A montanha mágica

sexta-feira, outubro 23, 2009

If you ever go to Houston (14)
outro extra! outro extra! outro extra!





Ivan Navarro



Não lhe pões o dedo; não lhe tocas; ou, não pões o dedo; das três não sei qual é a mais certa, não a escrevi só a ouvi, disse Saramago já em Lisboa, referindo-se assim à sua imaginada pouca tolerância do clero católico que reage mal quando vê e ouve pessoas falar e escrever sobre a Bíblia, e neste caso de um nobel.

Recuemos só até ao Renascimento. Os humanistas exortavam, e muito bem, o espírito crítico como veículo fundamental para iniciar e chegar a uma renovação cultural e artística e espiritual da Europa e das suas instituições.

Definição de espírito crítico, assim de um manual de História do ensino básico português: "atitude de um indivíduo que se recusa a aceitar todo e qualquer conhecimento pré-concebido, sem antes o submeter a uma reflexão sobre a sua origem e valor".

Agora Montaigne, de um manual de História, mas desta feita do ensino secundário, e mais à frente, daqui a um bocado, Balzac: Montaigne, Ensaios, então: "Não cessam de gritar-nos aos ouvidos, como quem deita por um funil, e a nossa obrigação é a de redizer aquilo que nos disseram. Quereria que ele [o preceptor] corrigisse isso, e que, logo de início, embora tendo em conta a idade e a personalidade do seu aluno, começasse a ensaiar fazer-lhe apreciar as coisas, escolhê-las e discernir por si próprio; algumas vezes abrindo-lhe o caminho, algumas outras deixando que ele o abrisse. Não quero que só ele invente e fale, quero que escute o seu discípulo falar por seu turno [...]. Que se não limite a pedir-lhe conta das palavras da sua lição, mas do sentido e da substância, e que avalie dos progressos que ele tenha feita, não pelo testemunho da sua memória, mas pelo da sua vida [...]. Que tudo lhe faça passar pela peneira, e nada alojar na sua cabeça por simples autoridade e crédito; os princípios de Aristóteles não lhe sejam princípios, nem os dos Estóicos ou Epicúrios. Que se lhe proponha esta diversidade de juízos: ele escolherá, se puder, se não, ficará na dúvida."

Parece óbvio, voltando ao não lhe pões o dedo; não lhe tocas; ou, não pões o dedo, que Saramago, como já o afirmaram muitas pessoas sobre esta discussão, disse o que disse e escreveu o que escreveu partindo de não saberes, apenas querendo ser polémico.

Quando criticamos e dizemos o que dizemos devemos tentar que seja bem, senão fazemos figura de tontos. Que parece ser o caso. Prova-o o contorcionismo desta espécie de volta atrás. É da natureza humana, claro, é assim.

Ou acham que o falta cumprir-se Portugal e o só três sílabas de plástico são do mesmo plano?

Saramago e os seus editores e os seus próximos quiseram criar um entretenimento e fazer soar aí pelo planeta que sim, que era ele, de novo.

Olhemos agora e ainda para Balzac para alargarmos a não discussão:

"Com excepção de Laure de Rastignac, de dois ou três jovens e do bispo, todos os ouvintes se entediavam", escreve a dados passos no Ilusões Perdidas.

Por diversas vezes Balzac se refere a clérigos dizendo que eles estavam lá, eram dos mais atentos e com opinião para dar e discutir. Por uma vez se refere aos mesmos num tom menos simpático, ainda que nas outras a ironia esteja presente.

Já notei algumas vezes que em discussões públicas sobre assuntos importantes, os clérigos convidados a dar a sua opinião vão sempre mais longe do que a maioria dos outros convidados, as suas reflexões tem mais reflexão, mais profundidade, mais premissas.

E não tem de ser assim; não tem de ser assim em relação aos outros porque os dias dos clérigos também têm 24 horas, dê por onde der só têm 24 horas.

E depois são homens e mulheres, ponto. Para mim não são mais responsáveis e mais exemplo do que outros. Vestem batina? Fizeram votos? A sociedade vê-os como? Se esticarem a corda vêem que o padre não tem mais tudo isso do que os outros.

Mas muitos estão lá e estão mais à frente, outros não. Como é natural. A este respeito anda a Antígona a publicitar a e dição de dois livros de Tomás da Fonseca que pretendem, entre outras coisas, açular o jacobinismo mais serôdio lá para o 5 de Outubro de 2010. Provar o quê?

Todavia não é por se estudar Teologia que se veste a roupa toda e se acha que todos os outros ainda não reflectiram o suficiente, ou que ainda não chegaram ao ponto, ou que não sabem o que estão a dizer. É que também acontece isso. No caso de Saramago é isso mesmo que não acontece, provocou e não esteve nem está pronto para retorquir, depois queixa-se e vitimiza-se. Azar.

A tolerância e a atenção em relação aos outros não veste roupa nenhuma, todos somos responsáveis por tudo e eu mais do que todos os outros, escreveu Dostoievski.


posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 23, 2009

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