A montanha mágica

terça-feira, março 17, 2009





José Tolentino Mendonça
in Página 1, 25.09.2008



"O Cântico das Criaturas

Muito se tem escrito sobre "O meu querido mês de Agosto" de Miguel Gomes. É um «road-movie» que nos destapa: leva-nos os olhos por esse Portugal dentro, o Portugal que não é a «west Coast of Europe» da promoção, mas um país antioceânico, de minúsculas enseadas fluviais, uma paisagem pétrea, indiscernível, incessante, com florestas e matas ameaçadas, como se, de alguma maneira, elas (e não nós) se tivessem tornado ocorrências lesivas. É um filme que nos leva pelos cabelos a ver Portugal: um país a que se acede pela camioneta da carreira, ainda de ritos, de ofícios manuais, de jornais de província, de feiras, cabisbaixas ou não, e datas para assinalar... Um país arcaico, onde o desassossego da condição humana se exprime no tom estático e impávido que têm os Autos ou que teve, um dia, o grande teatro grego.

Podemos dizer que o cinema re(a)presenta o que o olhar vê e essa espécie de devolução modifica, adensa, entreabre a própria realidade. Mas não de maneira unívoca, e esse é um traço fundamental nesta obra. O cinema de Miguel Gomes, por exemplo, não nos revela apenas um Portugal submerso, distante das rotativas do discurso dominante. Deixa-se tomar por ele. De repente, sentimos que o filme estremece por o vento nas folhas ser isso mesmo, pelas nuvens riscarem mesmo de silêncio o céu, pelo marulhar ingénuo da pequena cascata afinal se ouvir, pelo deslumbre incalculável de certos encontros acontecer...

Tomando este belíssimo objecto de Miguel Gomes percebe-se então mais fortemente a oportunidade perdida que a ficção televisiva, servida em horário nobre, tem sobretudo representado. Uma telenovela, rodada nos Açores, no Douro ou no topo dos edifícios da Expo, o que faz é desdobrar estereótipos, repetir, deslocar actores daqui para ali, recorrendo ao local como mero cenário. Como quando a televisão se diz aproximar do quotidiano o que frequentemente faz é simplificá-lo até à caricatura. Há uma ânsia de homogeneidade que é uma outra forma de impermeabilização e surdez.

Por alguma razão o que se escuta é tão decisivo em “O meu querido mês de Agosto”. Pode-se pensar que se trata apenas de um chorrilho de cançonetas. A mim pareceu-me, antes, uma actualização, irónica e desesperada, do Cântico das Criaturas."






de: O Som e a Furia (oseafuria@gmail.com)

"AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO, a aplaudida segunda longa-metragem do realizador Miguel Gomes estreada entre nós no Verão passado, foi distinguida no Festival de Cinema de Las Palmas onde recebeu o prémio Lady Harimaguada de Prata, e também o prémio José Rivero, atribuído ao Melhor Novo Realizador.

Entretanto, o filme foi também seleccionado para a competição do Festival de Guadalajara, o mais importante certame de cinema do México, que se realiza naquela cidade de 19 a 27 de Março próximos.

Recorde-se que esta selecção acontece depois de uma impressionante carreira de festivais, de onde se destacam a Quinzena dos Realizadores, em Cannes (onde, aliás, o filme fez no ano passado a sua estreia mundial), o Festival de Valdivia no Chile, onde alcançou o prémio para Melhor Filme Internacional, a mais importante distinção aí atribuída, e o Prémio da Crítica, a Viennale – Festival Internacional de Viena, onde recebeu o prémio FIPRESCI, o Festival de São Paulo (Prémio da Crítica), e o Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, onde arrecadou o Prémio Especial do Júri, Prémio da Crítica, Prémio dos Cineclubes e Prémio do Público.

Mas a digressão de AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO não pára por aqui, tendo já garantido a sua presença no Festival de Cinema Independente de Buenos Aires, na Argentina (25 Março-6 Abril), Festival de Cinema de Wisconsin (2-5 Abril), Festival de Cinema de São Francisco (23 Abril-7 Maio), Festival de Cinema de Los Angeles (18-28 Junho), e os Festivais de Cinema de Auckland (10-27 Julho) e de Wellington (18 Julho-3 Agosto), ambos na Nova Zelândia.

Uma co-produção O Som e a Fúria e Shellac Sud, AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO é um filme sobre o que significa viver no coração de Portugal. Simultaneamente uma colectânea de canções e uma compilação de ambiências próprias de Agosto, o mês em que a Beira Serra renasce para os encontros e as festas. Demonstração de fulgor que Miguel Gomes retrata através da simbiose dos géneros documentário e ficção.


O SOM E A FÚRIA
R. Soc. Farmacêutica, 40 – 3 Esq
1150-340 Lisboa, PORTUGAL"

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, março 17, 2009

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