A montanha mágica

terça-feira, março 30, 2010

If you ever go to Houston (31)




Lawrence Weiner [LMD, fotografia de telemóvel em 20/3/2010]




1. Passa a ser obrigatório, a partir deste momento, vá, começou, rirmo-nos de tudo o que o primeiro ministro de Portugal disser, quando ele começar a falar zás, catrapás, zás, riso, gargalhada. Passou a ser um imperativo moral, nacional.


2. O debate entre Francisco Louçã vs José Sócrates e a tareia que Louçã lhe deu mas os críticos e cronistas não viram isso, voltaram-se contra o estilo Louçã; parecia um ignorante a ouvir um académico e a perguntar-se o que é que eu andei a fazer até aaagora e mais realisticamente a olhar para ele e a dizer-lhe em silêncio tu é que és o professor doutor e eu o engenheiro de exames ou provas ao domingo e primeiro ministro e tu nunca ministro provavelmente.

No fim do debate, depois de todos aqueles silêncios ignorantes espantados e amarelos e tendo noção que estava a ser passado a ferro ficou muito tempo a responder aos jornalistas, já fora do estúdio, a tentar conter os estragos quando... maravilha das maravilhas os spins vieram ou começaram a dizer que tinha sido empate, não, melhor, tinha ganho de uma forma quase avassaladora porque... porque não tinha dito nada e Louça como lhe tinha dado uma tareia ia ser cilindrado por... lhe ter dado essa mesma tareia, assim, sem mais nem menos, o que é que querem, isto é Portugal. Todos os dias.


3. O caso do bullying anda na boca de toda a gente, uma pessoa que se matou atirando-se abaixo da 25 de abril, http://www.publico.pt/Educação/professor-vitima-de-bullying-preferiu-morrer-a-voltar-ao-9º-b_1426720 11/3/2009. Tão triste e tão irónico tudo isto. Mas começar por dizer que sou dos que acham que ao contrário do que se passa noutros países quando alguém entrar numa escola de caçadeira em punho em Portugal e disparar não sei quantos cartuxos esse alguém não será muito provavelmente um aluno mas sim um professor, ou outro adulto qualquer, já exangue e louco de tudo aquilo que é obrigado a ouvir, ver, passar.

Quem não entra numa escola há muito tempo devia lá ir. Só para poder comprovar que a instituição escola pública está à beira leia-se muito perto da demência, de estar psicopatada. Exagero, não é? Vão lá e vejam.

O que me faz muita impressão, mesmo muita, é a diferença entre aquilo que se tolera numa escola pública e numa escola privada. O ambiente, sabem?
O que é que faz uma mãe ou um pai aceitarem determinadas regras de conduta, um regulamento interno, na escola privada e não o aceitarem numa escola pública?


4. Assim como em Kafka é a família ou que sofre a metamorfose também em Balzac, Ilusões Perdidas, não é Lucien quem perde se perde. Isso é o que vocês queriam. Era, não era? Queriam, mas não, vão mas é dar banho ao cão.

Ontem e hoje tive de arrumar uns papéis e dei de caras com umas fotocópias, já amarelecidas, de uma revista sobre livros e autores e críticos e crónicas e enfins onde uma das mais recentes coqueluches cá da bloga que assina uma crónica intitulada faca de seda, chamado Filipe Nunes Vicente, diz, como remate final do seu escrito do mês 11 de 2008 que "resta dizer que se os pais não tiverem hábitos de leitura, ou não existirem livros em casa, nada disto funciona [o de incutir hábitos de leitura ao longo do tempo, desde que se nasce até que se morre]. Nesse caso ganham os computadores, a televisão e os jogos de consola (ou a rua e a solidão). São hábitos, senhor, são hábitos."

Achei, na altura, lembro-me agora, este texto repelente, e assim como imagens em slow motion achei, também, que talvez não se pudesse esperar outra coisa de quem manuseia esta faca, um destes dias um dos críticos de serviço 3 estrelas e meia que é para se ver como é que é.

E depois, também de repente, lembrei-me do Real Colégio dos Nobres, dos seus objectivos, mas achei que devia parar. E do carro da Gulbenkien, da sua biblioteca itinerante, ao sábado parado no parque junto ao café.

Mas ontem trouxe comigo, grátis nas prateleiras da fnac, a mini biblioteca essencial fnac casa da leitura, bonito, e dei com os olhos, no separador verde, com Manuel António Pina, nove livros e mais um.
E começa assim: "Em casa dos meus pais não havia livros. Ou melhor, havia apenas um ou outro (dois acho eu) de literatura cor-de-rosa, ou lá que cor é, de Delly, uma Vida Sexual de Egas Moniz (...) Um dia, meu pai trouxe-nos, a mim e a meu irmão, um exemplar do Cavaleiro Andante, o n.º 4 (lembro-me perfeitamente desse n.º4, tanta emoção me deu a inesperada prenda: tinha na capa um forte da Legião Estrangeira, ilustração daquela que, em breve, se tornaria uma das minhas aventuras preferidas da revista "Beau Geste"). E foi tal a emoção que meu pai, depois de muitas hesitações, concedeu em onerar o magro salário de funcionário com uma assinatura. Encomendou os números anteriores, o 1, o 2 e o 3 e, a partir desse dia, eu e meu irmão passávamos a semana à espera que chegasse sábado e corríamos, ao fim da tarde, para o largo da vila (vivíamos então na Sertã), aguardando a camioneta de Lisboa que trazia o Cavaleiro Andante. A ansiedade era tal entre nós que, para evitar disputas, meu pai teve que fixar-nos uma regra: os números pares, lia-os eu primeiro; os impares, meu irmão. (...) Depois, aos poucos, chegaram os livros, quase todos através da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian que, de 15 em 15 dias, estacionava em frente do edifício sa Câmara, em Oliveira do Bairro..."

