quarta-feira, julho 29, 2009
Aquele ", pois," ali em baixo, na linha 9 "a mãe e a filha escutaram, pois, com uma pia atenção", é uma das maravilhas da nudez do que somos feitos e do que nos vamos fazendo. Aquele ", pois," é um Tratado.
Andemos.
Balzac escreve páginas e páginas acerca do dedicar-se à escrita enquanto escritor ou enquanto jornalista, faz a separação dos dois sem equívocos e mata aqueles que abdicando do sacrifício da escrita, enquanto tempo longo longo, querem passar os dias na crista da onda, ser e pertencer às páginas dos jornais. E explica, biblicamente, como se faz, ou não
"Lê Tasso de Goethe, a melhor obra desse grande génio, e verás que o poeta aprecia os tecidos ricos, as festas, os triunfos, o brilho: pois bem, sê o Tasso sem a sua loucura. A alta sociedade e os seus prazeres chamam por ti? continua connosco... Transporta para o domínio das ideias tudo o que exiges à tua vaidade. Loucura por loucura, inclui a virtude nas tuas acções e o vício nas tuas ideias; em vez de pensares bem e te comportares mal, como dizia d`Arthez."
também
"- Fora do mundo literário --disse o jornalista, levantando-se e dirigindo-se para a grande Avenida de l`Observatoire, onde os dois poetas passearam, como para melhor oxigenar os pulmões--, não existe uma única pessoa que conheça a horrível odisseia pela qual se alcança o que importa chamar, consoante os talentos, moda, voga, reputação, celebridade, aceitação pública, esses diferentes degraus que conduzem à glória e que nunca a substituem. Este fenómeno moral, tão brilhante, é composto por inúmeros acidentes que variam com tanta rapidez que não há exemplo de dois homens terem percorrido a mesma via. Canalis e Nathan são dois factos diferentes que não se repetirão. D`Arthez, que se mata a trabalhar, celebrizar-se-á por outra razão. Esta reputação tão desejada é quase sempre uma prostituta coroada. Sim, para as obras da baixa literatura, ela representa a pobre mulher que gela à esquina da rua; para a literatura secundária, é a mulher de casa posta que sai dos lugares mal frequentados do jornalismo e a quem eu sirvo de apoio; para a literatura de sucesso, é a brilhante cortesã insolente, que possui móveis, paga as contribuições ao Estado, recebe os grandes senhores, os trata e maltrata, possui criadagem, viatura e se pode dar ao luxo de fazer esperar os credores irados. Ah! aqueles para quem ela é, como para mim outrora, para si hoje, um anjo de asas matizadas, envergando uma túnica branca, exibindo na mão uma palma verde, uma flamejante espada na outra, resultante ao mesmo tempo da abstracção mitológica que vive no fundo de um poço e da pobre mulher virtuosa exilada num subúrbio, que só se enriquece com o brilho da virtude pelo esforço de uma nobre coragem, e regressa ao céu com um carácter imaculado, quando não perece maculada, ultrajada, violada, ignorada na carreta dos pobres; estes homens de cérebro coroado de bronze, de coração ainda quente sobre os túmulos de neve da experiência, são raros no país que vê aos nossos pés --disse ele, apontando para a grande cidade que se esfumava no declínio do dia."
Excelente artigo, de Martin Amis
"La edad aplaca al escritor. El destino más terrible de todos es perder la capacidad de dotar de vida a las creaciones de uno (las creaciones, en otras palabras, están muertas en principio). Otros novelistas simplemente se desenamoran del lector; esto es cierto en el caso de James, y también en el de Joyce (a quien, para empezar, nunca le importó demasiado el lector: lo que le importaban eran las palabras). Pero no en el de Updike, ni siquiera en estas páginas imprecisas y disipadas. Como se puede leer en algún poste de su adorado Estados Unidos rural (al acercarnos a algún pequeño y estoico municipio), aquí las historias están «densamente pobladas». Las creaciones de Updike viven, y el amor del autor es lo que las sustenta. Lo expresó de forma muy sencilla en A conciencia, su libro de memorias: «La imitación es un elogio. La descripción expresa amor». Ese amor, al menos, nunca llegó a debilitarse."
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, julho 29, 2009