quarta-feira, maio 21, 2008
"e se cada um se emendar a si, já o disse um sábio, que teremos logo o mundo todo reformado: e melhorar assim o nosso Reino, é o que pretendemos."
Um dia, um professor, mestre, disse-nos, não éramos muitos apenas alguns, e ainda assim, para quem quis ouvir, que nós, os portugueses, éramos os mais descontentes dos descontentes, dos indo-europeus que só pararam quando o mar encontraram. Muitos partiram muitos ficaram outros chegaram. E cá estamos.
Vou tentar algo, já se vê, sobre a estabilidade normal legitimada por escolhas que em princípio seriam mais ou menos de curta duração mas ainda assim de não tão curta do desempenho e ocupação de cargos num país que só pensa em cargos e em medalhas e nas pessoas que os podem ou devem ou deveriam ocupar e que começam invariavelmente com discursos que mais não são do que mais ou menos uns outros melhores e outros piores. Mas vou primeiro ali a Espanha.
Então não é que mesmo aqui ao lado, no maior partido da oposição, há um líder que já resistiu a duas derrotas em outras tantas legislativas? É estranho. Como é que Mariano Rajoy, e o partido que governou Espanha durante dez anos, aguenta ter a mesma cabeça de partido estando na oposição? Percebemos mal, por cá, tal fenómeno. Também é preciso merecer, saber o que se anda a fazer, saber estar num sítio sem sentir muitas fobias, nem sentir que se está num arraial. Neste momento, no psd, já há cinco, e já haverá outros tantos a pensar por que não?
Em Portugal, claro que podíamos ir ali a correr buscar Unamuno... Portugal é um país de... mas não vale a pena, ainda não foi possível chegar a esta gravitas de ser e de estar na oposição e de se ser respeitado, e se dar ao respeito, por isso. Responsabilidades?
Desconfio sempre daqueles que se riem da má organização ou miséria dos vizinhos. No entanto, eles vicejam e medram por aí. É vê-los todos sorridentes e com tanta confiança no futuro, sem tempo para nada e sem nada fazer ou pouco mais.
Não seria mal pensado, uma temporada a burros de ouro...
O que seria das sic-notícias, das tsfs, dos comentadores revisonistas em directo, de muitos cronistas etc.? Sim, claro, pois, a responsabilidade é de todos. A longa duração não oferece circo todos os dias, é? Também é certo que uma licenciatura em Direito é quase sinónimo de... Ai Péricles! Ai Sócrates!
O exemplo é clássico, mas utilizado já há muito: em 34 anos de democracia, vá lá, quantos primeiros e outros ministros tivemos? E aqui ao lado? Nós somos nós e eles são eles, está claro, dizem alguns, mas é preciso deixarmos de ser tão rústicos.
É difícil fazer a conta no país engalanado dos discursos: de facto, nessa matéria, é assim, blá,blá,blá,blá.
Unhas?
"Em Ouguela, lugar de Alentejo, entre Elvas e Campo Maior, há uma fonte cuja água não coze carne nem peixe, por mais que ferva. E na Vila do Pombal, perto de Leiria, há um forno, em que todos os anos se coze uma grande fogaça para a festa do Espírito Santo; e entra um homem nele, quando mais quente, para acomodar a fogaça, e se detém dentro quanto tempo é necessário, sem padecer lesão alguma do fogo, que cozendo o pão não coze o homem. E pelo contrário na Tapada de Vila Viçosa, retiro agradável da grande Casa de Bragança, adverti uma coisa notável, que haverá mais de dois mil veados nela, que todos os anos mudam as pontas, bastante número para em pouco tempo ficar toda a Tapada juncada delas; e no cabo não há quem ache uma. Perguntei a razão ao Senhor D. Alexandre, irmão de El Rei nosso Senhor, grande perscrutador de coisas naturais. E me respondeu, o que é certo, que os mesmos veados em as arrancando logo as comem. Mais me admirou que haja animais, que comam, e possam digerir, ossos mais duros que pedras!" (epígrafe e citação da Arte de Furtar Espelho de Enganos. Teatro de Verdades)
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, maio 21, 2008