A montanha mágica

terça-feira, outubro 20, 2009

If you ever go to Houston (13)
extra! extra! extra!





Dan Flavin


José Saramago, comunista ortodoxo, parece que é um exagero dizer assim, não se consegue libertar da cartilha, mas como é nobel paira por cima dela, até já apoia o homem e o partido que lhe deu ou cedeu uma casa para a fundação, em Lisboa, não se consegue libertar da cartilha básica que tem dentro de si e depois diz o que diz, como aquelas pessoas que quando estão ensandecidas, enraivecidas tremem muito a falar e dizem que eu só quero dizer uma coisa; Marx, Manifesto do Partido Comunista, Materialismo Histórico, Lenine, Estaline, Sibéria? e por aí fora.

Claro que não, claro que não. Mas Saramago faz assim.

E a comunicação social, polvilhada de jornalistas que o que mais anseiam é obter um furo ou uma polémica que alimente dias e mais dias, lhe dá voz quando ele diz nada. Aliás, o que é que a comunicação social deste país faz neste país de comunicação? parece Coimbra, arre, a do conhecimento. Trágico, não é? Dá voz e vozes e vezes a quem diz nada, numa espécie de entretenimento colectivo esquizofrénico em que as pessoas acham graça não se sabe bem a quê; todos correm para os gato fedorento, já viram bem a figurinha que fazem aqueles convidados, e nós rimo-nos, vamo-nos rindo, achamos normal. Valparaiso de DeLillo também explica.

Vejam esta frase do ipsílon:

"Saramago volta a provocar a ira da Igreja. Católicos qualificam críticas do autor de Caim como "operação de publicidade". A controvérsia parece estar nos genes do escritor.

É uma espécie de sequela de um filme já visto no passado. O protagonista mantém-se: José Saramago. E o tema também: a religião. A diferença é que as palavras que reacenderam o rastilho da polémica surgiram a propósito do livro Caim e não de O Evangelho segundo Jesus Cristo."

; não diz nada, leia-se a frase outra vez: que consequências tiramos dela? O nada que diz já aparece justificada nela mesmo e tudo; é o vazio angustiante, perigoso e impotente. O que tiramos dela?
Ai, Conrad, Conrad, tu que não despediças uma frase, uma palavra, nem uma letra sequer.

Sei que é uma ilusão quase tola, mas gostava de encontrar neste livro saramaguiano, do nobel que nos mantém quase a par e passo das elites mundiais, segundo Rui Tavares, meia dúzia de frases como estas do "A Leste do Paraíso, de John Steinbeck, que li ontem a uma das turmas na escola:

