quarta-feira, setembro 23, 2009
Balzac é torrencial, Balzac é um gozão, Balzac é um oráculo, Balzac é um cínico.
Lobo Antunes diz que Balzac é genial e diz que Victor Hugo lhe chamava um Homem-oceano.
Das últimas duas linhas do post anterior: "Mas, dentro de dez anos, um garoto saído da escola julgar-se-á um grande homem, subirá à coluna de um jornal para esbofetear os seus antecessores, para os puxar pelos pés e ocupar o seu lugar."
Ando, há vários dias, com uma história de Tonino Guerra na cabeça, nuvem de pó:
"No Vale das Crateras, uma ou duas vezes em cada cem anos, um vento, uma espécie de nuvem de pó, sopra do fundo da terra, e pelos funis enxutos das crateras sobe, lambendo como a língua dos gatos, por três dias, as casas e as faces dos habitantes daquele lugar. Então, todos perdem a memória: os filhos deixam de reconhecer os pais, as mulheres os maridos, as raparigas os namorados, as crianças os pais e tudo se torna um caos de sentimentos novos.
Depois cessa o redemoinho dentro das crateras e, lentamente, cada coisa volta ao seu lugar, não recordando ninguém o que, dentro da nuvem de pó, aconteceu nesses três dias."
Balzac ridiculariza jornalistas e críticos literários, envergonha-os, humilha-os, desnuda-os e depois tem pena deles, das suas figurinhas. E é caso para isso, olhemos para os da nossa praça, do público, do dn, do expresso, de revistas, raras são as excepções, pessoas que falam de livros, chegam mesmo a falar de livros concretos, com título autor e tudo, e depois vai-se a ver e é um bafo de ar, como escreveu Luís Fernando Veríssimo, a semana passada, do lado de lá em Zum
"- O senhor leu "Os Sertões", professor?
- Li!
- Inclusive a primeira parte? A parte chata?
O professor não tinha lido a parte chata. A Sandrinha provavelmente lera a parte chata, na diagonal, em meia hora. O professor não podia lhe conceder aquela vitória. Antes que ela dissesse "Eu li", ordenou:
- Por favor, pare de mexer nesse seu cabelo!
E encerrou o assunto.
O consenso na classe foi: mais uma vitória da Sandrinha. Que no primeiro dia de aula já tinha convencido o professor a deixá-la usar a camiseta com "Abaixo todas as calças!" escrito na frente."
Continua a ser entre todos os outros um país onde muitas muitas pessoas não conseguem dizer que não, se são convidadas olarila que lá vou eu, mesmo que... enfim, foda-se eu consigo, se consigo, em 48 ou 72 horas, oh, se consigo.
E depois há aqueles casos, exemplos?: quando se muda de governo, quando se muda de comissão executiva, quando se muda de seleccionador... há que mudar tudo, levam-se os discos rígidos ou temos de mudar tudo porque está tudo mal. Pois, Balzac, esbofetear.
Esbofeteie-se, uma pessoa vê o magote dos colegas, interessados, e, porventura, amigos a correrem pela rua acima todos suados e sisudos e despentedos e de mãos já apoiadas nos joelhos a dizerem espera aí, buff, espera aí, buff, que eles já vão ver, estamos aqui contigo, ah, se estamos, vamos dar cabo desses __________ invejosos.
Aos Gato Fedorento (como me dizia um amigo, dia destes, já parecem carregar o peso dos trinta anos de televisão de Herman José) tinha custado muito, no primeiro programa deste esmiúça, explicar, num minuto, à sua audiência, que o programa que iam ver dentro de momentos tem muito a ver com um programa americano chamado Daily Show que a sic-notícias transmite, e que eles gostam muito? Tinha custado muito? Acharam e deram por adquirido que os portugueses o sabiam? Não acham isso pior? Acho que é muito pior.
Há formas de fazer as coisas.
Não posso com aqueles programas à meia noite na dois, mas um dia destes passei por lá e estava Nilton a fazer uma rábula à Jay Leno, com aqueles recortes de jornais colados em pequenas cartões de cartolina, como se fosse ideia dele. Como só vi aquele minuto não sei se explicou aos portugueses que aquilo era inspirado no programa de tal do senhor fulano de tal. Será que o fez?
É que a figura que fez foi ridícula.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, setembro 23, 2009