segunda-feira, setembro 28, 2009
A edição de 2666 é um dos acontecimentos literários, e não só, do ano.
Simpatizo mesmo nada não com as pessoas que de alguma forma estão ligadas à edição de 2666, de Roberto Bolaño, ao seu modus operandi, mas quem anda por aí, estilo velho do restelo, mas em pior, a dizer mal de Bolaño e deste livro em particular, que ainda não li, anda a fazer uma figurinha triste, triste. Tão triste!
E ridícula, claro.
Digam mal de tudo mas não toquem no autor, haja decoro, tenham vergonha. Apontem, isso sim, críticas severas aos críticos, que as merecem, pois a maior parte do que escreveram sobre 2666 é medíocre; quem já leu livros de Bolaño, pelo menos em língua portuguesa, não pode dizer nem escrever apenas o que se disse e se escreveu, nem deixar de falar numa ou noutra pista, dadas noutros livros, em português também, em relação a 2666. Se não a deram é porque não a leram, ou leram mas na diagonal, porque a pista é muito preciosa.
Vejam agora a pirueta: eu tenho uma dessas pistas e vou deixá-la aqui, não agora, mas amanhã, ou depois, estava a dar tempo a Casanova mas ele... nada.
Repare-se nesta catadupa de dizeres escritos por diferentes pessoas para diferentes publicações, onde se chega mesmo a referir um amigo e executor testamentário que fala apenas numa pista para o título obscuro que 2666 representará, oh, céus, que não é a que tenho comigo, e que vocês também têm em casa, e portanto passam a haver duas, mais ou menos quase explícitas, dadas por Bolaño, em língua portuguesa, vamos então aos dizeres primeiro:
- Actual, Expresso #1925, de 19 de Setembro: aspectos biográficos e pouco mais; deste jornalista é difícil ler algo que seja mais do que medíocre;
- Jornal de Letras, Artes e Ideias, de 23 de Setembro a 6 de Outubro: vénia a Vila-Matas; o resto intitulado como mil e oito páginas de prazer é paisagem;
- ípsilon, sexta-feira, 25 de Setembro: aspectos bigráficos, a bolañomania internacional, generalidades sobre 2666, e depois esbocei um sorriso pois pensei que José Riço Direitinho tinha também chegado a um pouco de pólvora, mas não: quando escreve
"2666 permanecerá um título obscuro, a menos que os muitos apontamentos de Bolaño ainda por classificar, se encontre uma explicação. O executor testamentário e amigo do escritor, Ignacio Echevarría, assinala numa nota à edição do livro uma referência encontrada num anterior livro de Bolaño a uma avenida que se assemelha a um cemitério de 2666".
O sorriso desapareceu. Também não.
- jornal i, edição do fim-de-semana, 26/27 de Setembro de 2009: menos palavras, mais acertadas e uma proposta sensata: leia também...
E também nada.
- na internet, blogosfera, rien de rien, generalidades light de revista cor-de-rosa, exceptuando o que escreveu o leitor sem qualidades, especialmente o primeiro parágrafo.
É a vida.
Mas tão ridículo como os não críticos que acham que batem em tudo o que mexe é o sentimento de posse destes editores e do crítico do expresso/bibliotecário de babel, como se tivessem alguma responsabilidade para além daquela que têm. Chega a raiar o ridículo.
Gracq explica, tudo o resto, no A literatura no estômago. E Balzac, claro.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, setembro 28, 2009