"Deteve-se.
- Já pensou no seu próprio nome?
- No meu nome?
- Evidentemente. Os seus primeiros filhos... Caim e Abel.
Adam disse:
- Não, não temos o direito de fazer uma coisa dessas.
- Bem sei. Seria desafiar o destino, seja ele qual for. Mas não é estranho que Caim seja o nome mais conhecido em todo o mundo e que só um homem o tenha usado, pelo menos que eu saiba?
Lee disse:
- Talvez seja por isso que esse nome nada perdeu do seu significado.
Adam olhou o seu vinho cor de tinta.
- Tive um arrepio só de o ouvir dizer.
- Há duas histórias que nos perseguem e assombram desde os começos dos tempos --disse Samuel. - Trazemo-las connosco como duas caudas invisíveis, a história do pecado original e a de Caim e Abel. Pessoalmente, não as compreendo, não as compreendo mesmo nada, mas sinto-as. A Lizza zanga-se comigo, diz que eu não devia tentar compreendê-las, que é inútil explicar uma verdade. Talvez tenha razão. A Lizza afirmou-me que você era presbeteriano, Lee. Você compreende o jardim do Paraíso e Caim e Abel?
- A sua mulher pensou que eu devia ser alguma coisa e, a verdade, é que andei na escola dominical em San Francisco há muitos anos. As pessoas gostam que nós sejamos alguma coisa, de preferência o que elas próprias são.
Adam disse:
- O Samuel perguntou-lhe se compreendia.
- Julgo compreender a queda original. Ou antes, sinto-a. Mas o assassínio do irmão, não. Talvez seja por não me recordar bem de todos os pormenores.
Samuel disse:
- A maioria das pessoas não conhece os pormenores. Ora são precisamente os pormenores que me deixam perplexo. Quando penso que Abel não teve filhos! (Olhou o céu.) Valha-me Deus, como este dia tem passado depressa! É como a vida que passa ràpidamente quando não lhe prestamos atenção e lentamente quando a observamos. Não! --disse ele. - Estou a gostar e prometi a mim mesmo nunca considerar o prazer um pecado. Sinto-me feliz quando interrogo, quando levanto a pedra para ver o que tem debaixo. E o meu maior desgosto é saber que nunca poderei ver o que está do outro lado da Lua.
- Eu não tenho Bíblia --disse Adam. - A da minha família ficou no Connecticut.
- Eu tenho uma --disse Lee. - Vou buscá-la.
- Não é preciso --disse Samuel. - A Lizza emprestou-me a da mãe dela. Tenho-a aqui na algibeira. (Tirou o embrulho e mostrou o livro estragado.) Está rasgada e toda roída --disse ele. - Só queria saber a quantas agonias já assistiu. Dêem-me uma Bíblia usada e creio ser capaz de descrever um homem pelas páginas ratadas e pelas marcas dos dedos. A Lizza também tem dado muito uso à sua Bíblia. Cá chegamos, portanto. À mais velha de todas as histórias. Se ela nos perturba é porque a perturbação está dentro de nós.
- Desde pequeno que nunca mais a ouvi ler --disse Adam.
- Então, deve julgar que é comprida, quando afinal é curta --disse Samuel. - Vou lê-la toda para, depois, a comentarmos. Dê-me vinho, que já sinto as goelas secas. Ora aqui está. Uma história tão pequena mas que abriu tamanha ferida! (Olhou para o chão.) Os meninos adormeceram mesmo no chão.
Lee ergueu-se.
- Vou tapá-los --disse ele.
- A poeira também aquece --disse Samuel. - Agora, oiçam: «Ora Adão conheceu a sua mulher Eva; a qual concebeu e pariu a Caim, dizendo: Eu possuí um homem por Deus.»
Adam quis falar, mas Samuel olhou para ele. Adam calou-se e cobriu os olhos com a mão. Samuel continuou:
«Depois teve a Abel, seu irmão. Abel porém foi pastor de ovelhas, e Caim lavrador. Passado muito tempo aconteceu oferecer Caim ao Senhor os seus dons dos frutos da terra. Abel também ofereceu das primícias do seu rebanho, e das suas gorduras; e olhou o Senhor para Abel e para os seus dons. Para Caim, porém, e para os dons não olhou.»
Lee interrompeu:
- Aí... Não, continue, depois voltamos atrás.
Samuel prosseguiu:
