quinta-feira, março 06, 2008
"Ele não o revelou, mas é bastante provável que a citação que Nick Cave, em «We Call Upon the Author», confessa ter feito do seu amigo Sebastian Horsley seja: «He said: everything is messed up round here, everything is banal and jejune, there`s planetary conspiracy against the likes of you and me is the idiot constituency of the moon.» O tiro até poderá errar o alvo, mas assentaria como uma luva ao extravagante «dandy», cultor do deboche, «socialite», alcoólico, pintor, escritor, «junky», cronista e «performer» que se gaba repetidamente de, dos 16 anos aos actuais 45, ter «consumido» mais de mil prostitutas («das de 20 libras do Soho às de mil, já dormi com todas as nacionalidades, em todas as posições») e que publica e descomplexadamente, teoriza sobre o assunto: «De todas as perversões sexuais, a monogamia é a menos natural. Recordo-me bem da primeira vez que estive com uma prostituta, ainda tenho recibo. Tanto quanto me apercebi, a rapariga estava viva. As piores coisas da vida são gratuitas. O valor exige uma etiqueta com o preço. Como poderíamos respeitar uma mulher que não se atribui um valor? Uma prostitura existe fora do ´establishment`. Porque é rejeitada ou porque a ele se opõe. Ou ambas as coisas. É preciso coragem para pisar este risco. Merece o nosso respeito, não o nosso castigo. E, de certeza, nunca a nossa piedade ou as nossas orações. O sexo é uma das coisas mais saudáveis, maravilhosas e naturais que o dinheiro pode comprar.»
Oscar Wilde-de-sarjeta filho de milionário mas não menos citável que o modelo original, Cave conheceu-o em 1995, quando julgou aperceber-se que a sua namorada da altura se encontrava com ele: «Fui a casa dele com a ideia de lhe cortar os dedos ou coisa parecida. Toquei à campainha e um homem de fato de veludo cor-de-rosa pálido abriu a porta. Nessa altura, compreendi que as minhas preocupações não tinham fundamento. Convidou-me a entrar, conversámos sobre arte e literatura e rapidamente se tornou claro que partilhávamos outros interesses que não a minha namorada.» Em Agosto de 2000, o ateu Horsley viajou até às Filipinas para se fazer crucificar, como método expedito de inspiração para uma série de quadros sobre a Paixão de Cristo. Já com os pregos de dez centímetros cravados (sem anestesia) nas mãos, o apoio dos pés soltou-se, e Sebastian só por pouco não teve o fatal destino histórico... mas sem o bónus três dias depois. Em Setembro do ano passado, publicou a autobiografia Dandy in the Underworld, recebida com críticas, previsivelmente, divididas e extremadas."
João Lisboa in Actual do Expresso da semana passada numa reportagem sobre o novo «Dig, Lazarus, Dig!!!» de Nick Cave.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, março 06, 2008