segunda-feira, dezembro 29, 2008
quinto capítulo da segunda parte (3/3)Anselm Kiefer, Naglfar, 1998.Quando comecei esta série de três tinha como objectivo a leitura quase imediata de "O mundo religioso de dostoievski", de Romano Guardini, edição portuguesa da editorial verbo, de 1973, que tive a sorte de poder comprar e trazer para casa num dia, de deambulações alfarrabistas, deste ano que agora está quase a chegar ao fim, mas outro quase a começar.
Diário de Um Mau Ano, de J.M.Coetzee, tão mal tratado nas apreciações e interpretações que pelos nossos jornais se fazem, um dos melhores livros que li este ano, foi quem me fez ver o que podia e devia fazer cá no blog e colocar à disposição, em língua portuguesa, na rede, três textos, ou partes, desta dimensão.
O tempo foi andando e também consumindo-se com esta ideia na cabeça de terminar o que havia começado, e é para isso que estou aqui agora mas não como devia estar: com o livro lido e as citações mais do que escolhidas e bem tratadas, não foi isso que consegui, não é isso que vai acontecer.
Mas a página não ficará branca ou verde, se quiserem. É uma discussão de ir às lágrimas, como muito bem diz Coetzee. Aqui ficou em três partes, pode ser que...
Agora Romano Guardini, ainda que muito breve:
"Aliocha Karamazov
Aliocha é o diminutivo de Alexei Fedorovitch Karamazov e há um significado especial no facto de todos o tratarem assim, mesmo os estranhos, pouco tempo depois de o conhecerem --embora ele não seja o género de pessoa cujo temperamento sugira um diminutivo. «Aliocha» não se limita portanto à qualidade de simples diminutivo, mas implica alguma coisa de mais profundo. Sabe-se que este jovem é diferente dos restantes. Ele vem de outros lugares, é estranho, e no entanto ganha logo a confiança dos que o rodeiam.
[...]
Ivan Karamazov
Quem é este homem estranho que faz nascer do seu mundo interior esta poesia [Poema do Grande Inquisidor] reveladora e simultaneamente desconcertante?
[...]
«Sobre o mais velho, Ivan, digo apenas que cresceu como um rapaz reservado e pouco comunicativo, muito longe de ser tímido; mas era como se desde a infância tivesse a sensação [...] de que o pai era uma pessoa de quem se devia ter vergonha de falar. Logo desde a primeira infância (pelo menos é o que se conta) Ivan deu provas de uma inteligência invulgar e brilhante.» Quando foi para a universidade, nem sequer fez a tentativa «de pedir por carta ao pai qualquer auxílio para os estudos --talvez por amor-próprio ou por desprezo, ou talvez por ver fria e claramente que do pai não era de esperar qualquer auxílio. Seja como for, o rapaz não se atrapalhou e conseguiu logo arranjar trabalho e dinheiro necessário para se manter. Primeiro a vinte copeques a hora e depois escrevendo crónicas de dez linhas para os jornais, referentes a acontecimentos da rua e assinados: «Uma testemunha ocular.» Diz-se que estas crónicas eram escritas de forma tão brilhante e singular que em breve começaram a ser pagas principescamente.»"
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, dezembro 29, 2008