«E Caim se irou fortemente, e o seu semblante descaiu. E o Senhor lhe disse: Porque andas tu irado? E porque descaiu a tua face? Porventura, se tu obrares bem, não receberás recompensa? E se obrares mal, não estará logo o pecado à porta? Mas a tua concupiscéncia estar-te-á sujeita, e tu dominarás sobre ela. Caim porém disse a seu irmão Abel: Saiamos fora. E quando ambos estavam no campo, investiu Caim com seu irmão Abel, e matou-o. E o Senhor disse a Caim: Onde está o teu irmão Abel? Ele respondeu: Não sei. Acaso sou eu o guarda de meu irmão? E o Senhor lhe disse: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama desde a terra por mim. Agora pois serás tu maldito sobre a terra, que abriu a sua boca, e recebeu o sangue de teu irmão da tua mão. Depois que tu a tiveres cultivado, ela te não dará os seus frutos: tu andarás vagabundo, e fugitivo sobre a terra. E Caim disse ao Senhor: O meu pecado é muito grande, para eu poder alcançar perdão. Eis-aí me lanças tu hoje da face da terra, e eu me irei esconder da tua face, e andarei vagabundo e fugitivo na terra: todo o que pois me achar, matar-me-á. E o Senhor lhe respondeu: Não será assim: antes o que matar a Caim será castigado sete vezes nais. E o Senhor pôs um sinal em Caim, para que o não matasse quem quer que o encontrasse. E Caim, tendo-se retirado de diante da face do Senhor, andou errante pela terra, e ficou habitando no país que está a Leste do Paraíso.»
Samuel fechou o livro com uma espécie de cansaço.
- Aqui têm --disse ele--, dezasseis versículos, nem mais, nem menos. E, Deus do Céu, só agora reparo numa coisa terrível: nem uma única palavra de encorajamento. Talvez a Lizza tenha razão. Não há nada a compreender.
Adam suspirou profundamente.
- Não é uma história reconfortante.
Lee encheu o copo com o seu licor escuro, levou-o aos lábios, mas ficou com o líquido na boca. Depois de o ter engolido, disse:
- Só têm força ou deixam vestígios as histórias que somos capazes de sentir dentro de nós. Muito grande é o fardo de culpas que os homens carregam!
Samuel disse a Adam:
- E você tentou carregá-lo sòzinho.
Lee disse:
- O mesmo acontece comigo e com toda a gente. Colhemos as culpas às braçadas como se fossem uma coisa preciosa. Deve ser porque assim o desejamos.
Adam interrompeu:
- Isso faz com que me sinta melhor e não pior.
- Porque diz isso? --perguntou Samuel.
- Não há criança nenhuma que não julgue ter inventado o pecado. Convencemo-nos de que nos ensinam a virtude e de que o pecado nasce em nós.
- Estou a ver. Mas em que é que esta história atenua o pecado?
- Nós somos os descendentes dele --disse Adam com veemência. - Ele é nosso pai e parte da nossa culpa é absorvida pela nossa ancestralidade. Que oportunidade tivemos nós? Nós não somos os primeiros, somos os filhos do nosso pai. É uma desculpa e não há ssim tantas neste mundo.
- Pelo menos, convincentes --disse Lee. - Se não fosse isso, já há muito tempo que teríamos acabado com a culpa, e o mundo não estaria povoado de homens tristes que vergam ao peso do castigo.
Samuel perguntou:
- Mas que outra situação poderíamos imaginar? Com desculpas ous em elas, estamos ligados à nossa ancestralidade. Carragamos a culpa.
Adam disse:
- Lembro-me de me ter enfurecido com Deus. Caim e Abel ofereceram-lhe o que tinham, e Deus aceitou Abel e repudiou Caim. Sempre pensei que era justo. Se vocês compreendem, eu não compreendo.
- Talvez a gente não interprete bem o quadro por ter perdido a moldura --disse Lee--. - Esta história foi escrita por um pastor para um povo de pastores. Não eram lavradores. O Deus dos pastores não se sentirá mais inclinado a preferir um cordeiro a um molho de cevada? Uma oferenda deve ser constituída pelo melhor e pelo mais valioso.
- Percebo o que quer dizer --retorquiu Samuel--. - Lee, previno-o duma coisa: nunca se ponha com raciocínios orientais diante da Lizza.
Adam estava excitado pelo jogo:
- Sim, mas porque foi que Deus condenou Caim? É uma injustiça.
Samuel respondeu:
