terça-feira, dezembro 30, 2008
Imenso Poeta da Cena
26.12.2008 - Jorge Silva Melo
Steve Forrest/Insight-Visual for The New York Times
Harold Pinter in his writing studio in London in 2007"Não tinha apenas um ouvido afinadíssimo para os perigos que se escondem nas palavras banais, não tinha apenas um gosto acutilante pela escassez dos meios, tinha o génio luminoso de encurtar caminhos, abrir fendas, descobrir malentendidos, revelar suspeitas, cruzar tempos passados e mentiras: Harold Pinter é um dos maiores poetas do teatro (e não é de agora; é de sempre). E se digo "poeta" é porque ele insistiu na língua como coração da acção teatral, e na língua encontrou aquele seu extraordinário pêndulo que oscila entre a aparência e outra aparência, a inquietação e a outra memória.
Escritor sucinto, filho da fenomenologia dos Assassinos de Hemingway (que, rapaz, leu, misturando-lhe o Molloy de Beckett), escritor que nunca se extraviou, lento, reconhecível em qualquer linha, intraduzível, de tal forma a sua arte (volto ao adjectivo: poética) se funda nas virtualidades da língua, foi o encenador exacto dos seus textos (mesmo quando não os dirigiu). Com efeito, é difícil escapar às suas indicações, impossível contrariar em cena o local onde prevê os móveis - ou colocar noutro aparador as inúmeras bebidas das suas peças. Meticuloso, imensamente simples, pragmático, acreditou num teatro que é o corpo vivo da palavra na sua forma mais banal, o diálogo.
Intraduzível, é uma enorme alegria traduzi-lo. E são grandes tradutores os que permitiram que o seu teatro (tão inglês como o de Shakespeare, décadas de poesia depois) entrasse pelas grandes cenas do mundo. Grandes intérpretes ousaram ouvir-lhe os silêncios estranhos e a febril quebra que trazem ao diálogo. Poucos, no entanto, os encenadores de nome-a-defender que ousaram dedicar-se-lhe (como a Beckett em vida?), pois encená-lo é obedecer-lhe, seguir-lhe a contradança das propostas, é impossível sobrepor ao seu o intermediário gesto dos comissários de gosto: Pinter enche o palco na primeira pessoa, consegue sempre estar lá, ele e os seus actores.
Agora que se fecha a sua aventura - ele que tão atento foi às mudanças da nossa vida até mesmo agora, até ao genial Apart from That de 2006 (que se pode ver no youtube) - que temos de fazer, aqueles, poucos e bem aventurados, que ainda pensam que no centro do palco, explosiva, havia de romper a palavra? Fazê-lo, sim, montar-lhe as peças, sim.
Mas sobretudo escrever. É que, generosa, a escrita de Pinter incita à escrita, não paralisa, não impede o novo gesto. E isso o disseram claramente Sarah Kane ou Spiro Scimone, Jon Fosse, Juan Mayorga ou David Harrower, os meus amigos.
E quem o quiser ver claramente, é pegar no recém-publicado Teatro de José Maria Vieira Mendes (Cotovia) e ver como até nesta longínqua parvónia, a sua ampla escrita ecoa, informa, se prolonga e reformula: vive.
(E pensar que apenas duas vezes se viu Pinter nesses nossos Teatros Nacionais, uma, em 1967, ainda com Amélia e pela mão de Artur Ramos; outra, em 1978, na Sala Estúdio e pela mão de Graça Lobo, a incorrigível!)"
Apart From That (Harold Pinter)
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, dezembro 30, 2008
O FCC09 apresenta o primeiro Encontro Nacional de Bloggers de Cultura e/ou Criatividade!!
Este evento, a realizar no dia 08 de Fevereiro de 2009, inserido nas actividades do FCC09 tem por objectivo, reunir a comunidade de criadores de blogues, relacionados com as áreas do Património, Museus, Arte, Cultura e Indústrias Criativas, e criar um espaço informal de debate, discussão e partilha de ideias e experiências.
O registo como Blogger pode ser feito no nosso site, em Escreva-nos/Registo, e dá direito a um "Pass Blogger", que permite a entrada gratuita em todos os dias do TEMPUS e da CONCEPTA.
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