A montanha mágica

quinta-feira, setembro 25, 2008

as raízes do olho estão no coração (3)





fotograma de Young Mr. Lincoln, de John Ford




"O Estado em nós

Aqui temos um dos aspectos que desapareceram. Esse profundíssimo sentido de o Estado encarnar a soberania e ser portador do direito tem-se esfumado cada vez mais. Mas, com isto, desapareceu também o carácter pròpriamente político do Estado. Cada vez se impõem com maior força os objectivos puramente económicos. E o Estado converte-se em protector de assuntos meramente privados. Vai perdendo constantemente o que o seu carácter público lhe outorga: ser lugar-tenente de Deus na ordem natural.
Ser político significa ter vitalmente impresso no sangue o que o Estado significa. Ser político significa querer a soberania. Está bem que uma pessoa se preocupe pelo que há de útil na vida, pela economia e pelo trabalho ordenado, mas é necessário descobrir em tudo o íntimo sentido do direito. O político luta pela soberania e pelo direito. Procura torná-los efectivos através de todos os objectivos e utilidades e, se fosse preciso, mesmo em detrimento deles. Todo aquele que tem sentido político não pode deixar de reparar com verdadeira preocupação, com veemente angústia, como se vai perdendo a soberania do Estado. Ele bem pressente que se avizinha um mundo em que não se poderá respirar, um mundo regido por uma violência calculadora, que é a caricatura da soberania, e uma ordem social protectora da economia, mas destruidora de toda a dignidade, que é a caricatura.
Poder-se-ia objectar contra a nossa tese com o argumento de que os Estados sempre roubaram ou destruíram. É verdade. Os Estados também estão sujeitos ao pecado original. Mas antes existia a consciência daquilo que chamei «sentido do Estado»; distinguiam-no do seu objecto, mesmo que cometessem algum crime contra ele. Mas agora é esse sentido que ameaça ruína total. A soberania do Estado está a perder-se. Não pretendo dizer com isto que o Estado não tenha poderes externos. Mas há outra força, que radica precisamente na própria soberania, que depende de esta soberania se manter viva na alma e ser tomada a sério pelos homens. Só nessa altura estes sentem as suas responsabilidades. Más é precisamente isto que está a desaparecer. Já não se concebe essa soberania. O Estado situa-se na mesma linha de uma sociedade anónima. Não há quem o leve a sério. Passa-se por cima dele. Desprezam-se as leis. Não só as violam, o que sempre aconteceu, mas desprezam-nas muito simplesmente, não as têm em conta."



Romano Guardini (trad. Ruy Belo), Cartas de Formação, Editorial Aster, Lda, Lisboa, 1960.


posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, setembro 25, 2008

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Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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