terça-feira, março 16, 2010
"Pobre Anton», escreveu Alexandre, «que em rapazinho, de peito atrofiado, voz fraquinha e fraco ouvido musical, passou maus bocados por causa disso. Muitas vezes chorava amargamente durante os ensaios, que se prolongavam até altas horas e o privavam do sono que tão necessário lhe era à saúde.
«O pai era meticulosamente pontual, estrito e exacto em tudo o que dizia respeito ao serviço religioso. Se o coro tivesse de cantar na missa da manhã em dias de festa, acordava os filhos às duas ou três horas da madrugada e abalava com eles para a igreja, sem querer saber se chovia ou ventava. Os filhos eram obrigados a trabalhar duramente aos domingos e dias santos, tal qual como nos dias de semana... O pai era tão duro como áspero, e seria pràticamente inútil querer que ele mudasse de ideias. Além disso, era apaixonado de música de igreja e não podia viver sem ela». Numa carta para Alexandre, de Fevereiro de 1883, Tchekov emprega as mesmas expressões relativamente ao pai. «Era como um velho beato», escrevia ele, «tão duro como áspero, e seria inútil tentar demovê-lo dos seus propósitos uma polegada que fosse».
Mas em adição às cerimónias de igreja, Pavel organizava em casa outros serviços religiosos. «Aos sábados», escrevia Alexandre, «toda a família era obrigada a assistir à missa de noite, e, no regresso da igreja, tinha de cantar, durante horas, música sacra. O incenso ardia nos incensários, o pai ou um dos filhos lia a oração, e em seguida todos nós cantávamos em coro uma espécie de motete ou de antífona. De manhã, íamos à missa da alvorada, depois do que, de novo cantoria em casa». "
David Magarshack (trad. João Gaspar Simões), Tchekov, Editorial Aster, Lisboa, 1960.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, março 16, 2010