quinta-feira, novembro 05, 2009
luzes
fotograma de Rio Bravo, de Howard Hawks
A primeira vez que entrei numa sala de cinema foi para ver um Charlie Chaplin, e não há adjectivos, e ainda vejo algumas das sombras dessa primeira vez às vezes, amiúde.
Depois no início da adolescência um conluio entre o acaso e a sorte levou a que um dia ou uma noite tivesse ficado inocentemente a ver um filme de cowboys na televisão, filme esse que quando hoje fecho os olhos está lá, foi assim durante toda a adolescência e agora neste estado a que se chama de adulto e lhe arranjam uma definição a condizer.
Durante muito tempo não soube o nome do filme, do realizador e não entendi muito do que tinha visto; mais tarde porque estava sempre à espera de voltar lá apanhei-o de novo e soube que se chamava Rio Bravo, há lá um rosto esquivo atrás de uma daquelas casas de madeira à luz nocturna daquela luz de caravaggio que me ficou para sempre.
Ainda mais tarde soube quem era o realizador e o que pensavam sobre ele e sobre os seus filmes algumas das pessoas que aprendi a gostar de ouvir e de ler. A única coisa que pensei foi "tiveste muita sorte".
O meu primeiro cineclube foi o cineclube de guimarães, monumento nacional, que agora, para os meses de Outubro, Novembro e Dezembro, programou um ciclo de cinema intitulado "Regresso ao Velho Oeste":
Cavalgada Heróica, de John Ford; Rio Bravo, de Howard Hawks;
Os Profissionais, de Richard Brooks; O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone;
A Quadrilha Selvagem, de Sam Peckinpah; Homem Morto, de Jim Jarmusch.
Acabo a citar João Bénard da Costa: "Na cadeia, não podendo mais com a ressaca, Dean Martin enche o copo de ´whisky`. Vai começar a bebê-lo (e ninguém interfere) quando se ouve, através das janelas, a canção índia do `No Mercy for the Loosers´. Dean Martin interrompe o movimento, pousa o copo e pede a Brennan que não feche a janela, que o deixe continuar a ouvir. A música da perdição volve-se em missa de salvação. À pena que tem de si próprio substitui-se, como em Only Angels Have Wings, a percepção fulminante que ninguém terá pena dele. Nem dos outros. Sem uma palavra (a não ser o breve pedido de Martin a Brennan), só com música, tudo está dito sobre mercy e sobre loosers."
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, novembro 05, 2009