sexta-feira, setembro 11, 2009
1. No início do mês de Agosto ou mesmo em finais de Julho, alguns jornais e alguns noticiários televivos e radiofónicos davam conta dos resultados de um estudo sobre as auto-estradas portuguesas, inquéritos e mais análises, análises e conclusões e está quase tudo bem e somos bons muito bons ora os maiores diziam ou dizem os xutos.
O mais insólito enquanto lia e ouvia aquelas balelas foi ver e ouvir a pergunta que não foi feita: são as auto-estradas portuguesas caras para os utentes do dia-a-dia? ou: está satisfeito com o preço que paga nas auto-estradas portuguesas?
É verdade, é a vida.
O preço que se paga em Portugal é pornográfico.
Têm dinheiro para gastar? Construam uma nova auto-estrada entre o Porto e Lisboa e façam da actual A1 uma scud ou lá como é que se chama, não se riam, já estamos no século XXI.
2. Rui Tavares podia ter aproveitado a oportunidade e o seu espaço no jornal público para tornar um pouco mais conhecidos os motivos que levaram a que a bandeira republicana seja como é, indo assim ao encontro de Nuno Severiano Teixeira "Uma genealogia do cromatismo verde-rubro na história das bandeiras portuguesas revela-nos um fenómeno tanto mais surpreendente quanto pouco conhecido, ou, pelo menos, pouco citado."
Desocultação do vermelho sangue e do verde esperança
Nuno Severiano Teixeira:
"Corria na opinião pública que o Conselho de Ministros se inclinava para a bandeira azul-branca. A Carbonária, porém, usando o peso da sua influência, granjeada na revolução, ter-se-ia oposto veementemente. Perante o impasse, decide o Governo formar uma comissão especialmente destinada ao estudo da bandeira e do hino nacionais.
Não foi necessário esperar muito para que a comissão apresentasse ao Governo o resultado dos seus trabalhos. De facto, logo a 29 do mesmo mês [Outubro de 1910]apresenta um primeiro projecto, idêntico à bandeira da revolução de 5 de Outubro, com uma diferença -- a proporcionalidade e a localização das cores verde e vermelho inverte-se em relação à tralha.
Porém, a escolha da bandeira verde-rubra e a sua consagração imediata, quando a decisão não era de forma alguma pacífica e, sobretudo, antes de ter sido sancionada pela Assembleia Nacional Constituinte, levanta uma violenta polémica que moveu algumas das figuras mais gradas da vida pública portuguesa e apaixonou a opinião pública nacional.
Em Lisboa, Porto e por todas as cidades de província multiplicam-se os projectos para a nova bandeira. Na imprensa periódica, em croquis afixados em clubes políticos, livrarias, tabacarias e outros estabelecimentos comerciais, em conferências e sessões públicas, desde as salas de teatro à Sociedade de Geografia, os diferentes autores divulgam e fazem a defesa empenhada dos seus projectos. Acreditava-se ainda que a Assembleia Constituinte podia votar um parecer contrário e os partidários do "azul-branco" reclamavam com insistência um plebiscito.
A polémica polariza-se em torno de duas grandes questões: uma, de primeira ordem, a das "cores" azul-branco/verde-rubro; outra, menos acesa, a das "armas" - em torno da esfera armilar.
Em defesa do verde e encarnado vêm a terreiro, para além da comissão, figuras tão prestigiosas como Afonso Costa, António José de Almeida e o próprio Presidente do Governo Provisório, Teófilo Braga. A defesa do "azul-branco" é encabeçada pela não menos prestigiosa figura do poeta Guerra Junqueiro, entre outras, como A. Braancamp Freire, António Arroio, Lopes de Mendonça, Sampaio Bruno.
A vitória da bandeira verde-rubra é, pode dizer-se, a vitória da ala jacobina do republicanismo e consagra simbolicamente os princípios ideológicos e políticos da propaganda republicana.
O vermelho, herdado da bandeira do 31 de Janeiro, é a cor dos movimentos revolucionários e populares, marca indelével da matriz política democrática da tradição republicana.
O verde, herdado das bandeiras do 31 de Janeiro e do 5 de Outubro, é também a cor destinada por A. Comte aos pavilhões das nações positivas do futuro, como o relatório da própria comissão deixa transparecer. O verde marca assim a matriz ideológica positivista do republicanismo."
3. É a vida.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, setembro 11, 2009