- Há toda a vantagem em prestar atenção ao significado das palavras. Deus não condenou Caim. Até o próprio Deus pode ter uma preferência, não é verdade? Suponhamos que Deus tenha preferido o anho aos produtos da terra. Aliás, também é do que eu mais gosto. Caim levava-lhe, digamos, um molho de cenouras. Deus responde: «Não gosto disso. Experimenta outra coisa. Traz-me algo que me agrade e terás a mesma afeição que dedico ao teu irmão.» Caim enfurece-se, sente-se ofendido. E quando um homem fica ferido no seu amor-próprio, sente logo ganas de bater em qualquer coisa. Abel atravessou-se no caminha da sua cólera.
- S. Paulo diz aos Hebreus que Abel tinha fé --disse Lee.
- O Génesis não fala nisso --disse Samuel. - Nem em fé, nem em falta de fé. Apenas se refere à ira de Caim.
Lee perguntou:
Que pensa a Sr.ª Hamilton dos paradoxos da Bíblia?
- Não pensa coisa nenhuma, pelo simples facto de não os admitir.
- Mas...
- Calma. Experimente perguntar-lhe e verá que sai da discussão com os cabelos brancos e sem ter adiantado coisa nenhuma.
- Vocês estudaram isso, enquanto eu só tenho uma ideia superficial. Então Caim foi expulso por assassínio?
- Exactamente, por assassínio.
- E Deus marcou-o?
- Então não ouviu? Caim tinha uma marca, não para ser destruído, mas para que se salvasse. Pesa uma maldição permanente sobre todo o homem que o matar. A marca destinava-se a preservá-lo.
Adam afirmou:
- Continuo convencido de que Caim não foi tratado com igualdade.
- Talvez --disse Samuel--. -Mas Caim viveu e teve filhos, enquanto Abel apenas viveu na história. Todos nós somos filhos de Caim. E não é estranho que três adultos, passados milhares de anos, discutam esse crime como se ele tivesse sido cometido ontem, em King City, e a sentença ainda não tivesse sido proferida?
Um dos gémeos acordou, bocejou, olhou Lee e tornou a adormecer.
Lee disse:
- Lembra-se de lhe ter dito, Sr. Hamilton, que estava tentando traduzir antigas poesias chinesas para inglês? Não, não tenha medo, não lhas vou ler. Ao dedicar-me a esse trabalho, verifiquei que certos pensamentos perdidos na bruma do tempo se mantinham tão frescos e claros como um nascer de sol. Se a história não disser respeito ao auditor, ele acaba por se desinteressar. Creio poder enunciar esta regra: se uma história quiser ser grande e perpetuar-se, terá de se dirigir a cada um de nós. Os factos estranhos e longínquos não nos interessam, só o que é profunfamente pessoal e familiar nos desperta a simpatia.
Samuel disse:
- Aplique então isso ao drama de Caim e Abel.
Adam retorquiu:
- Eu não matei o meu irmão...
Sùbitamente, deteve-se, às voltas com o passado.
- Posso fazê-lo --respondeu Lee a Samuel--. - Esta história só é conhecida dos homens por ser a sua própria história. É a história simbólica da alma humana. Creio estar no bom caminho... não me interrompam se não me exprimir com clareza. O que mais aterroriza as crianças é o receio de não serem amadas; acima de tudo, temem ser repelidas. Afinal, todos o fomos, em maior ou menor grau. Daí nasce a cólera que leva a um crime qualquer para obter vingança, e com o crime vem a culpa: é a história da humanidade. Se o homem não fosse repelido por aqueles que ama, não seria o que é. Talvez houvesse menos desequilibrados. E tenho a certeza de que as prisões deixariam de ser necessárias. Tudo começa por aí. Uma criança, ao ver recusar o amor que pede, dá um pontapé num gato e esconde a sua culpa secreta; uma outra rouba o dinheiro para comprar o maor; uma outra conquista o mundo --é sempre a mesma coisa: culpa, vingança e culpa maior ainda. O ser humano é o único animal que tem remorsos. Esperem! Tenho a impressão de que esta antiga e terrível história é importante, porque define o mapa da alma, essa alma secreta, desdenhada, culpada. Sr. Trask, o senhor disse que não tinha matado o seu irmão, mas lembrou-se de qualquer coisa. Não me interessa saber o que era, mas teria tão pouco que ver com Caim e Abel? E o senhor, Sr. Hamilton, que pensa do meu raciocínio oriental? Sabe muito bem que sou tão oriental como o senhor.
Samuel apoiara os cotovelos na mesa e encostara o rosto às mãos.
