A montanha mágica

quarta-feira, maio 27, 2009

Para Cada Um Sua Verdade







"Amália À sogra?
Sirelli Não, minha senhora, à mulher!
Senhora Cini (lamentosa) À chave!
Dina Estás a ouvir, tio? E tu que a queres desculpar!
Sirelli (estupefacto) Como? Tu querias desculpar o homem?
Laudisi Eu não pretendo desculpá-lo nem acusá-lo. Apenas digo que a vossa curiosidade é insuportável. Até porque é inútil.
Sirelli Inútil?
Laudisi Inútil, meus caros, inútil!
Senhora Cini Parece-lhe inútil uma pessoa querer saber a verdade?
Laudisi Saber a verdade? Mas que podemos nós realmente saber dos outros? O que são... Como são... O que fazem e porque o fazem.
Senhora Sirelli Porque não? Colhendo informações...
Laudisi Se há alguém que nessas condições devesse estar informado, é a senhora, com um marido como o seu, sempre ao corrente de tudo...
Sirelli (procurando interrompê-lo) Perdão, perdão...
Senhora Sirelli Escuta, querido, isso é verdade. (Voltando-se para Amália.) Mas, minha amiga, as coisas são assim: com um marido que se orgulha de estar a par de tudo, eu nunca consigo saber coisa nenhuma.
Sirelli Pois naturalmente. Ela nunca acredita no que eu lhe digo. Imagina que as coisas são sempre doutra maneira. Acha que não podem ser como eu as conto. Vai até mais longe: supõe que o contrário é que é verdade!
Senhora Sirelli Ah, pois... Se algumas das coisas que tu me contas...
Laudisi (rindo às gargalhadas) Ah! Ah! Ah! Dá-me licença, minha senhora? Eu é que vou responder ao seu marido: como queres tu, meu velho, que a tua mulher se satisfaça com o que lhe dizes se, como é natural, tu lhe mostras as coisas como as vês?
Senhora Sirelli O que quer dizer: como é impossível que sejam.
Laudisi Pelo amor de Deus, minha senhora, desculpe que eu a contradiga. Neste caso, não tem razão. Para o seu marido, acredite, as coisas são como ele as diz.
Sirelli Como na realidade elas são. Como são, nem mais.
Senhora Sirelli Disparate!... Tu contas cada história.
Sirelli És tu quem está enganada e não eu. Eu não.
Laudisi Não, não, têm razão os dois. Dão licença que o demonstre? Vou começar... (Levanta-se e vai para o centro da sala) Vêem-me bem os dois, não é? Estão a ver-me?
Sirelli É claro que sim.
Laudisi Não respondas tão depressa, caro amigo. Aproxima-te, aproxima-te..."


Luigi Pirandello (trad. Natércia Freire e Maria da Graça Azambuja), Para Cada Um Sua Verdade, Livrinhos de Teatro, Artistas Unidos/Cotovia, 2009.

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, maio 27, 2009

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São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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