A montanha mágica

quinta-feira, março 11, 2010

If you ever go to Houston (29)






fotograma de Le Fântome de la Liberté, de Luis Buñuel



1. Jornal Público, terça-feira, 2 de Março de 2010. A large negrito na primeira página: Escolas públicas perdem cada vez mais alunos para o ensino privado. A normal negrito: Estabelecimentos geridos pelo Estado perderam 98 mil estudantes em dez anos. Quota do ensino particular subiu de 15 para 18 por cento do total.

Página 38, do editorial: a large negrito: um dos títulos: Um desafio para a escola pública. A large: A escola pública tem de responder à concorrência da escola privada, para atenuar as desigualdades.


2. A dado passo da conversa decidiu interrompê-lo, a verborreia que aquele homem pela boca olhos barriga vomitava, os professores isto, os professores aquilo, são todos isto e mais aqueloutro, aquilo e tal e assim, estava descontrolado, vermelho, cor-de-rosa.
- Olha, olha, pára lá se faz favor e ouve um bocado:
- Já sei o que vais dizer...
- Ouve, se faz favor: em que trabalhas?
- Diz?
- Em que trabalhas, de onde te vem o dinheiro?
- Trabalho na construção civil.
- E a tua mulher?
- Numa fábrica.
- A tua filha em que ano está?
- 12º
- Que curso quer tirar na universidade?
- Medicina, médica.
- Tem tido notas para isso?
- Tem tido, mas os exames e...
- Escola pública ou privada?
- (risos) Pública.
- Ok.
- Mas esta ministra e este governo...
- Deita o cartão fora. Rasga.
- Estás muito enganado.


3. Anthony O`Hear, Os Grandes Livros: "Contudo, pouco depois da morte de Ésquilo, Atenas envolveu-se num prolongado e terrível conflito com Esparta (que acabou por perder), no decurso do qual, mais precisamente em 416 a.C., os atenienses --muitos dos quais tinham, sem dúvida nenhuma, assistido às peças de Ésquilo-- perpetraram um crime tão tremendo e tão indesculpável como o que tinham perpetrado em Tróia, tão bárbaro como qualquer crime que os persas tivessem praticado na juventude de Ésquilo. Como os habitantes de Melos insistissem em manter a neutralidade na guerra que opunha Atenas a Esparta, os homens dessa ilha foram todos chacinados, as mulheres e as crianças reduzidas à escravatura e a ilha entregue a colonos atenienses. Embora este acto possa ser considerado um rotundo fracasso das instituições que Ésquilo tanto elogia no final de As Euménides, dado que o massacre dos habitantes de Melos foi decidido por votação na assembleia de Atenas, o dramaturgo poderia replicar que o máximo que este acto demonstra é que não basta ter boas instituições. Se estas são indubitavelmente um progresso relativamente à aplicação privada da lei e da justiça, o seu êxito depende do facto de serem aplicadas por homens de boa vontade, coisa que não aconteceu em Atenas, no ano 416 a.C.
No famoso «Diálogo dos Mélios», inserido no Livro V da História da Guerra do Peloponeso, Tucídides põe na boca dos atenienses, como justificação para o massacre, o argumento de que na relações entre Estados, a lei necessária da natureza é governar sempre que se consegue. Enquanto potência mais fraca, os mélios têm o dever de se submeter à mais forte. Em tais circunstâncias, não é vergonha nenhuma ceder à mais importante cidade da Grécia, em especial quando esta propõe condições favoráveis. Os mélios recusaram-se a aceitar essas condições, com as consequências que foram referidas. Nunca saberemos ao certo o que teria o autor de Os Persas e da Oresteia achado do «Diálogo dos Mélios». Mas é razoável especular que, nas suas peças, Ésquilo nos apresenta material que permite contrariar, em palavras e obras, a decisão que os seus compatriotas tomaram. "


4. Na edição do passado sábado, dia 6 de Março, do jornal Público muitos textos mas para já apenas sobre dois deles: Uma ideia para Portugal, José Mattoso, e educação Rankings e avaliações, Eduardo Marçal Grilo.

Textos que podiam e deviam ser complementares e até um wip de não sei quantas páginas mas... não são e estão muito longe de o ser, ou, esperem... até podem ser mas é se tornarmos o segundo no contrário do que ele diz. Complicado? Simples.

José Mattoso, avé, termina o seu texto a falar do lugar dos justos, cidadania plena, bem comum, noção de serviço público, o sítio da civilização e da cultura, hoje e amanhã, porque conhecemos o ontem, Mattoso diz: "se algum historiador ousa falar do que está para vir, só pode fazê-lo em nome da sabedoria que lhe vem de conhecer o passado".

Outra vez: Mattoso diz, na página 4 do P2: "se algum historiador ousa falar do que está para vir, só pode fazê-lo em nome da sabedoria que lhe vem de conhcer o passado", mas Marçal Grilo, na página 58, não ouve nada, nada, devia, mas não, ou porque não quer, o mais credível e o mais certo, ou porque não sabe, muito remoto. Um professor doutor, gulbenkian, ministro, universidade... Será que muito do trabalho dos professores doutores deste mundo, associados e jubilados, é anotar quantas cagadelas de moscas é que o seu gabinete produz a partir da primavera? ou é estudar e investigar a melhor forma/caminho de chegarmos a ser civilização e cultura para o maior número de pessoas, também fora dos gabinetes?

