segunda-feira, junho 23, 2008
Não posso estar mais em desacordo com o que escreveu Luís Miguel Oliveira sobre o novo Shyamalan que anda por aí:
"Como quase sempre em Shyamalan, a preparação é melhor do que o desenvolvimento, e a angústia das cenas iniciais é o melhor que o filme tem. Mas, como noutras ocasiões ("Sinais"), o apocalipse é um "macguffin" - serve para isolar uma história de amor conjugal, a das personagens de Mark Wahlberg e Zooey Deschanel (reminiscentes de Bruce Willis e Sean Wright em "O Protegido), espécie de último par num Éden virado do avesso. É menos interessante do que o princípio, e o final, redondo e místico (marca Shyamalan), é bastante saloio. Mas há "flashes", mesmo nesta segunda parte: uns planos da natureza, árvores e vento (como se Shyamalan tivesse andado a ver Griffith e Sjostrom em vez da habitual dieta hitchcocko-spielberguiana), certos silêncios, certos vazios. Estava na hora de Shyamalan começar a filmar argumentos de outros, tão poucos "shyamalanescos" quanto possível. A ver se o seu talento deixa de estar sufocado pela beatice da sua "visão do mundo"."
Em desacordo por dois ou três motivos:
1) quando alguém tem uma ideia forte, um imaginário, uma visão de, crente, ok, e lhe dá forma criando um estilo (quando escrevo ou digo estilo lembro-me sempre de Os Passos em Volta). Parece que ser crente é cada vez mais uma atitude inacreditável.
2) quando alguém não se acanha, perante os críticos e perante outros, de o dizer e de o mostrar porque sabe que está debaixo de um sistema de valores que não é melhor nem pior mas que está no topo da pirâmide.
3) Flannery O`Connor diz a certa altura: "Para ser grandes narradores de historias necesitamos medirnos con algo, y esto es lo que a todas luces nos falta en esta época. Ahora los hombres se juzgan a sí mismos por lo que se encuentram haciendo." Mais: "Desgraciadamente, cuando se encuentra a un católico leyendo la Biblia, suele tratar-se de una persona instruida, pero en el sur también la conocen los ignorantes, y ese mythos que los pobres tienen en común es el bien más precioso del escritor. Cuando los pobres tienen una historia sacra común, mantienen lazos con lo universal y lo sagrado, y esto permite realzar el sentido de cada una de sus acciones y contemplarlo a la luz de la eternidad."
4) "isolar uma história de amor conjugal"? "beatice da sua "visão do mundo"? "e o final, redondo e místico (marca Shyamalan), é bastante saloio"?
4.1.) não vi nada que corresponda a essa adjectivação.
posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 23, 2008