sic-notícias, conversava ele com o lider da cgtp e fazia aquele esgar com o lábio a roçar no dente como que a afiar a lâmina e a dizer isto e aquilo e aqueloutro, a matar e a rasgar; a prepotência do ignorante a fazer valer o ter mais músculo ao dobrar o braço, no cérebro pouco, ou muito, depende. Triste. E preocupante.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, abril 30, 2010