Quem andou/anda atento às questões da educação sabe que o que Marçal Grilo disse e manifestou foi muito pior do que zero à esquerda. Tinha a obrigação, já que decidiu falar, de dizer com todas as letras e mais algumas se fosse necessário que a ex-ministra da educação se enganou/equivocou/não percebe nada do que está/esteve a fazer e que por isso se deve mudar de direcção. Absolutamente.

Outra coisa sr. professor doutor é a avaliação e rankings, isso é outra coisa; o que o anterior governo fez à escola pública foi/é dar início ao seu fim. Com todas as letras. Iniciar o seu fim. Princípio do fim. Por isso as parangonas e debates de jornais e worhshops valem quase nada. Ainda agora há quem ache que as escolas estão preparadas para a escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Veja lá. Sou um tonto, não é? Dizer isto assim, com refluxo gástrico em níveis elevados.

Olhe, ainda bem que não foi meu professor, o sr. professor doutor também é um dos responsáveis pelo fim da escola pública portuguesa. É. Sim. Verdade. Um dos responsáveis.
Devia e podia ter falado nas horas certas, ainda foram algumas. Pena. É a vida. A velocidade das suas pernas quando cruzadas vai aumentar. Deixe. É normal. Nas farmácias também há pantoprazol e omeprazol e assim.


5. Maria de Fátima Sousa e Silva, Introdução a Aristófanes: "Porque antes de mais `política´, a produção de Aristófanes tem de ser avaliada dentro do contexto histórico e social a que pertence. Os anos que acompanharam a vida teatral do poeta são, na Grécia, os da Guerra do Peloponeso, com todas as suas marcas de agitação externa e interna no dia-a-dia de Atenas. O século V a.C. foi na sua maior extensão, um tempo de conflitos armados. nas duas primeiras décadas, as guerras pérsicas empenharam toda a Grécia na defesa perante um unimigo comum --o grande império persa--, em nome da liberdade do território helénico, antes de mais, mas também do de toda a Europa, para onde a ambição de Dario e Xerxes prolongava um olhar voraz. Maratona, Termópilas, Salamina ou Plateias ficaram na memória colectiva dos Gregos como referências de uma vitória ganha com determinação e coragem, a que os deuses não terão deixado de acrescentar o seu contributo milagroso; uma pátria pobre, dividida e de fronteiras limitadas, lograva impor-se aos recursos e ao poder de uma potência e, em nome de um ideal de independência e de patriotismo, afastar a iminência da ocupação bárbara. Atenas colheu do sucesso helénico uma coroa maior pelo papel determinante que teve na estratégia da resistência, que produziu o desmantelamento e a retirada do invasor. Por isso lhe coube presidir à liga de Delos, uma confederação de cidades gregas, tributárias para um fundo comum com objectivos de defesa e prevenção contra futuras arremetidas do inimigo. Mas da própria prosperidade, Atenas fazia germinar desde logo o embrião da decadência, é assim, em linha curva, que a história desenha o destino das sociedades humanas. Tentada pela prerrogativa que lhe dava a presidência da liga de Delos, a cidade de Atena entendeu usar, em proveito próprio, fundos comunitários, agravar as contribuições dos seus parceiros, manifestando às cidades gregas, perplexas, propósitos que melhor convinham a uma potência que pretendia encabeçar um império do que à simples coordenadora de uma política comum."


6. A dada altura uma tontura e um snapshot: se as pessoas, mais parecendo indivíduos do que outra coisa, que estão à frente do ministério da educação são o que são e tomam as decisões que tomam será que nos outros ministérios/organizações/associações/grupos é igual? E vai-se, assim, alegremente?

É que olhando vê-se, repara-se, que esses indivíduos percebem pouco do que falam e decidem, e os que escrevem e falam para justificar e redimir os seus chefes ou amiguinhos de capelinhas percebem menos uns e percebem mais outros, o que, note-se, só lhes vai aumentar a velocidade da perna esquerda ou da perna direita enquanto sentados com elas cruzadas.

É, foi, impressionante ver como muitas pessoas emitiram/emitem opiniões acaloradas sobre algo que não sabem; dizem que ser assim é que é ser homem/mulher de estado ou do mundo; ou seja: nada perceber, dizer meia dúzia de balelas e foder=acabar com sistemas de que dependem muitas pessoas e indivíduos; até lhes dão pancadinhas nas costas, e umas medalhas ao peito.

Estava à vista de quem quisesse ver, e a responsabilidade é maior naqueles que sabiam o que estavam a ver/ler. Os outros são circo, destruir depois de ler.


7. Fazer zapping é quase sempre perigoso, tanto na televisão como no rádio. Um destes dias, num desses momentos, fiquei a ouvir um parágrafo até ao fim de uma autora portuguesa com um locutor de rádio português, que já morreu mas ainda não sabe. Dizia a autora que, muitas dezenas de livros para crianças depois, quando ia a uma escola era sempre muito bem recebida, que até os alunos mais problemáticos com quem convivia diziam que gostavam muito dela, ela é que era, e que sentia que ajudava muito estar por ali, pelas escolas. Acrescentou que nunca passava mais do que dois dias numa escola mas que percebia muito bem todos estes alunos e o modo de funcionamento das escolas.
Continuemos todos a fazer de conta.


posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, março 11, 2010

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
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