- Quero pensar --disse ele. - Deixe-me, quero pensar. Preciso de desmontar tudo o que disse, para estudar as peças uma a uma. Parece-me que deu cabo do meu mundo e ainda não sei o que irei construir em seu lugar.
Lee perguntou serenamente:
- Não se poderia construir um mundo sobre a verdade? Não se poderiam arrancar certas dores e certas loucuras, se tivéssemos os intrumentos necessários?
- Não sei. Você destruiu o meu belo universo, inventou um jogo orgulhoso e transformou-o numa lei. Deixe-me em paz, preciso de reflectir. Os seus horríveis bicharocos já começaram a proliferar no meu cérebro. Gostava de saber o que pensará o Tom de tudo isto. Era capaz de acalentar os bicharocos na mão, de os fazer girar devagar em cima do lume, como um frango no espeto. Adam, acorde, para recordações já basta.
Adam sobressaltou-se, suspirou demoradamente e perguntou:
- Não será simples de mais? Sempre tive medo das coisas simples.
- Não é nada simples --disse Lee. - É desesperadamente complicado. Mas no fim há a luz.
- Haja o que houver, a do Sol está a ir-se embora --disse Samuel. - Nem demos pela passagem do tempo. Afinal, vim eu para baptizar as crianças e elas continueam sem nome. Temos andado aqui às voltas, sem sair da cepa torta. Quanto a si, Lee, era preferível que não fosse explicar as suas concepções à Igreja. Os Chineses não estão isentos da cruz, que eu saiba. A Igreja gosta das complicações, mas só das suas. Tenho de voltar para casa.
Adam pediu com desespero:
- Dêem-me nomes.
- Da Bíblia?
- Seja de onde for.
- Ora vejamos. De todos os homens que fugiram do Egipto, só dois chegaram à Terra da Promissão. Não acha que esses dois nomes são bastante simbólicos?
- Quais?
- Caleb e Josué.
- Josué era um soldado, um general. Eu não gosto do exército.
- Caleb era capitão.
- Mas não era general. Caleb agrada-me... Caleb Trask.
Um dos gémeos despertou e largou logo a chorar.
- Chamou-o pelo nome --disse Samuel. - Josué não lhe agrada e Caleb está escolhido. Será portanto aqele, o espertalhão, o mais moreno. Olhe, o outro também já acordou. Sempre gostei de Aaron, mas esse não chegou à Terra de Canaã.
O segundo garoto soltou um grito que parecia quase de alegria.
- Esse nome é bom --disse Adam.
Samuel deu uma grande gargalhada.
- Em dois minutos --disse ele--, e depois duma torrente de palavras. Caleb e Aaron, agora já sois gente, fazeis parte da nossa comunidade e tendes direito à danação.
Lee pegou nos dois meninos e perguntou:
- Já não os confunde?
- Não --respondeu Adam. - Este é o Caleb e tu, tu és o Aaron.
- Lee levou os gémeos a berrar para casa.
- Ontem, ainda, era incapaz de os distinguir --disse Adam. - Aaron e Caleb!
- Louvado seja Deus por ter recompensado os nossos esforços --disse Samuel. - A Lizza devia preferir Josué. Ela sempre teve um fraco pelas trombetas de Jericó. Mas também há-de gostar de Aaron. Portanto, está tudo em ordem. Vou atrelar o carro.
Adam acompanhou-o até à cocheira.
- Ainda bem que veio. Parece que me tirou um grande peso de cima.
Samuel meteu o freio na boca de «Doxology», endireitou a testeira e prendeu a fivela do peitoril.
- Se calhar, agora, vai pensar de novo no jardim? Já o estou a ver como o tinha sonhado.
Adam só respondeu passado algum tempo:
- Já não tenho energias para isso. Não me falta dinheiro para viver e já não tenho ninguém a quem mostrar esse jardim.
Samuel aproximou-se dele com os olhos marejados de lágrimas.
- As energias nunca morrem --disse ele. - Não conte com isso. Julga que é melhor do que os outros? A energia só morrerá consigo.
Ficou a arquejar, depois subiu para o cabriolé, chicoteou «Doxology» e partiu todo curvado, sem dizer adeus."


Este excerto foi retirado da 2ª edição, Livraria Bertrand, traduzido por João B. Viegas, s.d.

E agora vou ali ouvir a música seis do coração independente, de amália, estou viciado, é a vida.


posted by Luís Miguel Dias terça-feira, outubro 20, 2009

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