terça-feira, setembro 15, 2009
Abomino, assim mesmo, o termo rentrée, não posso mesmo com a palavra, com o seu significado e com alguns fogueteiros que andam por aí, que não são em nada diferentes do trabalho que Júlia, José e Jorge mostram.
O que eles fazem aos livros, tenho pena de alguns autores, tais devem ser as voltas na tumba, é o mesmo que os canais de televisão quando sintonizados fazem às tardes e às manhãs de cada dia.
Será que podíamos continuar a viver sem a rentrée?
Irei assinalar então aqui a rentrée, com algumas das novidades, comecemos pela Assírio & Alvim, previstas para 24 de Setembro estão, cujas capas são uma maravilha:
Título: O VIAJANTE SEM SONO
Autor: José TolentinoMendonça
Colecção: Poesia Inédita Portuguesa
Ano de edição: 2009 / Tema, classificação: Poesia
Bicicletas
Por muito tempo amarei casas que existam apenas
para guardar uma bicicleta ou os remos de um bote
As casas interessantes não têm pretensão nenhuma
Estão perto de nós na hora necessária
mas a qualquer momento
com mais clareza
afastam-se das certezas que perdemos
e da imensidão que se avista de lá
Um velho provérbio diz:
Se deres um passo atrás, talvez te coloques a tempo
de uma estação clemente
para Jaume Sanahuja
Título: CAROÇO DE AZEITONA
Autor: Erri De Luca
Tradução do Italiano: João Pedro Brito
Colecção: Testemunhos
Este livro propõe uma série de pequenas reflexões sobre textos da Bíblia, resultantes da meditação quotidiana do autor. A partir de um verso bíblico lido, ouvido, analisado e dissecado na sua língua original, Erri de Luca traz a lume considerações sobre grandes temas que dizem respeito ao homem e a toda a humanidade. Das suas páginas emerge sobretudo o fascínio pela imensidão dos sentidos que se descobrem, mesmo quando se permanece apenas à superfície das palavras.
Título: O PENDURA
Autor: Jules Renard
Tradução e Apresentação: Aníbal Fernandes
Colecção: O Imaginário
Jules Renard (1864-1910), homem com uma vida curta de quarenta e seis anos, autor de um Diário de publicação póstuma que escorreu golfadas de lava devastadora (Jean d’Ormesson levá-lo-ia para a ilha deserta: «Não nos arriscaríamos ao tédio»); autor de Poil de Carotte e de Histoires Naturelles, autor de L’Écornifleur (O Pendura), na sua época acusado de «insulto a tudo o que é honesto», história de fundos naturalistas enfeitados por um humor cruel, as efervescências que amolecem o coração humano desfeitas nos meandros de uma invenção verbal de singular acidez. Setenta anos depois da sua morte, Jean Paulhan pôs num texto a frase que ele teria gostado de ler: «Exerceu na prosa a mesma espécie de atracção que Rimbaud e Mallarmé exerciam nos poetas».
Título: O CAMINHO DOS PISÕES
Autor: M.S. Lourenço
Edição: João Dionísio
Colecção: Documenta Poetica
Preparada ainda em vida do autor, esta edição reúne a obra poético-literária de M.S. Lourenço.
A olhar para poemas escritos há doze anos
E cuja autoridade se tem negado,
Sente-se que se mudou,
Que se é agora mais indulgente
Com esses imprecisos restos.
Escrevia-se poemas à Ulalume
Estimulando a impressão indefinida,
Insinuando um prazer vago.
A pedra continua imóvel e vê-se
Que não podia mover-se então.
Mas o tempo cura tudo:
Inúteis e pinturescos os nomes falsos,
Escrúpulos antigos!
Quando se amadurece,
O nó intrinsicado complica-se.
E assim a dúvida cresce de
Que se possa alguma vez conhecer
A ideia próxima de morte
Ou, lá fora, o barco a deslizar no rio.
Título: O SANGUE POR UM FIO — poemas
Autor: Sérgio Godinho
Desenhos: Tiago Manuel
Colecção: Poesia Inédita Portuguesa
Memória ao abandono
Memória ao abandono
a válvula do sono
aberta.
Desdobra panos
hélice, ela
a grande borboleta
se é por pousar
já pousou—
despejando o vento
na abertura do vulcão
encaminhando a lava
no sentido giratório.
Antes
tive medo de ter sono
agora
é planeta a planeta.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 15, 2009