Manuel António Pina, sempre:.


5. "En las manos de aquel escritor ruso, ex soviético, al que yo conocí en un congreso de literatura en Portugal, estaba escrita de manera indeleble una biografía de hospitales psiquiátricos y campos de castigo. Era un coloquio internacional del que tampoco recuerdo nada, salvo las manos de aquel escritor, salvo el dedo índice que por un momento se apartó del humo del cigarrillo para señalar en dirección de los colegas occidentales que compartíamos con él una mesa redonda, y que le habíamos escuchado en silencio mientras contaba su historia de persecución. "Qué poco tenemos que agradecerles a ustedes", nos dijo, el dedo amarillo de nicotina tan fijo como la mirada de los ojos muy claros. "Ustedes, los escritores europeos, que disfrutaban de la libertad, qué poca solidaridad tuvieron con nosotros, qué poca ayuda nos dieron".

Algunos bajaban la cabeza o miraban hacia otro lado para no ver aquel chato dedo acusatorio. Ésa ha sido la actitud de una parte de la intelectualidad occidental hacia los sufrimientos de las víctimas de los regímenes comunistas. Mirar para otro lado, callar por miedo a que lo acusen incómodamente a uno de cómplice de la reacción. Al fin y al cabo hay causas mucho más seguras que garantizan sin riesgo la vanidad de sentirse solidario, el certificado irrefutable de progresismo que le permite a uno la impunidad moral, aparte de un cierto número de beneficios prácticos que tampoco son desdeñables. Ya se sabe el peligro que se corre cuando se atreve uno a no marcar el paso de la ortodoxia, tan querida entre quienes al parecer tienen por oficio la libertad de la imaginación y la rebeldía del pensamiento."

http://www.elpais.com/articulo/portada/costumbre/infamia/elpepuculbab/20100313elpbabpor_4/Tes

O texto de Molina desagua, num tempo curto, numa questão mais importante e mais urgente, mas no tempo longo a importância e a urgência será mais ou menos a mesma.

Aproveito as palavras de Molina para à boleia e com alguns alguns meses de atraso e de vontade, pelo menos desde o dia em que ouvi Luís Miguel Cintra, na casa da Achada, rodeado de novos artistas portugueses, perguntar-lhes o que estavam dispostos prontos a fazer, para tomar posição, para atirar um pedra à montra?

Desde esse dia que estou para abrir ali a antologia do Tempo e do Modo, que a Gulbenkian editou, para tentar sustentar e mostrar aquilo que tenho vontade de dizer sobre o papel, estatuto e pouca vontade dos nossos artistas de cá, do mundo, quando está em causa uma tomada de posição quase oracular.

A minha opinião é muito má e também de muitas dúvidas, como se deve fazer ou se já se faz mas só daqui a uns anos quando as obras isto e aquilo... quando mostrar? quando dizer? quando gritar? Não é preciso? É.

Por exemplo, quantos escritores, intelectuais, poetas, professores universitários apareceram no anterior consulado ma ministra da educação a dizer e a mostrarem-se contrário? Quantos? Quantos vieram defender a escola pública para o meio dos professores do ensino básico e do ensino secundário? Quantos?

Quantos jornalistas pais e mães vieram? Quantos defenderam a qualidade e a independência da escola pública? Andam agora admirados com o quê? Ainda há-de ser pior. Há dois e 3 anos já se faziam contas se olhava e se pensava que daqui a uns anos seriam precisos, por mês, mais 150, 200, 250 euros para os cidadãos deste país poder pagar a escola dos seus filhos.
Ai não se pensa assim? Ai é assim?


6. Vou ali dar banho ao cão.


7. Um sindicato convoca uma greve geral da função pública e o seu secretário geral aceita ir de viagem com esse governo numa viagem de estado nas datas abrangidas pela greve. Uma pessoa fica sem saber o que há-de dizer.


8. Se não fosse para lá de muito trágico seria caso para nos fazermos de parvos e perguntar àqueles que na política nacional ainda continuam a dizer o presidente da república tem o poder de usar a bomba atómica. Bomba atómica? Olhem para o espelho? Faz sentido? Simplesmente ridículo. Cada vez que a ouço vomito.


9. A semana passada, quinta-feira, jogo de futebol entre Marselha e Benfica, uma pessoa senta-se e pensa que vai ver um jogo da segunda divisão europeia e fica-se pasmado com a arbitragem, pior que as da regional de cá, e fica-se com a sensação que não nos podemos virar para lado algum nenhum pois caso contrário seremos logo roubados sugados agredidos no passado domingo a mesma coisa, como é possível aquele árbitro poder vir a arbitrar outra vez? Se tivesse um bocado, bocadinho pronto, de vergonha na cara nem sequer saía de casa.
É muito mau mas.




posted by Luís Miguel Dias terça-feira, março 30, 2010

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