terça-feira, fevereiro 10, 2009
no valor "ideal" das coisasJá tinha passado pelo meio das estantes quando me aproximava da porta tanto de entrada como de saída, uma porta, parei, voltei para trás e vi Nostronomo Uma História da Beira-Mar, de Joseph Conrad, um dos acontecimentos do mês de Fevereiro, também das prateleiras portuguesas.
A Dom Quixote cataloga-o Colecção: FICÇÃO UNIVERSAL; parabéns à Dom Quixote pela reedição. Fica aqui um fragmento da edição de 1994.
Conrad no prefácio: "De entre os romances mais longos do período que se seguiu à publicação do livro de contos intitulado Tufão (1), Nostromo foi aquele que mais inquietas reflexões me suscitou.
Não quero com isto dizer que tivesse tomado consciência nessa altura de alguma transformação iminente no meu pensamento e na minha atitude para com este meu ofício de escritor. E talvez essa metamorfose não tenha sequer ocorrido, a não ser em relação a uma realidade exterior e misteriosa que nada tem a ver com as teorias da arte: uma mudança subtil na natureza da inspiração, um fenómeno pelo qual não posso de modo algum ser responsabilizado. O que, porém, me deixou de certo modo preocupado foi a impressão de que, uma vez terminada a última história do volume intitulado Tufão (2), não havia, por assim dizer, mais nada neste mundo sobre o que valesse a pena escrever.
Esta sensação, tão estranha e ao mesmo tempo tão inquietante, perdurou em mim por algum tempo; até que, como aconteceu com tantas das minhas histórias mais longas, a primeira achega para Nostromo surgiu com uma dessas histórias que correm mundo, sem o mínimo detalhe de valor.
Na verdade, foi em 1875 ou 76, quando, ainda muito novo me encontrava nas Índias Ocidentais, ou melhor, no Golfo do México, pois os meus contactos com terra eram breves, escassos e fugazes, que ouvi contar a história de um homem que, segundo se dizia, teria roubado sozinho uma barcaça carregada de prata, algures na costa de Tierra Firme, durante uma revolução.
(1) 1903
(2) «Amanhã»."
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, fevereiro 10, 2009